A “era da electricidade” chegará após pico iminente dos combustíveis fósseis, segundo a AIE

Agência Internacional de Energia prevê que procura mundial de petróleo atingirá o seu pico antes de 2030. O crescimento da procura de GNL será ultrapassado pelo crescimento da capacidade até 2030.

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Carregamento eléctrico de um veículo automóvel Witthaya Prasongsin/GettyImages
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O mundo está à beira de uma nova era da electricidade, com a procura de combustíveis fósseis a atingir o seu pico no final da década, o que significa que os excedentes de petróleo e gás podem impulsionar o investimento em energia verde, disse a Agência Internacional de Energia esta quarta-feira.

Porém, no comunicado que acompanha o relatório anual da agência é assinalado um elevado nível de incerteza, uma vez que os conflitos envolvem o Médio Oriente e a Rússia, países produtores de petróleo e gás, destacando-se ainda que os países que representam metade da procura global de energia têm eleições em 2024.

“Na segunda metade desta década, a perspectiva de uma oferta mais ampla - ou mesmo excedentária - de petróleo e gás natural, dependendo da evolução das tensões geopolíticas, levar-nos-ia a um mundo energético muito diferente”, afirmou o director-executivo da AIE, Fatih Birol, citado no comunicado.

O excesso de oferta de combustíveis fósseis conduziria provavelmente a preços mais baixos e permitiria aos países dedicar mais recursos às energias limpas, conduzindo o mundo a uma “era da electricidade”, afirmou Birol.

Incertezas e pressões das guerras

A curto prazo, existe também a possibilidade de redução da oferta se o conflito no Médio Oriente perturbar os fluxos de petróleo. Segundo a AIE, estes conflitos evidenciam a pressão sobre o sistema energético e a necessidade de investimento para acelerar a transição para “tecnologias mais limpas e mais seguras”.

Segundo a AIE, o ano passado foi atingido um nível recorde de energia limpa a nível mundial, incluindo mais de 560 gigawatts (GW) de capacidade de energia renovável. Prevê-se que em 2024 sejam investidos cerca de 1,8 biliões de euros (2 triliões de dólares) em energias limpas, quase o dobro do montante investido em combustíveis fósseis.

No seu cenário baseado nas actuais políticas governamentais, a procura global de petróleo atinge um pico antes de 2030, com pouco menos de 102 milhões de barris/dia (mb/d), e depois cai para os níveis de 2023 de 99 mb/d até 2035, em grande parte devido à menor procura do sector dos transportes à medida que aumenta a utilização de veículos eléctricos.

Outros cenários

O relatório apresenta também o impacto provável nos futuros preços do petróleo se forem implementadas políticas ambientais mais rigorosas a nível mundial para combater as alterações climáticas. No cenário de políticas actuais da AIE, os preços do petróleo descem para 68 euros (75 dólares) por barril em 2050, contra 75 euros (82 dólares) por barril em 2023.

Este valor compara-se com os 22 euros (25 dólares) por barril em 2050, caso as acções governamentais estejam em conformidade com o objectivo de reduzir as emissões do sector energético para zero até essa data.

Embora o relatório preveja um aumento da procura de gás natural liquefeito (GNL) de 145 mil milhões de metros cúbicos (bcm) entre 2023 e 2030, afirma que este aumento seria ultrapassado por um aumento da capacidade de exportação de cerca de 270 bcm durante o mesmo período.

“O excesso de capacidade de GNL parece destinado a criar um mercado muito competitivo, pelo menos até à sua eliminação, com preços médios nas principais regiões importadoras de 6 a 7, 5 euros (6,5 a 8 dólares) por milhão de unidades térmicas britânicas (mmBtu) [unidade de medida utilizada para quantificar a quantidade de energia térmica que equivale a 1,055 megajoules] até 2035”, afirma o relatório. Os preços asiáticos do GNL, considerados como uma referência internacional, rondam actualmente os 12 euros (13 dólares) por mmBtu.