O Close-up mostra as memórias do futuro do cinema em Famalicão

Entre este sábado e o próximo, a cidade nortenha verá filmes de Alice Diop, Karim Aïnouz, Celine Song, William Friedkin, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata ou Quentin Dupieux.

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Saint Omer, de Alice Diop, é um dos filmes do Close-up DR
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Vila Nova de Famalicão é uma cidade sem sessões diárias de cinema. Mas a actividade do Cineclube de Joane e da Casa das Artes traz, ao longo do ano, filmes de todos os tipos à cidade que não seriam vistos em sala de outra forma. Este sábado começa a nona edição do Close-up - Observatório de Cinema, o evento anual organizado pela Casa das Artes que, ao longo de uma semana, concentra ainda mais actividade cinematográfica do que é normal. Entre a própria Casa das Artes e o Teatro Narciso Ferreira, são mais de 30 sessões de filmes, uma exposição, masterclasses, várias conversas e apresentações, e cine-concertos, divididos por secções.

"Memórias do futuro" é o tema desta edição. Sob esse mote, naquela que será a secção principal, Paisagens Temáticas, poderá ver-se Saint Omer, de Alice Diop, Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz, A Sala dos Professores, de Ilker Çatak, Futura, ou o que Está por Vir, de Alice Rohrwacher, Francesco Munzi e Pietro Marcello ou Vidas Passadas, de Celine Song, todos dos últimos anos, e os mais antigos Videodrome, de David Cronenberg, e Bom Dia, de Yasujirō Ozu. O tema segue-se a edições dedicadas à comunidade e à infância e juventude. "Há sempre essa tendência de o mote anterior já quase projectar o seguinte", explica o programador Vítor Ribeiro ao telefone com o PÚBLICO. "Tento estar atento à forma como uma geração mais jovem olha para o futuro", conta. É uma perspectiva diferente da sua geração, que cresceu com "uma ideia de futuro mais expansiva". "Começámos a olhar para filmes que falavam do futuro e percebemos que o que nos interessava mais não eram coisas futuristas, era questionar que futuro tínhamos projectado e a que futuro chegámos", continua.

A noite de abertura faz-se com Surma a fazer um concerto relacionado com o seu disco alla, de 2022, e musica ainda a clássica curta surrealista Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel. Outros cine-concertos incluem A Loja de Penhores e O Imigrante, de Charlie Chaplin, musicados pela Orquestra da Costa Atlântica, Strata, um espectáculo da dupla Joana Gama e Luís Fernandes com imagens do realizador Eduardo Brito, e, na noite de encerramento, Glimmer, o espectáculo que junta música, vídeo e dança dos Micro Audio Waves e o encenador e coreógrafo Rui Horta.

Além disso, há, na secção Histórias do Cinema, quatro filmes importantes de William Friedkin, o realizador americano que morreu em 2023, Os Incorruptíveis Contra a Droga, de 1971 – na versão original, não a censurada pela Disney que remove epítetos raciais e chegou ao streaming no ano passado –, O Comboio do Medo, de 1977, O Exorcista, de 1973, e A Caça, de 1980. O Exorcista, clássico do terror, será mostrado na versão director's cut na sexta-feira. É uma sessão da meia-noite em pleno mês de Halloween e, diz o programador, já começou "rapidamente a vender muitos bilhetes". Ainda que a carreira de Friedkin tenha prosseguido até à morte, aqui interessava apanhar a Nova Hollywood, o movimento a que Friedkin pertenceu que trouxe uma nova maneira de fazer cinema americano entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1980. Esse momento é também celebrado com a exposição Imagens da Nova Hollywood, uma parceria com o Museu de Cinema de Melgaço – Jean-Loup Passek.

Fantasia Lusitana, outra das secções, convida João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata para uma masterclass, a exibição de Onde Fica Esta Rua? Ou Sem Antes Nem Depois, o filme de ambos estreado no ano passado que olha para a Lisboa de tempos recentes comparada com a de Os Verdes Anos, de Paulo Rocha, clássico do Cinema Novo português. Serão apresentados numa sessão dupla. Os dois escolheram ainda dois filmes portugueses para apresentar: Dina e Django, de Solveig Nordlund, de 1981, e As Ruínas no Interior, de José de Sá Caetano, de 1976.

Quentin Dupieux, bizarro realizador francês que também teve uma bem sucedida carreira como produtor de música house, é o foco da secção Isto Não é um Filme?, mostrando-se Daaaaaali! e Yannick, ambos do ano passado, nas únicas duas sessões que não têm apresentação. Há ainda conversas relacionadas com livros e música de cinema, com temas como Patricia Highsmith ou a maneira como o esforço de restauro de património do cinema português levado a cabo pela Cinemateca Portuguesa tem circulado pelo país.

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