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Premiado mundo afora, filme brasileiro Sem Coração estreia em Portugal
Projeto começou em 2014 como curta metragem, que foi premiado em Cannes. Diretores ampliaram a história e lançaram o longa no Festival de Veneza. Obra recebeu prêmio do público no Queer Lisboa 2024.
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Premiado pelo público do Festival Queer Lisboa 2024, o filme Sem Coração chega às salas do circuito comercial em Portugal nessa quinta-feira (17/10). Dirigido pelos cineastas Nara Normande e Tião, a película conta a história de Tamara, vivida pela atriz Maya de Vicq, e suas descobertas da adolescência. O enredo se passa no litoral de Alagoas no verão de 1996. Tamara está se despedindo do lugar onde cresceu antes de se mudar para Brasília. Um dia, ouve falar de uma menina a quem chamam de Sem Coração, interpretada por Eduarda Samara, devido a uma cicatriz que tem no peito.
A trajetória internacional da obra começou em 2023, no Festival de Veneza. Desde então, percorreu diversos festivais no mundo, como os de Japão, Cuba, África do Sul e Suécia, até chegar a Portugal, onde foi premiado pelo público do Queer Lisboa no mês passado. “Estamos tentando atingir o máximo de pessoas, nos mais diversos países. Estivemos no Japão, e foi muito boa a conexão que tiveram com o filme. Lá, recebemos um prêmio do júri. O público se conectou bastante com o filme. Principalmente, com o aspecto sensorial que carrega. Acho que, como povo, o japonês é mais racional. No debate, houve um espectador que disse que estava racionalizando muito enquanto assistia o filme. Então, parou de racionalizar e se permitiu entrar na história. Foi um retorno muito legal”, comenta Nara.
Quando perguntados por questões sobre o significado da obra, os diretores procuram não dar detalhes. “Tentamos não falar muito, porque isso é um convite a estragar o filme para as pessoas. Cada um tem o seu universo e a sua interpretação. Se falamos o que pensamos, o espectador pode achar que está errado, quando, na verdade, não. O filme sempre convida à contribuição criativa”, diz Tião.
Início de tudo
O projeto Sem Coração começou com um curta filmado há 10 anos pela dupla e estreou no Festival de Cannes de 2014, onde foi premiado. Recebeu vários prêmios também no Brasil e em outros países. Ao escrever o primeiro roteiro, a dupla percebeu que haviam deixado de fora algumas situações. “Quando fomos fazer o curta, não planejávamos transformá-lo em um longa. Depois, percebemos que aquele universo era muito interessante e cheio de complexidades", recorda Nara. "Foi uma experiência marcante com os meninos e com a Duda, que faz a personagem no curta e no longa", acrescenta.
Diante de tudo o que viveram e sentiram, os diretores ficaram balançados e surgiu a ideia de se estender o filme. "Uns dois anos depois, começamos realmente a escrever e colocar o projeto para frente”, assinala Nara. “Estávamos felizes com o resultado do curta. Fomos tocar outros projetos. Mas tínhamos a sensação de que tínhamos mais coisas para olhar naquele lugar. E nós dois percebemos isso”, completa Tião.
O longa foi produzido pelo cineasta Kleber Mendonça Filho e pela produtora e cientista política Emilie Lesclaux. É uma co-produção Brasil, França e Itália. “Quando começamos a desenvolver o projeto, os editais estavam congelados no Brasil. O presidente era Michel Temer e, com Jair Bolsonaro, foi pior ainda. Emilie e Kleber já tinham um apoio que ganharam por causa do resultado de Aquarius. Era um apoio financeiro automático. Então, tivemos esse dinheiro", comenta Tião.
Mas houve mais suporte ao trabalho. "Recebemos um pouco do governo do estado de Pernambuco. Contudo, os recursos ainda eram insuficientes. Assim, fomos buscar apoio na França, e uma produtora italiana acabou se interessando também. Juntamos esses dois países e foi assim que conseguimos captar um pouco mais de dinheiro”, detalha o diretor. “Teve a RAI, na Itália, que foi a primeira a entrar. Na França, foi o CNC, Cinema do Mundo, em que um filme não falado em francês pode captar recursos de até 250 mil euros (R$ 1,5 milhão). Foi uma seleção difícil, mas passamos “, emenda Nara.
Quando se recebem recursos estrangeiros, a produção brasileira, em contrapartida, tem que contar com profissionais dos países apoiantes trabalhando no filme. “No caso da França, tivemos a russa Evgenia Alexandrova, que assina a direção de fotografia. Os efeitos especiais, a correção de cor e o mix, tudo foi feito na França. A Itália ficou com a edição de som e a compra de algumas músicas. Nós fomos dividindo”, explica Nara.
O filme Sem Coração já teve distribuição comercial na França, Itália e Brasil. Em Portugal, estará em cartaz no Cinema City Alvalade, em Lisboa e, no Porto, no Cinema Trindade.