PJ captura suspeito do triplo homicídio em Lisboa com a ajuda da família

Judiciária contou com o apoio de familiares para localizar o agressor de 33 anos no Pinhal Novo. Investigação aponta para historial de problemas mentais e consumo de droga.

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O crime chocou o Bairro do Vale, que os moradores descrevem como "tranquilo" Daniel Rocha
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A Polícia Judiciária (PJ) anunciou esta quarta-feira ter capturado o suspeito do triplo homicídio ocorrido na semana passada no Bairro do Vale, freguesia da Penha de França, em Lisboa, que vitimou um barbeiro e um casal que estava no exterior da barbearia. Em comunicado, a força policial afirmou que o homem de 33 anos foi localizado "com o apoio de familiares" e detido no Pinhal Novo, concelho de Palmela.

A Judiciária terá convencido a família a colaborar na sua localização, por temer novas consequências para terceiros e para o próprio, no quadro de enorme descontrolo em que este se encontra. O PÚBLICO confirmou que a investigação aponta para que os homicídios estejam associados aos problemas mentais de que sofrerá o alegado agressor, que seria seguido em psiquiatria. Também será consumidor de droga, o que pode ter potenciado a reacção de extrema violência que o levou a matar três pessoas por motivos fúteis. Tudo indica que os crimes não foram planeados.

O alegado homicida terá ido à barbearia para ser atendido, mas o barbeiro ter-lhe-á dito que não era possível naquele momento. Seguiu-se uma pequena altercação, na sequência da qual o suspeito se terá deslocado ao carro para ir buscar a arma. O casal que estava à porta da barbearia terá tentado acalmar os ânimos, tendo, por isso, sido atacado. Um outro cliente, que estava dentro da barbearia a ser atendido pelo barbeiro, terá escapado por pouco aos diversos disparos.

Na sequência do triplo homicídio, o pai do alegado assassino e um outro familiar ajudaram o suspeito a fugir.

O homem vai ser presente ao Tribunal Central de Instrução Criminal esta quinta-feira para ser ouvido no primeiro interrogatório judicial, na sequência do qual um juiz lhe irá aplicar as medidas de coacção com que vai ficar a aguardar o desfecho da investigação. O inquérito está a cargo do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.

O crime aconteceu ao início da tarde do dia 2 de Outubro na Rua Henrique Barrilaro Ruas, em Lisboa, e o suspeito fugiu de automóvel em direcção à zona de Santa Apolónia. Por se tratar de um homicídio, o caso ficou entregue à PJ, que diz agora, no mesmo comunicado, que fez "um trabalho incessante de investigação e de recolha de informação".

O barbeiro Carlos Pina, de 43 anos, e o casal Fernanda Júlia da Silva, de 34 anos, e Bruno Neto, de 36, foram assassinados a tiro alegadamente sem planeamento prévio e por motivos fúteis. Desde o primeiro momento que as suspeitas recaíram sobre um morador do bairro com um historial de quezílias com vizinhos. Nessa noite, dois automóveis foram incendiados naquela rua.

"Pina", como era mais conhecido nas redondezas, deixou cinco filhos. Fernanda Júlia, de nacionalidade brasileira, estava grávida de três meses e era mãe de duas crianças.

Filho do bairro, que foi construído para realojamento dos moradores de antigas aglomerações de barracas que existiam na zona, o barbeiro foi descrito por amigos e conhecidos como uma pessoa pacata e trabalhadora, cujo estabelecimento funcionava como centro social para os habitantes da rua, em especial jovens e adolescentes.

O crime, de uma violência incomum para os padrões portugueses, chocou os habitantes do Bairro do Vale, que o descrevem como local essencialmente tranquilo.

O último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), relativo a 2023, refere que houve um aumento de 5,6% face a 2022 nas participações sobre criminalidade violenta e grave, mas que os homicídios decresceram 7,2%. Como parece ser o caso nesta situação, o relatório sublinha que a maior parte deste tipo de crimes decorre num contexto em que "existe relação de vizinhança/conhecimento entre autor e vítima".

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