Alterações climáticas tornaram duas vezes mais prováveis furacões como o Milton

Equipa internacional de cientistas que procura explicar fenómenos climáticos extremos faz atribuição rápida do peso do aquecimento global na grande tempestade que afectou a Florida.

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Morador de South Daytona, Florida, transporta o seu cão após a passagem do Milton Nadia Zomorodian/News-Journal/REUTERS
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As alterações climáticas tornaram duas vezes mais provável que haja furacões que façam cair tanta chuva como o Milton, o quinto furacão mais intenso do Atlântico de que há registo, e que entrou em terra no estado da Florida, nos Estados Unidos. Estas são as conclusões da análise rápida do consórcio científico World Weather Attribution, que analisa as contribuições do aquecimento global para fenómenos meteorológicos extremos, como grandes tempestades.

As primeiras estimativas, citadas pela Reuters, indicam que as seguradoras podem ter de pagar até 100 mil milhões de dólares (cerca de 91 mil milhões de euros) pelos estragos causados pelo Milton. A Casa Branca prometeu apoio governamental, uma vez que a extensão total dos danos ainda está a ser avaliada – o número de vítimas mortais apurado está em 16, e cerca de três milhões de habitantes da Florida permanecem ainda sem energia eléctrica, dois dias depois da passagem desta intensa tempestade, que produziu até tornados à sua volta.

Segundo os cientistas do World Weather Attribution, as alterações climáticas contribuíram para aumentar em 10% a velocidade dos ventos do Milton, e aumentaram a quantidade de chuva em 20% a 30%. As probabilidades destas tempestades mais intensas aumentam num clima com uma temperatura média global 1,3 graus acima dos valores que se calcula que eram os normais no nosso planeta antes da Revolução Industrial.

Bastaram dois dias para que a tempestade tropical que se começou a formar no Golfo do México no sábado passado se tenha transformado num furacão de categoria 5, a mais alta numa escala de cinco pontos. Isto “foi motivado e sustentado pela temperatura muito elevada à superfície da água do mar no Golfo”, escrevem os cientistas do consórcio World Weather Attribution.

Os aviões da Administração Nacional para os Oceanos e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês) que voaram pelo núcleo do Milton na segunda-feira (ver vídeo) registaram níveis de pressão atmosférica baixíssimos, quase a atingir recordes. E quanto mais baixo, mais poderoso é o furacão: tinha 897 milibars, relata o New York Times. Só outros cinco grandes furacões do Atlântico chegaram abaixo de 900 milibars, entre os quais o Rita e o Wilma, ambos em 2005.

Uma outra análise, feita por cientistas ligados à ao grupo Climate Central, demonstrou que “as alterações climáticas tornaram 400 a 800 vezes mais provável” que a água do mar tenha aquecido tanto. Isto permitiu uma intensificação “explosiva” do furacão.

Durante os últimos 75 anos, os episódios extremos de pluviosidade na Florida central tornaram-se mais intensos e mais prováveis. A tendência foi também notada no furacão Helene, que assolou a costa Leste dos Estados Unidos cerca de duas semanas antes.

Tempestades com ventos de 250 km/hora, como os que surgiram com o Milton, tornaram-se 40% mais frequentes e estes poderosos ventos dos superfuracões têm-se tornado mais rápidos ainda, devido ao aquecimento médio global de 1,3 graus, dizem os investigadores. Isto significa que, sem os efeitos das alterações climáticas, o furacão Milton podia ser mais fraco, apenas categoria 2, e não categoria 3, quando chegou a terra.