Operação de Israel no Norte de Gaza faz dezenas de mortos e encurrala 400 mil pessoas

Em Jabalia, há famílias debaixo dos destroços e corpos na rua que ninguém consegue ir recolher. Muitos que tinham regressado às suas casas vindos do Sul são obrigados de novo a fugir.

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Um menino junto ao corpo do pai, um dos mortos num ataque aéreo de Israel em Deir Al-Balah, no Centro da Faixa de Gaza Ramadan Abed / REUTERS
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As ordens mais recentes chegaram quase um ano depois das primeiras e voltaram a espalhar o pânico. Entre domingo e segunda-feira, as Forças de Defesa de Israel (IDF) ordenaram a evacuação de várias áreas do norte da Faixa de Gaza, principalmente Jabalia. A zona tem estado debaixo de ataques constantes que já mataram famílias inteiras e há corpos na rua à espera de serem retirados e mortos e vivos debaixo dos escombros.

Trata-se de uma nova operação terrestre com apoio aéreo que as IDF dizem ter como objectivo “impedir os esforços de reagrupamento do Hamas”. Mas para além disso, segundo a imprensa israelita, o Governo de Benjamin Netanyahu tinha decidido pôr em prática um plano de oficiais na reforma para pressionar o Hamas que passaria por “retirar todos os civis que se encontram no Norte, desde a fronteira até ao rio Gaza” e transformar a região numa “zona militar, em que cada pessoa é um alvo”, e onde não entra qualquer ajuda alimentar.

Na prática, é o que está a acontecer: segundo a Al-Jazeera, desde a manhã desta quarta-feira que a totalidade de Jabalia, que inclui a localidade e o campo de refugiados com o mesmo nome, está cercada, com as IDF a deixarem apenas uma saída onde instalaram checkpoints. Segundo a ONU, não entra qualquer ajuda humanitária desde dia 1 de Outubro.

Vídeos de jornalistas palestinianos mostram pessoas a avançar, em pequenos grupos, tentando caminhar para sul; ouvem-se disparos e toda a gente corre. Jovens carregam uma senhora ferida na perna, uma menina já está sentada na parte de trás de uma ambulância a sangrar do pescoço, ligado com gaze, chega um homem com um buraco no estômago, outro que foi atingido no pé. Imagens nos hospitais mostram sacos de cadáveres, de diferentes tamanhos, alinhados no chão.

Para além das bombas e dos drones, nestes ataques Israel está a usar quadricópteros, uma espécie de drones com quatro motores capazes de pairar num local e com mais precisão.

Dos 60 mortos confirmados no enclave entre o nascer do dia e o início da tarde, responsáveis médicos disseram à Al-Jazeera que 47 eram do Norte. Mais tarde, a Defesa Civil de Gaza dava conta da morte de 15 palestinianos num bombardeamento contra o campo do Hospital al-Yamin de Jabalia, um dos primeiros hospitais de Gaza obrigados a encerrar e transformado, entretanto, num campo para deslocados. Três hospitais na zona ainda a funcionar receberam ordens de evacuação.

“Pelo menos 400 mil pessoas estão encurraladas na área”, escreveu na rede X Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinianos. Muitos recusam sair – por medo de serem atingidos por disparos ou bombas no caminho e porque “sabem demasiado bem que não há nenhum lugar seguro em Gaza”, acrescentou Lazzarini.

Debaixo dos escombros

Mas outros tentam desesperadamente fugir. “Eu quero dizer uma última coisa aos que oiçam a minha voz. Ajudem-nos, tentem tirar-nos daqui, à minha mãe, à minha tia, às minhas irmãs e a mim. Tenho 15 anos, o que é que eu fiz à ocupação israelita?”, diz uma voz identificada como Zamzam Al-Ajrami, presa debaixo dos escombros da sua casa no campo de refugiados de Jabalia, numa gravação divulgada por media ligados ao Governo do Hamas em Gaza. A mãe já está morta: “Vi-a dar o seu último suspiro e não pude fazer nada para a salvar”, diz a adolescentes, a soluçar.

Entre os relatos de quem tem conseguido fugir há vários de colaboradores dos Médicos Sem Fronteiras, que falam de deixar as suas casas “em desespero, debaixo de bombas, de mísseis e de artilharia”.

As últimas ordens “para deslocar violentamente milhares de pessoas estão a transformar o norte num deserto sem vida e a agravar a situação no Sul”, afirmou Sarah Vuylsteke, coordenadora dos MSF em Gaza, num comunicado publicado no site da organização. “As pessoas têm sido sujeitas e a deslocamentos intermináveis e a bombardeamentos implacáveis ao longo dos últimos 12 meses. Basta”, reforçou Vuylsteke.

De acordo com um balanço feito pela ONU de um ano de guerra, cerca de 1,9 milhões de pessoas foram deslocadas em Gaza, em média pelo menos uma vez por mês.

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