Associação apela a maior investimento para cuidados paliativos deixarem de ser um luxo

Associação alerta para as assimetrias no acesso aos cuidados paliativos. Cerca de 100 mil portugueses precisam dela, mas só 30% têm acesso. Presidente da instituição pede mais investimento.

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O Dia Mundial dos Cuidados Paliativos celebra-se esta segunda-feira, 14 de Outubro Nuno Ferreira Santos
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A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) apelou este domingo a um maior investimento nesta área, pedindo que deixe de ser vista como um privilégio e que quem precisa tenha acesso atempado em qualquer região do país.

Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, que se assinalou este sábado, 12 de Outubro, a presidente da APCP, Catarina Pazes, reconheceu que esta área continua a ser considerada como um luxo, pois a dificuldade de acesso é grande e há muita assimetria na oferta.

"Continua a ser, para uns, uma coisa desconhecida (...). Para outros, quem já conhece, é uma exigência natural, mas, infelizmente, (...) havendo uma assimetria ainda tão vincada no acesso, acaba por ser visto como um privilégio ou um luxo", afirmou.

Catarina Pazes pede mais investimento nesta área para que se criem condições "para as equipas que existem se desenvolverem e para que tenham as condições de que precisam para trabalhar com qualidade". "Apelo a quem governa e a quem está a apresentar o Orçamento do Estado, para colocar uma verba adequada para que se defina os cuidados paliativos como uma prioridade. São uma urgência, uma emergência para o Serviço Nacional de Saúde, mas precisam de investimento", afirmou.

Defendeu que os cuidados paliativos devem ser vistos como qualquer outra especialidade da área da saúde, "com o mesmo nível de dignidade e respeito". A responsável lamentou a grande assimetria de respostas no país, mas disse que há "bons exemplos" que ajudam a explicar a importância dos cuidados paliativos, uma área em que reconheceu haver pouca exigência da sociedade civil.

Catarina Pazes alertou ainda para a "normalização do sofrimento", sublinhando: "Nos hospitais, nos lares para idosos, há uma certa normalização do sofrimento. Pensa-se que se a pessoa está naquela situação, é normal". "Não, não é normal as pessoas passarem por tudo isto sem um suporte adequado e o facto de não terem esse suporte adequado faz com que tenham de recorrer muito mais vezes ao hospital, ao serviço de urgência", acrescentou.

Estas situações "desgastam a pessoa doente e a família" e "provocam insegurança e angústia", observou. "Quando chegamos à fase mais final da vida, naturalmente, não havendo todo este suporte ao longo do percurso, a única saída é procurar um internamento num sítio onde a pessoa possa ficar, o que muitas vezes não aparece no momento em que é preciso ou, quando aparece, é muito longe [da família] e as pessoas acabam por não aceitar", explicou.

Estima-se que, em Portugal, mais de 100 mil pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos, precisam de cuidados paliativos, mas cerca de 70% não têm acesso a ela. A Organização Mundial de Saúde (OMS) projecta que, até 2060, o número de pessoas que precisarão de Cuidados Paliativos poderá duplicar.

Esta área foi alvo de um relatório recente da Entidade Reguladora da Saúde, que analisou o acesso e concluiu que, no ano passado, quase metade dos utentes referenciados para unidades de cuidados paliativos contratualizados com o sector privado ou social morreu à espera de vaga.