Um crime Irreversível à beira-mar

A nova série policial da RTP1, criada por Bruno Gascon, conta a história de uma adolescente que é encontrada morta na praia e da investigação montada para descobrir quem a matou. Estreia-se hoje.

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Rafael Morais e Margarida Vila-Nova em Irreversível DR
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Bruno Gascon gosta de ver thrillers nórdicos frios. Como The Bridge ou The Killing: Crónica de Um Assassinato, nas versões originais, não os remakes americanos. “Gosto sempre mais, conta ao PÚBLICO via Zoom. Ou de Broadchurch, que, mesmo que britânica, tem alguns elementos em comum. Quis, portanto, fazer algo parecido, com um “lado mais frio, para a realidade portuguesa. “Acima de tudo, o que gosto é da teia complexa com que eles criam aqueles enredos em que, no final, tudo se vai conectar, e acaba também a falar de uma componente social, de temas complexos.

É assim que nasce Irreversível, uma série policial de seis episódios criada, escrita e realizada por Gascon. Foi rodada na Figueira da Foz, que foi o cenário da série do ano passado Cavalos de Corrida, também da RTP, com um aspecto totalmente diferente. A cidade não é identificada explicitamente como tal, por, diz o autor, o objectivo ser contar “uma história que se quer universal. Parte de um homicídio de uma adolescente, cujo corpo dá à costa, e conta com Margarida Vila-Nova, que há dois anos protagonizava Causa Própria, outro policial com um homicídio adolescente fora de Lisboa ou Porto, mas completamente diferente, e Rafael Morais no centro. A estreia está marcada para esta segunda-feira, às 21h.

Os “temas complexos sociais mencionados, neste caso, são o bullying, a homofobia, o tráfico humano ou a saúde mental. Vila-Nova é Júlia, uma psicóloga que é chamada para trabalhar no caso e tem o seu próprio trauma. “Está a passar por um luto muito doloroso, perdeu a filha há cerca de um ano, explica a actriz. “Tem este conflito interno de ser uma psicóloga que salvou tantos miúdos e acompanhou tantas crianças e tantos jovens, ajudou-os, orientou-os e não foi capaz de salvar a própria filha´. Tudo isso “fá-la despertar os seus fantasmas, as memórias, a tristeza, continua. Faz parceria com um detective, Pedro, interpretado por Rafael Morais, “duas almas solitárias. O colega, a falar na mesma chamada, define a personagem que interpreta como “um detective obcecado com o trabalho não tanto por paixão, mas como maneira de se refugiar dele mesmo.

O elenco inclui ainda Paula de Magalhães, que faz de Luísa, a defunta, uma jovem inseparável da colega de liceu Sara, interpretada por Laura Dutra, que acaba por se tornar a principal suspeita do crime. Há ainda Helena Caldeira, como uma mãe cuja filha lhe foi retirada e luta para a encontrar, Pedro Laginha e Ana Cristina de Oliveira, que fazem dos pais de Luísa, Soraia Chaves, que faz de professora, mãe de Sara e amiga da personagem de Margarida Vila-Nova. E o mar. Tanto os actores quanto o criador referem-se ao mar como “uma outra personagem da série. “Para este tipo de série, ter ambientes mais melancólicos e bucólicos ajuda a muito a contar este tipo de histórias, que requerem “um lado mais cinzento, não tão solar, afirma Gascon. “Tento seleccionar os décors o máximo e melhor possível para que o cenário em si seja uma personagem, menciona. “O mar está sempre presente porque vai ter uma..., continua, interrompendo a frase a meio. “No fim, as pessoas vão perceber o porquê do mar, diz.

Habituado a fazer filmes sobre “temas mais desafiantes e complexos para a sociedade”, o realizador admite que fica sempre “completamente arrasado depois de cada projecto. “Tenho de respirar um mês ou dois depois, observa. Mas nem tudo é dureza. “Tem de ter esse lado frio e pesado, mas, ao mesmo tempo, as personagens têm de ser quentes, de forma a que as pessoas se conectem com elas. Se forem pessoas muito frias, há uma distância, as pessoas vão-se retrair muito e não vão querer ver.

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