Mondlane ameaça com greve nacional se a Frelimo lhe tirar a vitória nas presidenciais
Mais Transparência critica o candidato presidencial, fala em elevada abstenção e inúmeros ilícitos. Missão da UE refere “a falta de confiança na independência dos órgãos eleitorais”.
Uma votação “pacífica”, “ordeira”, mas que sofreu com “a falta de confiança na independência dos órgãos eleitorais” e com “a desorganização”, a “falta de clareza” e a lentidão no processo de contagem dos votos, declarou esta sexta-feira a chefe da Missão de Observadores da União Europeia às eleições moçambicanas sobre a jornada eleitoral de quarta-feira. Laura Ballarín disse ainda que houve "evidente favorecimento do partido no poder" e "possível enchimento de urnas". Perspectiva partilhada por algumas organizações da sociedade civil moçambicanas que acompanham o processo. Uma delas, a Plataforma Mais Transparência, no seu balanço esta sexta-feira, critica o candidato presidencial Venâncio Mondlane, do Podemos, por reclamar vitória antes de ser divulgada qualquer contagem oficial de votos.
Mondlane diz que a contagem paralela efectuada pela sua campanha lhe dá a vitória com mais ou menos 65% dos votos (60% para o partido Podemos com o qual concorreu e que não tinha até agora qualquer assento parlamentar) e já na quinta-feira assumiu a sua eleição à primeira volta: “Estamos a fazer uma declaração pública de vitória em face das actas e dos editais originais, verdadeiros, que chegaram a nós”, afirmou, citado pela Lusa. Esta sexta-feira, em declarações à Reuters, o candidato ameaçou com uma greve nacional que paralisará Moçambique se a Frelimo declarar a vitória de Daniel Chapo nas presidenciais.
A Mais Transparência refere que “o processo eleitoral em Moçambique ainda está em andamento e os resultados disponíveis até agora são preliminares e inconclusivos”. E junta-se "aos observadores internacionais e à Comissão Nacional de Eleições (CNE)" para desencorajar “este tipo de declaração prematura”.
A CNE deverá divulgar os primeiros resultados preliminares este sábado, tendo depois legalmente até 15 dias depois da votação para apresentar os resultados do apuramento geral das eleições gerais (presidenciais e legislativas) e provinciais.
Sublinhando a importância deste momento para o desenlace das eleições, a Mais Transparência pediu o reforço da monitorização internacional para garantir que “o apuramento final dos resultados seja realizado de forma transparente e com auditorias independentes em áreas de suspeita, especialmente onde houver discrepâncias entre eleitores registados e votos contados.”
De acordo com o boletim de eleições do Centro de Integridade Pública (CIP), os resultados iniciais dão a entender que houve uma elevada abstenção: “Prevemos que a taxa de participação a nível nacional pode ser só de 35%.” Segundo esta organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais em Moçambique desde 2005, os seus observadores foram testemunhas de membros da Frelimo, o partido no poder, a aliciar delegados da oposição com dinheiro, empregos e promoções para os funcionários públicos.
O CIP refere inúmeras ilegalidades, desde votos falsos a presidentes de mesa a preencher editais a lápis para que os resultados pudessem ser adulterados mais facilmente. Apesar de a lei obrigar ao início da contagem de votos no máximo uma hora depois do encerramento das urnas, houve casos em que a contagem só começou quatro e cinco horas depois, mesas de voto onde houve corte de energia na altura da contagem e dezenas de denúncias de presidentes e vice-presidentes de mesa (da Frelimo) a introduzirem boletins de voto nas urnas. Alguns foram presos. Há relatos de mesas em que todos os eleitores recenseados “votaram” em Daniel Chapo, editais onde o número de votos é superior ao número de eleitores registados.
Na cidade de Maxixe, na província de Inhambane, uma presidente de mesa declarou ter introduzido 25 boletins com votos na Frelimo, enquanto em Maganja da Costa, na província da Zambézia, Zetino Domingos, que presidia à assembleia de voto na escola EPC Mutange, foi apanhado em flagrante delito a introduzir 24 votos na Frelimo na urna.
Nota: notícia alterada às 11h33 do dia 12 de Outubro para retirar um alegado comentário da líder missão da UE ao anúncio prematuro de vitória de Venâncio Mondlane que se revelou não corresponder à verdade.