Trump enviou secretamente testes de covid-19 a Putin
Ex-Presidente gostava de ouvir pessoas sem experiência para tomar decisões de política externa, revela Bob Woodward. Desde que saiu da Casa Branca, Trump já terá falado sete vezes com o líder russo.
A obsessão de Vladimir Putin com a segurança tem sido descrita como paranóia, um medo patológico que a pandemia de covid-19 só exacerbou, de tal forma que o líder russo quase desapareceu durante os primeiros meses, até haver vacinas disponíveis. De acordo com o último livro de Bob Woodward, "War", o então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá ajudado a atenuar um pouco os receios de Putin, enviando-lhe, secretamente, várias máquinas de testes rápidos de covid para uso pessoal.
“Por favor, não digas a ninguém que enviaste isto”, disse Putin a Trump, segundo o escreve o veterano jornalista e autor de política norte-americana, também editor do diário The Washington Post. “Eu não me importo”, respondeu Trump. “Não, não. Não quero que digas a ninguém porque as pessoas vão ficar zangadas contigo. Comigo não se importam”, retorquiu Putin.
O livro, que será publicado no próximo dia 15 de Outubro, é o quarto de Woodward desde que Trump foi eleito Presidente e centra-se na gestão das guerras da Ucrânia e do Médio Oriente por parte da Administração de Joe Biden, mas inclui algumas revelações sobre o candidato republicano – e sobre a forma como tenta influenciar ou interferir na política externa dos EUA.
Por exemplo, segundo disse a Woodward um assessor, “houve vários telefonemas entre Trump e Putin, talvez sete, desde que Trump deixou a Casa Branca”, em 2021, escreve o jornalista, descrevendo uma situação em que o ex-Presidente pede ao assessor que ele saia da sala na sua mansão de Mar-a-Lago, na Florida, para que “pudesse fazer um telefonema privado ao Presidente russo”.
De acordo com excertos, citados pelo Washington Post e pela CNN, Woodward também releva que um dos conselheiros de segurança nacional de Trump, Keith Kellogg, teve um encontro secreto com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante uma visita a Israel, no início de 2024. No regresso, Kellogg “fez circular publicamente um memorando” em que responsabilizava Biden pelos ataques do Hamas de há um ano, considerando que “as suas políticas falhadas em relação ao Irão” expuseram os EUA “a uma guerra regional com consequências devastadoras para o nosso aliado Israel”.
Analisando estes episódios, principalmente o facto de Trump ter continuado em contacto com o líder de um país em guerra com a Ucrânia, um aliado dos EUA, o jornalista que revelou o escândalo de Watergate conclui que Trump é “pior” do que Richard Nixon. “Trump foi o Presidente mais imprudente e impulsivo da história americana e está a demonstrar o mesmo carácter como candidato presidencial em 2024”, escreve em “War”.
Mar-a-Lago e a Coreia do Norte
A propósito da campanha presidencial, mas não só, o jornalista cita várias vezes o senador e aliado de Trump Lindsey Graham. Visita frequente de Mar-a-Lago, Graham diz que ir à mansão “é um pouco como ir à Coreia do Norte”: “Toda a gente se levanta e aplaude sempre que Trump aparece”.
Num episódio que revela mais sobre o príncipe herdeiro saudita do que sobre Trump, Woodward conta que durante uma visita a Mohammed bin Salman (conhecido por MBS), em Março, Graham sugeriu-lhe que telefonassem a Trump. Em seguida, um assessor do líder de facto da Arábia Saudita trouxe-lhe um saco com uns 50 telefones descartáveis. MBS retirou um telefone com uma etiqueta em que se lia “TRUMP 45”, diz o senador, que conseguiu ler noutro telefone “JAKE SULLIVAN”, o nome do actual conselheiro de Segurança Nacional dos EUA.
Ainda sobre a primeira presidência Trump, Woodward sublinha que Trump gostava de ouvir muitas opiniões e pontos de vista, mesmo de pessoas “sem experiência relevante”, escreve o Post. Durante uma reunião sobre o Afeganistão na “Situation Room”, a sala na cave da Casa Branca reservada para crises, Trump deu a volta à mesa e quis ouvir a opinião de todos. “Sr. Presidente, eu sou o anotador”, respondeu uma das pessoas. “Oh, não, se está nesta sala é para falar”, insistiu Trump, levando a pessoa que tirava notas a “partilhar brevemente a sua opinião.”
De acordo com o porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung, “nenhuma destas histórias inventadas por Bob Woodward é verdadeira”. Cheung refere-se ao livro dizendo que “ou pertence à caixa de pechinchas da secção de ficção de uma livraria” de preços reduzidos ou “é para ser usado como papel higiénico”.
Já Woodward, lê-se no comunicado do porta-voz, é “um homenzinho zangado e está claramente chateado” por Trump o ter processado por publicação não autorizada de entrevistas anteriores. “Verdadeiramente demente e perturbado”, acrescenta Cheung, Woodward “sofre de um caso debilitante de Síndrome de Perturbação de Trump” e é “uma pessoa chata, sem personalidade”.