A Europa está longe de concretizar o objectivo de ter água de boa qualidade e os recursos hídricos estão cada vez mais sobrecarregados, devido ao consumo excessivo de água potável, degradação de habitats naturais, poluição e efeitos das alterações climáticas, concluiu um relatório da Agência Europeia do Ambiente. É cada vez menos provável que se cumpra a meta expressa na Directiva da Água de ter recursos hídricos de boa qualidade até 2027.
Em 2021, só 37% dos recursos hídricos de superfície da União Europeia (mais a Noruega, o âmbito deste relatório) estavam num estado ecológico "bom" ou "elevado". Quando ao estado químico, 29% tinham um estado bom, realça o relatório.
Mas isto é muito insuficiente ainda. A Agência Europeia do Ambiente frisa que a UE tem de inverter o percurso. "Não está a caminhar para concretizar os objectivos de melhorar a saúde das águas", diz um comunicado de imprensa.
O prazo de 2027 é, na verdade, já um adiamento, porque a meta inicial para ter todas as massas de água europeias com boa qualidade era 2015. Como isso não aconteceu, e se verificou haver poucos progressos desde 2010, a meta foi adiada para 2027. E arriscamo-nos a não a cumprir, mais uma vez.
A agricultura é, de longe, o maior factor de pressão sobre as águas europeias, quer à superfície, quer ao nível freático. Os impactos resultam "da utilização da água e poluição produzida pela utilização intensiva de nutrientes e pesticidas, de acordo com a monitorização feita pelos próprios Estados-membros", diz o relatório.
Se a agricultura "é de longe" o sector que mais consome água na UE, "sem alterações nas práticas, a necessidade de uma agricultura de irrigação vai provavelmente aumentar por causa das alterações climáticas", destaca o documento. Isso agravará a situação que já estamos a ver: os ecossistemas aquáticos estão "gravemente afectados por produtos químicos" e pelos resíduos da geração de electricidade a partir de carvão, bem como contaminados pela "poluição difusa de adubos e pesticidas usados na agricultura".
A degradação dos habitats "é transversal" a todos os países e as alterações climáticas, que perturbam os padrões meteorológicos, trazendo secas e chuvas intensas concentradas em períodos curtos, agravam as pressões sobre os ecossistemas aquáticos e a sua gestão.
O problema não é só europeu: os caudais dos rios em todo o mundo atingiram mínimos históricos em 2023, o ano mais quente de que há registo, pondo em perigo o abastecimento de água numa era de aumento da procura, revelou um relatório da Organização Meteorológica Mundial divulgado há uma semana.
Em geral, os recursos hídricos subterrâneos estão em melhor estado, 77% estão com um "bom" estatuto químico e 91% estão disponíveis em quantidades suficientes. Mas "não houve progressos" na qualidade destes recursos, pelo que a tendência é de deterioração.
Em alguns países, a extracção de águas atinge níveis muito elevados, que afecta também as águas subterrâneas. Em 2021, esta pressão atingia 87% das águas subterrâneas portuguesas, e Portugal era o país com a pior situação, diz o relatório. Ao nível das águas superficiais, os três países mais sacrificados eram França, Itália e Espanha.
A saúde das águas na Europa "não está boa", reconheceu a directora da Agência Europeia do Ambiente, Leena Ylä-Mononen. "As nossas águas enfrentam desafios sem precedentes que põem em risco a segurança do abastecimento de água na Europa", lamentou, citada no comunicado de imprensa. Pediu "esforços redobrados para restaurar a saúde dos nossos preciosos rios, lagos, águas costeiras e outras massas de água, e garantir a resiliência e segurança deste recurso vital durante muitas gerações."
A Agência Europeia do Ambiente alertou para a necessidade de reduzir a utilização de água e torná-la "mais eficiente". Isso implica reduzir, por exemplo, a pressão da água nas redes de abastecimento. Os Estados-membros devem esforçar-se mais para cumprir as metas da Directiva da Água, para garantir a conservação dos recursos hídricos, aconselha o relatório.