E, pela terceira vez este ano, as auroras boreais voltaram a Portugal

Os registos de uma aurora boreal observada novamente em Portugal percorrem o país um pouco por todo o lado.

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A aurora boreal desta última noite captada em Pias, Serpa João P. Santos
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A aurora boreal captada na Panorâmica do Detrelo da Malhada, na serra da Freita (Arouca) entre as 0h15 e 1h de 11 de Outubro Carlos Neto
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A aurora boreal captada na Panorâmica do Detrelo da Malhada, na serra da Freita (Arouca) entre as 0h15 e 1h de 11 de Outubro Carlos Neto
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A aurora boreal captada na Panorâmica do Detrelo da Malhada, na serra da Freita (Arouca) entre as 0h15 e 1h de 11 de Outubro Carlos Neto
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A aurora boreal fotografada em Ponte de Lima na noite de 10 para 11 de Outubro de 2024 Sandra Campelo
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A aurora boreal fotografada em Monte Real, Leiria Rui Santos/Living Impressions
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A aurora boreal fotografada em Ervedeira, Leiria Rui Santos/Living Impressions
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A aurora boreal fotografada em em Santiago Maior, concelho de Alandroal, pelas 23h de 10 de Outubro Pedro Roque
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A aurora boreal fotografada em em Santiago Maior, concelho de Alandroal, pelas 23h de 10 de Outubro Pedro Roque
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A aurora boreal fotografada em em Santiago Maior, concelho de Alandroal, pelas 23h de 10 de Outubro Pedro Roque
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A aurora boreal fotografada em em Santiago Maior, concelho de Alandroal, pelas 23h de 10 de Outubro Pedro Roque
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Aurora boreal fotografada na serra de São Mamede, em Portalegre Joaquim Cordas
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Aurora boreal fotografada na serra de São Mamede, em Portalegre Joaquim Cordas
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A aurora boreal em Vila Real pouco depois da meia-noite de 11 de Outubro Mariana Vargas
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Não uma, não duas, mas três vezes – só este ano já fomos presenteados com este número de auroras boreais, fenómeno raro nas latitudes de Portugal. Na noite desta quinta-feira para sexta-feira, partilharam-se nas redes sociais imagens de uma aurora boreal avistada em Portugal. O Sol atravessa uma fase de actividade intensa e o lado bonito deste frenesim no ciclo solar – há outro menos bom – tem sido uma festa de luzes no céu em locais inusitados.

As imagens partilhadas durante a última noite nas redes sociais, como o Facebook e o X, iam evidenciando a geografia variada em que foram captadas. Por exemplo, o grupo Astronomia – Portugal, no Facebook, publicou fotografias tiradas na zona de Vila Real, Famalicão, Leiria, Seia, Lousã ou na serra de São Mamede (Portalegre). As fotografias que aqui publicamos vieram de membros do grupo Astronomia – Portugal, que as cederam por cortesia ao PÚBLICO.

Já o site Meteo Trás-os-Montes – Portugal, encheu-se de fotografias da aurora boreal que as pessoas foram também enviando de Arcos de Valdevez, Bragança, Chaves, do Parque Natural do Alvão, Macedo de Cavaleiros, Viseu, Guarda, Freixo de Espada à Cinta, passando por Penamacor, Covilhã, Fundão, serra da Estrela, São Pedro do Sul, Évora ou Pias (Serpa), e incluindo a ilha da Madeira e os Açores.

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A aurora boreal captada na Panorâmica do Detrelo da Malhada, na serra da Freita (Arouca) entre as 0h15 e 1h de 11 de Outubro Carlos Neto

Horas antes, o Meteo Trás-os-Montes tinha deixado um “alerta de aurora”, reproduzindo um mapa interactivo das regiões prováveis a serem atingidas, divulgado em sites como o Centro de Previsão de Meteorologia Espacial (SWPC) norte-americano e o Spaceweather, e que dizia: “Estão a ser visíveis em boa parte da Europa novas auroras boreais! Não o podemos garantir, mas podem sempre tentar...” E, na realidade, as auroras chegaram cá.

No site Spaceweather, especificava-se que tinham sido observadas na Europa, a 10 de Outubro, auroras em países como França, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Itália, Hungria, Inglaterra e Escócia. O mesmo tinha sucedido um pouco por todos os Estados Unidos e ainda na Índia ou na Austrália. Isto porque, explicava-se, “uma tempestade solar tinha atingido a Terra”: uma ejecção de massa coronal da classe X – as maiores e mais energéticas – tinha sido lançada pelo Sol e atingido a Terra e parecia ser tão “potente” que estavam a caminho tempestades geomagnéticas cuja intensidade poderia variar entre o moderado e o severo. “Se está escuro onde se encontra esteja atento a auroras”, dizia-se.

Numa actualização ainda a 10 de Outubro, o Spaceweather dava conta de que a tempestade geomagnética se estava a intensificar: “Abriu-se uma grande fenda no campo magnético da Terra. Se se mantiver aberta, os níveis da tempestade [geomagnética] podem escalar para a categoria G5 (extrema) durante a noite de 10 para 11 de Outubro, trazendo auroras luminosas disseminadas pelos Estados Unidos.”

O investigador Fernando Pinheiro, do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, especificou ao PÚBLICO que esta grande erupção solar ocorreu na madrugada de 9 de Outubro, pelas 2h56 (de Lisboa). Teve a intensidade X1.8, o que corresponde a uma classificação da erupção solar como “forte”, de acordo com uma escala do SWPC.

Por sua vez, essa erupção solar esteve associada a uma ejecção de matéria coronal (CME, na sigla em inglês). Pouco depois, por volta das 3h30 (de Lisboa), este material solar foi observado pela primeira vez pelo satélite Stereo-A, da NASA. Esse material é plasma, um dos estados da matéria, e que no caso de uma CME atinge maiores quantidades e velocidades do que o vento solar que ocorre normalmente.

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A aurora boreal captada em Ervedeira, Leiria Rui Santos/Living Impressions

Portanto, por si só, uma erupção solar não provoca uma tempestade geomagnética. As erupções solares vão acontecendo com frequência, emitindo radiação electromagnética. Apenas quando uma erupção solar é acompanhada por uma ejecção de matéria coronal – e que vem dirigida à Terra, o que nem sempre acontece – é que ocorre uma tempestade geomagnética mais intensa. “O que provoca uma tempestade geomagnética é a interacção entre plasma solar e o campo magnético da Terra”, explica Fernando Pinheiro.

A região do Sol onde a erupção se deu implicou que, inevitavelmente, a CME “acabaria por interceptar o nosso planeta”, realça astrofísico e geofísico português. Pelas 16h15 de 10 de Outubro, aquela ejecção de matéria coronal atingiu assim a Terra. “O material que vem do Sol geralmente demora cerca de dois dias até chegar à Terra.”

Meia hora antes do embate do plasma solar no campo magnético do nosso planeta, dois outros satélites norte-americanos – o Deep Space Climate Observatory (DSCOVR) e o Advanced Composition Explorer (ACE) – detectaram mudanças bruscas em relação ao material geralmente vindo do Sol. De repente, a sua velocidade saltou de 460 quilómetros por segundo para perto de 800 quilómetros por segundo, assinala Fernando Pinheiro.
“Da chegada deste material ao nosso planeta resultou a tempestade geomagnética que estamos a viver.” Ainda que não se previsse que esta tempestade geomagnética viesse a ser tão intensa como a que ocorreu a 10 de Maio deste ano, ela acabou por corresponder à classificação de tempestade “severa”, também numa escala do SWPC. “Até ao momento, esta é a segunda tempestade geomagnética mais intensa de que há registo no actual ciclo solar, tendo já ultrapassado a intensidade de todas as tempestades magnéticas do ciclo anterior”, salienta Fernando Pinheiro.

O tom avermelhado

E assim as auroras boreais chegaram novamente a diversas geografias portuguesas precisamente na noite de 10 para 11 de Outubro. “Tal como sucedeu em Maio deste ano, nesta noite foi relatada a presença de auroras, ditas ‘boreais’, por ocorrerem no hemisfério Norte, nos céus do nosso país”, refere o investigador da Universidade de Coimbra. “O tom avermelhado destas auroras está associado à ionização de átomos de oxigénio que se encontram a altitudes entre as duas e as três centenas de quilómetros, sendo assim as auroras que conseguem ser observadas a maiores distâncias e latitudes mais baixas”, especifica Fernando Pinheiro.

Depois de décadas sem serem observadas em Portugal, nos últimos anos as auroras boreais regressaram e só durante 2024 já apareceram em Maio (de forma intensa) e em Agosto (de forma mais discreta) e agora esta de Outubro (também intensa), tudo porque o Sol está a atingir este ano o máximo de actividade no ciclo solar de 22 anos. Fernando Pinheiro recorda que, no ano passado, houve registos de uma aurora boreal em Portugal, ainda que fraquinha, a 4 de Novembro. O fenómeno foi visto no Norte e Centro do país.

Mais para trás, há registos de auroras avistadas em Portugal em Fevereiro de 1872, em Janeiro de 1938 e Janeiro de 1957, por exemplo, e que, pela sua invulgaridade, foram notícia nos jornais.

O máximo de actividade no ciclo solar significa a ocorrência de erupções solares mais energéticas – ou seja, as tais ejecções de massa coronal, compostas por gases ionizados a altas temperaturas provenientes da coroa solar, a camada mais externa da atmosfera do Sol. Em suma, quando estas CME atingem o campo magnético terrestre, podem perturbá-lo e provocar as tempestades geomagnéticas, originando auroras mais intensas e em locais de baixa latitude à volta do planeta. Também podem provocar distúrbios nos serviços fornecidos por satélites, em serviços de comunicação através de ondas rádio ou nas redes de energia eléctrica. Para já, é digno de nota o espectáculo de luzes avermelhadas.

Se vamos ter mais auroras boreais por estes dias em Portugal, Fernando Pinheiro responde que o campo magnético da Terra vai começar a recuperar a sua intensidade normal, ainda que demore alguns dias. “Em princípio, já será improvável observar auroras.”

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