Golfinhos também podem estar a respirar microplásticos, além de os ingerir

Estudo conclui que golfinhos podem estar expostos a microplásticos potencialmente nocivos, não só por ingestão, mas também por inalação. Capacidade pulmonar superior do animal pode ser um problema.

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Golfinhos avistados durante um passeio de barco à volta da ilha do Faial Daniel Rocha
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Um estudo norte-americano publicado nesta quarta-feira, na revista científica PLOS ONE, sugere a possibilidade de os golfinhos estarem a ser expostos a microplásticos nocivos através da respiração.

Devido à sua capacidade pulmonar superior e, portanto, inalação em maiores quantidades, pode haver mais consequências adversas neste animal face ao ser humano. As partículas encontradas foram, maioritariamente, poliéster.

O estudo conduzido por vários investigadores da Faculdade de Charleston, na Carolina do Sul, EUA, detectou várias partículas de microplásticos no ar exalado por golfinhos-roazes selvagens. Até ao momento, a contaminação com estes agentes nocivos estava particularmente ligada à sua ingestão.

“Nos últimos tempos, temos vindo a explorar a componente da ingestão, encontrando microplásticos no conteúdo estomacal [dos golfinhos] e em peixes de presa. Agora é altura de explorar outra via de exposição primária”, explicam as autoras Leslie B. Hart e Miranda K. Dziobak, citadas num comunicado sobre o estudo.

A contaminação por microplásticos tem sido associada a diversos impactos negativos na saúde, nomeadamente ao stress oxidativo, relacionado com a regeneração e envelhecimento da pele, e às inflamações.

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Registos da investigação com 11 golfinhos Todd Speakman/National Marine Mammal Foundation

O trabalho First evidence of micro plastic inhalation among free-ranging small cetaceans mostra provas de contaminação nos 11 golfinhos estudados. Foram analisados cinco golfinhos-roazes (a espécie mais conhecida) da baía de Sarasota, na Florida, e outros seis na baía de Barataria, no Luisiana.

A análise foi feita através de ar recolhido com dispositivos colocados sobre ou imediatamente acima do espiráculo de cada golfinho no momento de expiração. Todos os golfinhos apresentaram pelo menos uma partícula suspeita de microplásticos, o que incluiu fibras e fragmentos de polímeros de plástico.

Os polímeros de plástico podem ser compostos por diferentes materiais, o que pode facilitar a identificação do provável foco de poluição. Neste caso, o polímero mais encontrado foi o poliéster, um dos componentes mais comuns no vestuário. O poliéster é libertado no uso normal, mas especialmente, em quantidades exorbitantes, quando a roupa é lavada.

Hart e Dziobak realçam que foram estudados golfinhos de um estuário urbano e de um estuário rural e que os microplásticos foram encontrados em ambos os locais, demonstrando “que os microplásticos estão em todo o lado, independentemente da urbanização e do desenvolvimento”.

Além da confirmação da existência destes componentes nos golfinhos através da inalação, o estudo acrescenta que os níveis de microplásticos presentes são superiores aos dos humanos. Isto pode ter que ver com o facto de os golfinhos terem uma capacidade pulmonar muito grande e respirarem profundamente, pelo que podem inalar doses muito mais elevadas”, como explicaram as autoras em comunicado.

Estes mamíferos possuem pulmões com uma capacidade de armazenar oxigénio significativamente maior do que a dos humanos, o que lhes permite fazer mergulhos prolongados e maximizar o uso do oxigénio durante a apneia.

Nesse sentido, também não será difícil presumir que através de uma maior inalação, os danos podem, também, ser maiores. Os estudos já realizados em humanos mostram que a inalação de microplásticos pode provocar inflamações pulmonares e problemas respiratórios. Logo, se os golfinhos estiverem a inalar doses elevadas de plástico, poderão ser ainda mais vulneráveis a estes impactos na saúde, concluem as autoras.

Questionadas sobre os próximos passos, Hart e Dziobak sublinharam a importância de continuar a investigação para tentar quantificar os graus de exposição por inalação a vários e diferentes tipos de microplásticos.