EUA: meteorologista emociona-se e admite medo ao falar do furacão Milton

John Morales, meteorologista norte-americano, é conhecido há 40 anos como um “homem dos factos”. Na segunda-feira, emocionou-se em directo ao falar do furacão Milton.

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O momento em que John Morales se emocionou em directo NBC
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Segunda-feira podia ter sido só mais um dia entre os 40 anos de vida profissional de John Morales, um dos meteorologistas mais antigos da Florida. No entanto, a aproximação do furacão Milton levou a melhor. Morales emocionou-se em directo e admitiu ter medo do que se avizinhava, mas não se arrepende, avançou ao The New York Times.

Foi na transmissão do boletim meteorológico para a WTVJ/NBC6 que Morales dividia o ecrã com uma grande mancha vermelha. Era o furacão Milton, que rapidamente passava para categoria 5, a mais alta da escala Saffir-Simpson, e que do Golfo do México se dirigia para a Florida Central.

“É um furacão impressionante, impressionante”, disse Morales já visivelmente perturbado. Foi quando ia explicar que o furacão tinha descido 50 milibares em 10 horas que a voz começou a tremer e os olhos preencheram-se de lágrimas. “Peço desculpa, isto é horrível”, disse quando conseguiu falar.

Alguns acusam-no de falta de profissionalismo ou de alarmismo, mas John Morales não se arrepende da reacção. Aliás, partilhou a emissão no X que, entretanto, já foi vista 1,8 milhões de vezes. No TikTok, é uma sensação entre os mais jovens, que se revêem nas preocupações climáticas do homem de 62 anos.

Morales não nega que, ao início, ficou envergonhado. Contudo, à revista Mother Jones, admitiu que este sentimento, "esta ansiedade e frustração pela falta de acção pelo clima", estavam guardados há muito tempo.

O meteorologista sabe que, durante anos, foi conhecido e elogiado por se "limitar aos factos" e por não ser alarmista, mas assume que tem sido difícil continuar a comunicar dessa forma. "Sentia-me ansioso com o que lhes ia acontecer [aos afectados pelo furacão Milton] e com o nervosismo que devem sentir", explicou.

Reconhece o poder de furacões e tempestades tropicais e foi o facto de os conhecer de perto que o levou a esta profissão. Cresceu em Porto Rico e, em 1979, um furacão de categoria 5 chamado David passou ao lado do país e acabou por dirigir-se para a República Dominicana. Este fenómeno levou Morales à meteorologia, mas mal imaginava que, hoje, algo tão assustador como um furacão de categoria 5, se tornaria tão comum como é, graças às alterações climáticas. Basta relembrar que Milton chega apenas duas semanas depois de Helene, outro furacão que devastou a Florida.

"Sinto-me diferente. Tenho dificuldade em manter a calma quando sei o que está prestes a acontecer. Toda a gente, todos os meteorologistas que conheço, sabiam o que este furacão ia fazer. E, de repente, ele fá-lo. E não conseguimos deixar de nos espantar com o facto de ter acontecido", explicou na entrevista.

Depois de quatro décadas de carreira, deseja que as pessoas que se habituaram a vê-lo frio e calmo não esperem isso dele agora. "Com os extremos climáticos a colocarem-nos num lugar onde nunca estivemos antes, é muito difícil manter a calma e a serenidade. É um nível de agitação e desânimo enorme quando se sabe o que está prestes a acontecer e o tipo de danos e sofrimento que vai causar", justificou.

Na verdade, a sua reacção emotiva levou a que várias pessoas se tenham preocupado mais com o furacão e, consequentemente, preparado mais para o furacão. “Agradeceram-me por lhes ter salvado a vida. Quer isso seja um embelezamento do que aconteceu ou não, tem sido animador”, concluiu Morales.