Sem Iúri Leitão, Portugal vai “pedalar menos” nos Mundiais?

A selecção portuguesa decidiu abdicar do medalhado em Paris, fora da forma ideal após doença. A boa notícia é que ter uma dupla como os gémeos Oliveira não é coisa de se desdenhar.

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Iúri Leitão e Rui Oliveira em prova em Paris JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA
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Para os Mundiais de ciclismo de pista que arrancam nesta quarta-feira, em Ballerup, Portugal decidiu que não vai levar Iúri Leitão, duplo medalhado nos Jogos Olímpicos de Paris. Se estes Mundiais fossem uma anedota a envolver crianças e bicicletas, poderíamos dizer: “Mãe, agora sem Iúri”.

É que aquilo que Portugal pode fazer na Dinamarca é bastante diferente com e sem Leitão. Estamos a falar do ainda campeão do mundo de omnium e de um duplo medalhado em Paris: prata no omnium e ouro no madison.

O ciclista minhoto teve uma virose há algumas semanas e o momento de forma pós-doença não terá convencido Gabriel Mendes, seleccionador nacional.

Curiosamente, a ausência de Leitão até parece facilitar ao seleccionador a habitual retórica de não se comprometer com metas específicas. Nestes Mundiais, Leitão já não iria apenas como campeão do mundo, mas também como duplo medalhado olímpico há pouco mais de dois meses. Não havia como não colocar o minhoto na luta pelas medalhas.

Sem Iúri, Gabriel Mendes pôde manter a retórica habitual. “O nosso objectivo é apresentarmo-nos da melhor forma para obter os melhores resultados e se conseguirmos chegar a lugares de pódio, excelente, vamos trabalhar para isso. Mas é sempre incerto. Muitas vezes, nas provas de endurance, há sempre um certo grau de imprevisibilidade”, apontou à Lusa.

Nada de novo, já que, antes dos Jogos Olímpicos, só a muito custo o seleccionador acabou por apontar ao PÚBLICO o objectivo de um diploma em Paris – e já essa meta “tresandava” a gestão de expectativas, como acabou por se confirmar com o sucesso do português.

Gémeos Oliveira não são estranhos

Mas há algo que pode voltar a dar ao seleccionador um cenário de previsão demasiado modesta. É que, apesar de não ter Iúri Leitão, Portugal leva os irmãos gémeos Rui e Ivo Oliveira.

O primeiro foi o que ganhou o ouro do madison a meias com Iúri Leitão. O segundo é um medalhado em Mundiais na vertente de perseguição – prova que não entra na competição olímpica.

É certo que os irmãos não têm competido muitas vezes juntos em provas oficiais nos últimos meses, mas já tiveram alguns resultados relevantes como dupla, nomeadamente em Europeus. E são, em teoria, duas pessoas que se conhecem bastante bem e com uma ligação emocional sempre relevante em esforços conjuntos.

“O meu irmão também deveria estar aqui. E tenho orgulho de o representar a ele. Houve momentos em que pensei não vir aos Jogos e dar o lugar ao meu irmão, que passou momentos difíceis, se calhar mais do que eu”, disparou Rui Oliveira no velódromo de Paris, emocionado, após o ouro olímpico.

São os favoritos? Nem por isso. Mas ninguém ficará de boca aberta com uma medalha na casa da família Oliveira.

"Tata" Martins já ganhou medalhas

A completar o trio masculino vai o jovem Diogo Narciso, que já esteve envolvido no projecto olímpico, pelo que, apesar da menor tarimba, está longe de ser uma escolha de recurso.

Daniela Campos e Maria Martins também vão à Dinamarca. A primeira não carrega um peso demasiado elevado, já que não é de primeira água no panorama mundial da pista – e até esteve em Paris na vertente de estrada.

Já "Tata" Martins terá outro tipo de responsabilidade. A ciclista de 25 anos não teve o dia mais feliz no omnium olímpico (14.º lugar), mas já tem na sua estante medalhas em Mundiais, no omnium e no scratch – vai disputar ambas as provas, bem como a eliminação.

A medalha de bronze no omnium, em 2022, foi um momento fulcral para a atleta, não apenas como um bom resultado, mas como um projecto desportivo sólido. Como o PÚBLICO detalhou neste texto, foi essa medalha que permitiu que "Tata" Martins recebesse a bolsa olímpica máxima (1750 euros) durante o ciclo olímpico, apesar de não ter tido resultados de primeiro nível após essa conquista.

Serve este aparte para explicar que a atleta portuguesa até pode não estar no topo de favoritismo pelos resultados alcançados recentemente, mas que traz uma bagagem de 2020 e 2022 que a coloca como legítima candidata a qualquer coisa, até pelas condições de trabalho que conseguiu garantir para si própria.

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