UE e países do Golfo alinham posições sobre o Médio Oriente, divergem quanto à Rússia

Apelo ao cessar-fogo em Gaza e no Sul do Líbano será a principal mensagem da primeira cimeira entre os líderes da União Europeia e os aliados árabes do Conselho de Cooperação do Golfo.

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O presidente do Conselho europeu, Charles Michel, será o anfitrião da primeira cimeira entre a União Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo OLIVIER HOSLET/LUSA
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A pouco mais de um mês de deixar o cargo, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, vai conseguir cumprir o seu objectivo de “aprofundamento das parcerias estratégicas” e alargamento do diálogo político e geoestratégico da União Europeia com todas as regiões do mundo: depois de ter organizado cimeiras com a União Africana, com os países das Américas e Caribe, e do bloco ASEAN, será o anfitrião da primeira reunião entre os líderes europeus e os aliados árabes do Conselho de Cooperação do Golfo, nesta quarta-feira, em Bruxelas.

Na véspera da cimeira, e por razões de segurança, não foi disponibilizada informação sobre o nível da representação de cinco dos seis parceiros do Golfo — Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã. Pelo Qatar, que detém actualmente a presidência rotativa do CCG, estará o emir Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, co-organizador do encontro cuja agenda oficial contempla quatro temas: cooperação económica, incluindo comércio e investimento; energia; conectividade e contactos interpessoais; segurança regional e desafios geopolíticos globais.

São matérias onde os interesses e as posições dos dois blocos “nem sempre estão em sintonia” — basta lembrar que as negociações para a assinatura de um acordo de livre comércio entre os dois blocos já levam 35 anos —, mas a percepção é de que agora existe alguma margem política para avanços concretos. No lado europeu, abunda o optimismo, com vários responsáveis a salientarem a “oportunidade” da reunião, que surge na sequência de medidas como a liberalização de vistos (com os Emirados Árabes Unidos), há muito pedidas pelos parceiros do Golfo.

“A cimeira é o culminar de um processo de aproximação e cooperação entre os dois lados, que nos últimos anos teve desenvolvimentos importantes em áreas políticas e geoestratégicas” que vão para além das questões ligadas ao relacionamento comercial que ascende aos 170 mil milhões de euros anuais, considerava um responsável europeu, que chamava a atenção para o alinhamento — e “complementaridade” — entre as posições dos dois blocos na avaliação que fazem da crise no Médio Oriente, inevitavelmente o tópico central da discussão política entre os líderes.

“Essa é uma questão crucial e será uma peça central das negociações”, antecipou uma fonte europeia envolvida na preparação da cimeira, lembrando que os países do CCG estão a desempenhar um importante papel de mediação entre Israel, a Autoridade Palestiniana, o Governo de Beirute e a Organização das Nações Unidas para promover o cessar-fogo na Faixa de Gaza e no Sul do Líbano e aumentar a assistência humanitária aos refugiados, ou ainda para conter o Irão e impedir um alastramento do conflito a toda a região.

Mas se em relação à crise no Médio Oriente as posições (e preocupações) da UE e do CCG parecem estar alinhadas, no que diz respeito à ameaça representada pela guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia, as divergências são acentuadas. “É verdade que os países do CCG votaram a favor de quatro das seis resoluções da Assembleia Geral da ONU relativas à Ucrânia. Mas claro que eles têm uma relação com a Rússia que não é a mesma que a da UE”, que encara a agressão de Moscovo como uma ameaça existencial, distinguia a mesma fonte.

Para os líderes europeus, a cimeira desta quarta-feira oferece mais uma oportunidade para “explicar o seu ponto de vista” e esclarecer eventuais dúvidas ou mal-entendidos que possam existir do lado dos países do Golfo relativamente às medidas dos parceiros ocidentais contra a Rússia e os seus aliados. “Sabemos que eles não vão adoptar a nossa posição do dia para a noite, mas esperamos poder chegar a um entendimento para aprovar uma declaração comum no final da reunião”, afirmou. Um dia antes do encontro, as delegações ainda estavam a afinar a linguagem desse documento de conclusões.

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