Activista egípcio Alaa Abd el-Fattah vence prémio Escritor de Coragem

Mantido na prisão pelas autoridades egípcias apesar de já ter cumprido a pena de cinco anos a que foi condenado, o autor foi proposto pela romancista indiana Arundhati Roy, vencedora do PEN Pinter.

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O activista egípcio Abd el-Fattah
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O PEN britânico atribuiu o prémio internacional Escritor de Coragem de 2024 ao autor, blogger, activista e programador informático egípcio Alaa Abd el-Fattah, que foi condenado em 2021 a cinco anos de prisão por alegadamente “divulgar notícias falsas”, e que as autoridades egípcias mantêm na prisão apesar de já ter cumprido integralmente a sua pena.

Oficialmente designado Pinter International Writer of Courage Award, o prémio foi lançado em 2009 pelo PEN britânico, juntamente com o prémio PEN Pinter (ambos baptizados em honra do dramaturgo Harold Pinter), para homenagear autores que “tenham sido perseguidos por exprimir as suas convicções”.

A escolha do Escritor de Coragem cabe ao Comité de Escritores em Risco do PEN britânico, após consulta ao vencedor do PEN Pinter, o prémio irmão, que este ano coube à escritora e activista indiana Arundhaty Roy, que quis ter a seu lado Alaa Abd el-Fattah.

A obra literária de Abd el-Fattah, que tem dupla nacionalidade britânica e egípcia, está coligida, em edição inglesa, no volume You Have Not Yet Been Defeated: Selected Works 2011-2021, originalmente publicado em 2021 pelas edições Fitzcarraldo.

Mas o prémio que agora lhe foi atribuído destina-se mais a reconhecer a sua coragem cívica do que a valorizar o seu talento literário. E não há dúvida de que Abd el-Fattah, hoje com 42 anos, cumpre exemplarmente o critério de ser perseguido por assumir publicamente as suas convicções. O activista tornou-se notado aos vinte e poucos anos, em 2005, quando fundou com a sua mulher, Manal Bahey El-Din Hassan, o pioneiro agregador independente de blogues árabes Manalaa. Preso pela primeira vez logo no ano seguinte, veio depois a tornar-se uma figura destacada da Primavera Árabe no Egipto, tendo participado, desde o final de 2010, na sucessão de protestos de rua contra o regime de Hosni Mubarak.

As suas competências informáticas permitiram-lhe ainda ter um papel decisivo na divulgação internacional do movimento revolucionário durante o período em que o Governo bloqueou a Internet no país.

Já após a queda do ditador, voltou a ser preso em Outubro de 2011, acusado de incitar à violência contra as autoridades militares. A sua prisão deu origem a manifestações de milhares de pessoas no Cairo, e várias organizações internacionais de direitos humanos exigiram a sua libertação.

Libertado no final de 2011, seria novamente preso em 2013, e em 2015 foi condenado a cinco anos de cadeia, só tendo sido libertado em Março de 2019. E apenas para voltar a ser detido alguns meses mais tarde. Em 2021 foi condenado a uma nova sentença de cinco anos, que deveria ter acabado de cumprir em Setembro, se tivesse sido considerado o tempo que passou em prisão preventiva, mas as autoridades decidiram prolongar a sua pena até 2027.

Filho de mãe nascida no Reino Unido, Abd el-Fattah ​obteve a nacionalidade inglesa em 2022, no mesmo ano em que o Egipto recebeu a importante cimeira internacional COP27, a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, que teve lugar em Novembro. Abd el-Fattah, que já estava em greve de fome desde Abril, decidiu então deixar também de beber água. A notoriedade internacional do seu caso levou a que vários líderes, incluindo o Presidente norte-americano Joe Biden, tenham aludido à situação do activista nos seus contactos com o Presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, no poder desde 2014.

Justificando a sua escolha de Abd el-Fattah para a acompanhar neste duplo prémio PEN Pinter, Arundhati Roy afirmou que seleccionara o activista “pela mesma razão que levou as autoridades egípcias a mantê-lo preso mais dois anos, em vez de o libertarem no mês passado: porque a sua voz é tão bela quanto perigosa e a sua compreensão daquilo que hoje enfrentamos é tão afiada como a lâmina de uma navalha”.

Na cerimónia de entrega do prémio, que teve lugar esta quinta-feira na British Library, em Londres, a editora principal do jornal digital egípcio Mada Masr, Lina Attalah, que aceitou o prémio em representação de Alaa Abd el-Fattah, afirmou: “Nos seus escritos, nos artigos de jornal, nas mensagens nas redes sociais e nas cartas enviadas da prisão, Alaa sempre procurou a verdade na linguagem e através dela”.

Também interveio a escritora Naomi Klein, para quem Abd el-Fattah “encarna a persistente coragem e solidez intelectual que a própria Arundhati Roy tão poderosamente representa”. A escritora indiana, por sua vez, anunciou na mesma cerimónia que a sua parte do prémio monetário será doada à ONG Fundo de Ajuda às Crianças da Palestina.

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