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Eubrite, das ruas de Lisboa para as salas de cinema
Performance sobre patins do artista Jarbas Krull pode ser vista nas ruas da cidade diariamente. Nome foi inspirado no movimento Free Britney, como uma forma de expressão de liberdade.
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Turistas e moradores de Lisboa que circulam pelo centro histórico da cidade são surpreendidos quase todos os dias por uma performance sobre patins. Primeiro, vem o som das músicas da cantora Britney Spears e, a seguir, surge uma patinadora vestida com roupas justas e brilhantes. As músicas reverberam de um aparelho de som portátil. A figura performática que rodopia em alta velocidade nas calçadas de pedra portuguesa, que sobe em postes e peças do mobiliário urbano, é Eubrite. Seus vídeos rodam o mundo. Eubrite também tem viajado pela Europa levando seu trabalho, sempre nas ruas.
Criada pelo artista e influencer Jarbas Figueiredo Krull, 39 anos, a personagem nasceu do sonho de se expressar como artista. Na sua elaboração, acabou ecoando o desejo de Britney Spears, que, na época, lutava para retomar o controle de sua vida e de sua carreira. Era quando a artista americana travava uma luta nos tribunais americanos, e muitos dos seus fãs apoiavam no que foi conhecido como o movimento Free Britney. “Por conta do que ela estava passando, quis fazer uma referência a ela. Representando-a na rua de forma exagerada. Como se ela já estivesse sido libertada daquilo tudo. Foi um sucesso”, relembra. Por conta das performances, Eubrite já apareceu em vários programas de televisão em Portugal e no Brasil.
Nascido em Teixeira de Freitas, Jarbas cresceu em Posto da Mata, cidades do interior da Bahia. Chegou a Portugal há 15 anos para exercer a profissão de cabeleireiro. Com a dedicação diária à performance que criou, já não trabalha como cabeleireiro e barbeiro. Sem tempo para se comprometer com a rotina do salão, ainda faz serviços eventuais para alguns clientes fiéis.
A personagem Eubrite, nascida em 2019, ganhou força durante a pandemia de Covid-19. Na época do confinamento e com as ruas sem turistas, Eubrite circulava com sua música pela cidade. “Durante a pandemia, fiquei conhecido como um símbolo de felicidade e fui parar na mídia portuguesa. Enquanto o mundo não sabia o que iria acontecer, eu estava ali dançando e alegrando as pessoas. Que eu saiba, sou o único drag show urbano de patins” afirma Jarbas. Suas apresentações durante muito tempo se concentraram na Rua Augusta, na Baixa, e em outros locais do centro histórico de Lisboa, como o Largo de Camões, no Chiado.
Hoje, atua diariamente na chamada rua cor-de-rosa, que é um trecho da Rua Nova do Carvalho, no Cais Sodré, pintado com essa cor e decorada com guarda-chuvas coloridos suspensos. Esse pequeno trecho, fechado para os carros, concentra muitos bares, o que atrai um grande movimento de turistas, principalmente, no final da tarde e no início da noite. É nessa hora que surge Eubrite surpreendendo quem ainda não a conhece. Dança, tira fotos e faz algumas brincadeiras com o público, enquanto a música de uma caixa de som preenche o ambiente com canções da cantora americana e outros sucessos da música pop.
Na seleção que fez, evitou músicas atuais, porque gosta de provocar nostalgia no público. “Conheci a Rua Rosa durante a gravação de uma publicidade. Me identifiquei com a rua por conta da cor. O espaço é muito bom, porque tem público dos dois lados. Decidi deixar o Largo do Chiado, o Rossio e o arco da Rua Augusta. Dei um tempo nesses lugares, porque os turistas me perguntavam onde eu estava, se deslocavam para lá e, quando chegavam, eu já estava em outro lugar. Agora, tenho um lugar fixo. As pessoas sabem que podem me encontrar lá” salienta.
Cinderela
O que recebe das contribuições de quem assiste às performances paga as contas, relata Jarbas, morador no bairro dos Anjos, em Lisboa. A personagem também tem alcançado outros espaços fora das ruas. Ano passado, fez sucesso ao aparecer na passarela da Moda Lisboa, a convite do estilista Luís Borges. Também tem feito publicidade.
Na Moda Lisboa, sentiu que tinha chegado ao patamar em que podia mostrar ao mundo o que significava a realização dos sonhos de um rapaz do interior do Brasil que atravessou o Atlântico e alcançou o sucesso em outro país. “O que faço é arte, estou em Portugal para somar. É o público que decide se o que está vendo é arte. Os patins me fazem de Cinderela. Quando os coloco, entro no personagem”, declara.
Andar na calçada de pedras portuguesas é difícil. São irregulares e escorregadias. Patinar é mais desafiador. Cada patim pesa um quilo e a caixa de som, nove. Eubrite circula preocupada com a segurança do público. Quem assiste fica impressionado com suas piruetas e o seu controle das rodas. Já caiu várias vezes e se machucou, relata, mas hoje faz isso de forma controlada e com humor.
Eubrite é sempre acessível aos fãs que tiram fotos e fazem vídeos, a maior parte deles postados em redes sociais. Segue procurando o seu espaço de expressão nas ruas de Lisboa. "Faço uma expressão de arte exagerada. Que leva à desconstrução e à concessão de algo novo. A arte é um ponto de vista individual. Não tem como você avaliar a arte com o olhar do outro,” explica.
Eubrite, o filme
O cineasta brasileiro Felipe De Brêtas estava em Lisboa bebendo uma cerveja com amigos na Rua Rosa quando surgiu Eubrite. “Fiquei bem impressionado com a performance. Achei muito legal, e comecei a documentar. Esse material ficou guardado. Uns dois anos depois, estava andando pelas ruas de Paris e reencontrei Jarbas. Por um acaso, também estava com minha câmera e continuei filmando. Depois que eu filmei em Paris, vi que era hora de editar o material. Foi uma coincidência da vida. Filmei mais um pouco e finalizamos um documentário sobre Eubrite”, conta.
Para De Brêtas, Eubrite é uma personagem incrível de Lisboa. Ele diz ser muito divertido como Jarbas criou Eubrite a partir da história da Britney Spears nos Estados Unidos e salienta a alegria como ele fala da personagem. “Esse cara é muito bom, precisa de mais palco do que tem, porque ele já é uma pessoa conhecida. Precisa ganhar o mundo e, por isso, comecei a rodar o documentário. Houve atrasos, porque não consegui recursos, mas, após reencontrá-lo em Paris, decidi investir tempo para finalizar essa história. Porque ele merece”, frisa.
Agora que o filme Free Eubrite foi finalizado, tem um caminho a percorrer. Está sendo inscrito em vários festivais. A primeira exibição foi em Brasília, e o desejo do cineasta é exibir em breve em Lisboa, com a presença de Jarbas. O filme a que o PÚBLICO Brasil teve acesso mostra a trajetória de Eubrite, assim como a repercussão que causa por onde passa. “Sonhe, sonhe bastante, sonhe o quanto puder, até se realizar. Quando se realizar, continue sonhando. O mundo com sonhos é um mundo livre. É um mundo criativo. Vamos sonhar mais”, afirma Eubrite, no filme.