Mesmo dividida, direita ganha municipais no Brasil e dá cartão amarelo a Lula

São Paulo é o espelho de uma disputa nacional acesa entre bolsonaristas e petistas, embora os dois partidos estejam ausentes da segunda volta da maior cidade brasileira.

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O PT de Lula da Silva ficou em nono lugar na primeira volta das eleições municipais no Brasil SEBASTIÃO MOREIRA / EPA
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A multiplicação de partidos de direita ou centro-direita não foi galvanizada pela esquerda brasileira, que saiu enfraquecida da primeira volta das eleições municipais do Brasil, disputada no domingo. Em termos nacionais, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, ficou em nono lugar, com os primeiros lugares do ranking a serem ocupados pelo denominado “centrão”, com destaque para o PSD de Gilberto Kassab (ministro do Governo Michel Temer envolvido na Operação Lava Jato), seguido do MDB e PP. O Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro ficou em quinto lugar.

Por outras palavras, a polarização de outras eleições entre Lula e Bolsonaro foi ultrapassada e aponta para uma vontade de mudança de rostos e programas mais moderados, a começar nas prefeituras (câmaras municipais), deixando pistas para o que pode acontecer até 2026, quando se disputaram as próximas presidenciais. Mas mesmo que os candidatos directos do PT e do PL não tenham sido as estrelas destas eleições locais, a sua influência continua a fazer-se sentir, sobretudo nas principais cidades.

Os resultados em São Paulo, a maior cidade do país, espelham esta realidade. Direita e centro-direita juntas elegeram mais de 3200 prefeitos, segundo os resultados preliminares da primeira volta, relativos a 5555 dos 5568 municípios do país. Os restantes, relativos a cidades com mais de 200 mil habitantes, disputam a segunda volta a 27 de Outubro.

Na capital paulista, os três principais candidatos praticamente dividiram o eleitorado em três, com diferenças mínimas entre eles. Os dois concorrentes que vão disputar a segunda volta são Ricardo Nunes, o actual prefeito, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), apoiado por Bolsonaro (teve 29,48% dos votos válidos), e Guilherme Boulos, do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), apoiado por Lula e que ficou a menos de meio ponto percentual de Nunes (29,07%).

Afastado mas não esmagado foi o candidato populista Pablo Marçal (PRTB — Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), que obteve 28,14%, na disputa mais acirrada na capital paulista desde a redemocratização, segundo a Folha de S. Paulo. O empresário destacou-se por um estilo provocador e chegou a ser agredido por um adversário com uma cadeira durante um debate televisivo, e os jornais brasileiros acreditam que ainda terá futuro na política.

“O susto provocado por Pablo Marçal (PRTB) e o sucesso de candidatos mais estridentes tendem a dar um incentivo adicional a Bolsonaro e outros personagens para replicar essas técnicas”, escreve o jornalista e politólogo Bruno Boghossian na Folha de S. Paulo.

Lula sob pressão

Nas capitais regionais, os candidatos impulsionados por Bolsonaro saíram-se melhor do que os aliados de Lula: não só venceram mais na primeira volta como também chegaram mais à segunda. Mas o bolsonarismo também sofreu perdas expressivas, como as derrotas de Renato Bolsonaro (irmão do ex-Presidente) em Registro (São Paulo) e de Rosângela Moro (União Brasil) em Curitiba.

Lula, por seu lado, pode comemorar as vitórias à primeira volta de João Campos (PSB), no Recife, e Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do país - candidaturas que apoiou, mas que não concorreram sob a sigla do PT. Mas pouco mais pode celebrar: o seu partido não ganhou nenhuma capital à primeira volta e disputa apenas quatro capitais na segunda, enquanto o PL de Bolsonaro disputa nove.

Neste cenário, Lula da Silva fica mais dependente dos aliados, em especial do PSD e do MDB, os partidos mais dispostos a negociar com quem está no Governo, e sob pressão acrescida para aumentar os seus índices de popularidade para conseguir aliados para as presidenciais de 2026. Ainda que não seja para já conhecido o nome do seu principal futuro adversário, tem pela frente uma direita e um centrão na pole position.

Entre os nomes ventilados para concorrer em 2026, é apontado o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai vencedor desta eleição por ter conseguido derrotar o fenómeno Pablo Marçal e levar Ricardo Nunes para a segunda volta em São Paulo.

No PT, porém, a má performance eleitoral do partido é desvalorizada. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, sublinhou que o partido cresceu em comparação a 2020. “É preciso entender que a gente vive um processo de recuperação, reorganização", disse, afirmando que o PT passou por um “calvário, tendo sido alvo de perseguição".

Quanto à antevisão das presidenciais, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, separou as águas: "A minha experiência em acompanhar as eleições [...] mostram que não há relação directa entre a eleição municipal e a presidencial. Mesmo assim, estamos vendo lideranças da frente ampla que apoia o Presidente derrotar os ícones mais simbólicos da extrema-direita."

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