Olá.

Foi só uma mesa redonda virtual com o realizador Sam Mendes e o showrunner Jon Brown, da série The Franchise, e os dois nem estavam na mesma sala. Os jornalistas foram fazendo perguntas acerca da série da Max sobre a falência do complexo cinemático dos super-heróis e uma frase de Mendes ficou a ecoar — tanto que ficou para o fim do texto do PÚBLICO sobre o tema. No mundo dos blockbusters, disse, gostam muito de dizer "que tudo pode ser tudo, o que é tanto uma forma maravilhosa de abrir portas a possibilidades infinitas e à imaginação quanto a frase mais deprimente que se pode dizer... Porque se tudo é tudo, então tudo é nada."

Ler, passados uns dias, o assustadoramente elucidativo trabalho de Willy Staley na revista do New York Times sobre como os espectadores, e a indústria com eles, acabaram perdidos na última década desde que a Netflix mudou tudo, bateu na mesma caixa de ressonância. E há ainda umas coisas a dizer sobre caixas nesta conversa.

Ora bem. Há 11 anos, a Netflix mudou tudo ao criar uma série cheia de estrelas e ao disponibilizar os seus episódios todos de uma vez na sua plataforma, permitindo que os seus clientes vissem quando e quanto quisessem House of Cards. O resto é história, bem bonita por sinal na parte romântica em que a Netflix se torna a palavra definidora do streaming, sinónimo mais fácil de "streaming video on demand" (SVOD), a edificação da empresa que mudou o mercado como uma lâmina de barbear chamada Gillette. É bonita porque a Netflix começara como uma concorrente aos clubes de vídeo estáticos, aquelas lojas que se visitavam para alugar VHS e depois DVD com os filmes para aquele dia ou fim-de-semana. Em vez de esperar que os clientes fossem à loja, fosse o clube de vídeo lá do bairro ou a Blockbuster, mandava-lhes os DVD pelo correio.

O que Willy Staley nos lembra é que o modelo Netflix é o modelo das tecnológicas: as empresas endividavam-se aos milhões de dólares para crescer rapidamente e a ideia do lucro era secundária. Staley põe as coisas em perspectiva comparando a Netflix (e quejandos) com a Uber ou os espaços de cowork WeWork e o impacto na mentalidade da geração Y, ou millennials, que de repente tinham tudo à mão sem ter muito dinheiro a mão. "Talvez valha a pena pensar se os anos da 'Peak TV' [a década recém-terminada em que a produção televisiva não parou de crescer] como a versão cultural do mesmo fenómeno, mais um sucedâneo de uma luta corporativa por novo território aberta pela tecnologia da computação".

Há mais, muito mais do que 18 mil títulos disponíveis na Netflix. Vai variando de país para país, mas as contas arredondadas do New York Times dizem que para ver tudo o que a plataforma tem era preciso não dormir e estar frente ao ecrã durante três anos e meio seguidos. E no entanto, quantas vezes fez scroll infinito no menu e teve a sensação Bruce Springsteen de 57 Channels (and Nothing On)? A factura mensal deste serviço e dos outros que se lhe seguiram e que se vão acumulando devia dizer, defende Staley, "uma sensação abismal de abundância". O que por seu turno significa que qualquer série não tem tanta importância quando só havia canais lineares, argumenta. "Porque se tudo é tudo, então tudo é nada."

Reverso da medalha: uma semana antes do artigo do New York Times nos pôr a olhar para a espiral do ralo do "conteúdo", o Washington Post escreveu sobre o movimento Free Blockbuster e isso é que é lírico. No mundo inteiro só resta uma loja Blockbuster, em Bend, no estado norte-americano do Oregon, testemunho vivo de uma outrora empresa multinacional que até podia pagar uma enorme loja nas Amoreiras, em Lisboa. Agora, à loja remanescente, juntou-se o que Brian Morrison, antigo empregado da empresa e entretanto produtor de cinema e televisão, inventou. Usar as caixas de distribuição de jornais vazias (outro sinal dos tempos) nas ruas americanas para lá pôr DVD e VHS para uso público. Isso começou em 2018. Juntaram-se amigos, a palavra espalhou-se, as crianças adoram e agora há cerca de 250 caixas de Free Blockbuster pintadas a azul e amarelo nos EUA, Canadá e Reino Unido.

As pessoas levam mas devolvem, ou substituem, ou acrescentam. Há ali lixo electrónico que já não é lixo e, melhor ainda, devem encontrar-se filmes e séries que entretanto neste mundo de abundância avassaladora não se conseguem encontrar em nenhum santo canal ou serviço de streaming. "A fadiga do streaming é real e atinge-nos por muitas razões. Pode ser por não gostarmos da forma como a selecção nos é apresentada e também pode só ser que não queremos ficar em casa e não interagir com ninguém", arrisca Brian Morrison. É por aí.

Netflix

Sexta-feira, 11 de Outubro

Mundos Solitários — Filme com Laura Dern em que ela é uma romancista solitária num retiro em Marrocos para tentar ultrapassar o seu bloqueio criativo. Enquanto lá está, qual "Eat, Pray, Love", conhece um jovem atraente e nasce um caso amoroso que se vem juntar à lista de filmes em que há casais com diferenças de idade significativas a pender a favor das mulheres, para variar.

Vidas Paralelas — Filme passado em 1955 no Chile. Um homicídio é o centro da coisa: María Carolina Geel é uma conhecida escritora e assassina o amante, o que gera um fascínio pouco saudável em Mercedes, uma secretária que desconhece o par mas que tem contacto com o caso por trabalhar para o juiz que trata do caso. A história afinal é sobre o papel da mulher na sociedade. Realizado por Maite Alberdi, nomeada para um Óscar por The Eternal Memory.

No Rescaldo da Guerra — Dois amigos de infância tornam-se inimigos em pleno século XVI quando o Japão invade a Coreia. Escravidão, espadas e uma guerra brutal colocam-nos em lados opostos do conflito. Filme sul-coreano.

Quarta-feira, 16 de Outubro

Justice — Filme polaco passado no início dos anos 1990, quando um polícia dispensado à força tem a oportunidade de recuperar a sua antiga profissão se capturar o grupo que assaltou um banco. Uma jovem agente é a sua parceira.

Sou Um Assassino — Quinta temporada da série que explora os piores instintos e retrata pessoas que cometeram homicídios. Seis episódios.

Sweet Bobby: O Meu Pesadelo de Catfish  — A palavra "catfish" tornou-se sinónimo de enganar pessoas online num ambiente romântico com diferentes finalidades mas sempre sob falsos pretextos ou identidades. Saída de um filme de Nev Schulman para a MTV que se tornou numa das duas séries que mais ocupa espaço na grelha do canal que já foi musical, agora é um substantivo de uso livre. Este é o caso de uma amizade virtual que leva a amor, mas Kirat e Bobby ficam noivos e há algo suspeito nesta relação. Inspirado num podcast de sucesso, Sweet Bobby.

Globoplay

Segunda-feira, 14 de Outubro

Lady Night — Oitava temporada do talk show de Tatá Werneck . Os convidados incluem Bial, Xuxa, Angélica ou Leticia Spiller.

Terça-feira, 15 de Outubro

O Desafio de Viver do Surf — Surfistas brasileiros que dedicam anos das suas vidas para conseguirem conquistar reconhecimento e viver do seu desporto de eleição.  

Quarta-feira, 16 de Outubro

Tributo Fernanda Montenegro — São 95 anos da actriz e um documentário abre as portas da sua casa e relembra as suas histórias mais marcantes. ​

Apple TV+

Sexta-feira, 11 de Outubro

Disclaimer — Sete episódios de thriller psicológico com Cate Blanchett e Kevin Kline. Escritos e realizados por Alfonso Cuarón. É preciso dizer mais? Talvez que é baseado num romance de Renée Knight e que Blanchett é uma jornalista de investigação que de repente recebe um livro em que são os seus segredos a fazer a intriga. Também envolve Sacha Baron Cohen ou Lesley Manville.

The Last Women of the Sea — Produção de Malala Yousafzai e da A24. As sereias desta história real são avós que mergulham ao largo da ilha sul-coreana de Jeju. São conhecidas como as haenyeo e mergulham em apneia até ao fundo do mar, há séculos, para apanhar marisco. Porém a sua tradição tem agora poucas seguidoras e por isso continuam a mergulhar, apesar da idade. Usam as redes sociais para tentar dar a conhecer o seu modo de vida e tentar dar continuidade à sua história.

Quarta-feira, 16 de Outubro

Shrinking —Eles estão de volta. Jason Segel, Harrison Ford, Christa Miller, Jessica Williams, Michael Urie, Luke Tennie e Lukita Maxwell continuam a ser o psicólogo de luto que fala demais, o psicólogo veterano que fala a menos, a vizinha que é uma gralha, a outra psicóloga que não tem freio e por aí fora.

Max

Sexta-feira, 11 de Outubro

The Confidante – Thriller psicológico inspirado em acontecimentos reais sobre a melómana Christelle Blandin que testemunha o ataque ao Bataclan em 2015 e finge que o seu melhor amigo Vincent foi uma das dezenas de pessoas feridas no atentado. Quatro episódios.

Terça-feira, 15 de Outubro

Erro 404 - Há qualquer coisa muito irresistível em Inês Aires Pereira e ela sabe-o ao ponto de assumir várias personalidades nesta série. De luto, a sua personagem descobre uma aplicação que lhe permite viver a vida de outras pessoas.

Quinta-feira, 17 de Outubro

Louder: The Soundtrack of Change — Documentário produzido por Selena Gomez e Stacey Abrams, centra-se em ícones musicais femininos ao longo das décadas e o seu activismo.

Disney+

Sexta-feira, 11 de Outubro

Regresso a Las Sabinas — Gracia e Paloma regressam a Las Sabinas para cuidarem do pai, Emilio. Gracia reencontra o namorado de infância e Paloma assume a gestão das terras da família. Setenta episódios. Ou seja, é uma novela.

Quarta-feira, 16 de Outubro

Mente-me — Segunda temporada. Lucy Albright e Stephen DeMarco voltam à faculdade sem se falarem após a separação no início do Verão. As consequências da primeira temporada afectam o grupo alargado de jovens de formas inesperadas.

SkyShowtime

Sexta-feira, 11 de Outubro

Funny Woman — Segunda temporada de quatro episódios em que Barbara já é a comediante de televisão favorita do Reino Unido e agora decide experimentar cinema. Gemma Arterton, Arsher Ali, e David Threlfall, Rosie Cavaliero no elenco, todos os episódios disponíveis de uma só vez.

Domingo, 13 de Outubro

Ibiza Narcos — Uma fusão entre documentário e drama sobre a ascensão e queda dos traficantes que trouxeram as drogas para a outrora tranquila ilha mediterrânica. A série conta as histórias daqueles que perderam o controlo em festas intermináveis e as tentativas da polícia para travar a vaga. Todos os episódios disponíveis.

O streaming é o futuro

Duas revelações Netflix, uma delas uma renovação e a outra uma aproximação. A Diplomata, a enérgica e relativamente linear série protagonizada por Keri Russell, voltará para uma segunda temporada já dia 31. O novo trailer (alerta de spoiler) revela que os ferimentos sofridos pelo seu marido Hal são graves. Entretanto, e praticamente na mesma linha de série-tipo, mas com um protagonista muito menos famoso, O Agente da Noite, um sucesso que os anglófonos chamariam "sleeper hit", não só tem segunda temporada garantida, com data de estreia apontada para o Inverno de 2025, como já foi garantida a terceira temporada. Será filmada em Istambul e Nova Iorque e entra em produção já no final deste ano. Mais uma coisa: The Sex Lives of College Girls volta a 22 de Novembro à Max com a terceira temporada de dez episódios.

Ler para ver

PÚBLICO: A série alemã da Apple TV+ Where’s Wanda? mantém-se leve apesar dos temas sombrios

PÚBLICO: Ninguém Quer Isto mas toda a gente queria isto. E agora, Netflix?

PÚBLICO: "Não vejo como é que se melhora o jornalismo cortando meios à RTP"

PÚBLICO: Bruno Nogueira volta à RTP como misteriosa cereja no topo de uma grelha recheada de humor

The New York TimesAli Wong Dishes on Life After Divorce. Her Real Subject Is Fame.

The New York Times: How Everyone Got Lost in Netflix’s Endless Library
 

Até ao Próximo Episódio.