Paul Pogba tem mais uma vida no futebol – e deve ser a última

A carreira do francês passou de acabada para temporariamente em pausa. E isso muda tudo na vida do médio de 31 anos, cuja suspensão por doping foi reduzida. A questão é quem o vai querer agora.

Foto
Pogba celebra pela selecção francesa ABEDIN TAHERKENAREH / LUSA
Ouça este artigo
00:00
04:59

Paul Pobga poderia ter sido dos melhores jogadores da história, mas vai terminar a carreira bem longe desse estatuto. Pode, ainda assim, não ficar tão longe como está neste momento. Se a carreira de Paul Pogba fosse um videojogo, poderíamos dizer que vai poder usar, agora, a última vida antes do game over.

Há 17 meses que Paul Pogba não joga futebol “a sério” – e talvez nem mesmo a brincar. Suspenso por doping em Março de 2024, o médio francês de 31 anos fechou a si próprio a porta do futebol: tomou coisas que não deveria ter tomado, teve um castigo de quatro anos e teria de ter muita força de vontade – e muito boa vontade dos clubes – para ser recebido de volta quando tivesse 34 anos.

Mas tudo mudou nos últimos dias. A defesa do jogador conseguiu que a suspensão fosse reduzida para 18 meses, o que significa que em Março de 2025 já pode voltar a jogar. Passou de jogador acabado para jogador temporariamente em pausa. E isso muda tudo, porque pode, agora, treinar afincadamente para que daqui a uns meses algum clube o queira no plantel.

A decisão do tribunal diz que o jogador não agiu de má-fé na toma da substância proibida, tendo sido “apenas” negligente ao não perceber que o novo suplemento de dieta que tomava tinha um componente dopante.

Como em muita coisa na vida, é preciso estarmos bem rodeados – e Pogba teve ao lado o advogado Mike Morgan, que já teve sucesso em defesas de doping em atletas como Tyson Fury e Chris Froome.

Quantos como ele?

A nível futebolístico, este caso tem uma componente prática e uma não tão clara e mensurável. A prática baseia-se em entender que equipa o quererá receber. O jogador tem contrato com a Juventus, que pode decidir quebrar o vínculo por este caso de doping. E é provável que o faça, não apenas pela falta de confiança num jogador irresponsável, mas também por motivos desportivos.

Desde que regressou ao clube, em 2022, Pogba fez apenas 12 jogos – e um só como titular. Umas vezes por lesão, outras por dificuldade em ficar em forma, o facto é que pouco apareceu, pouco jogou e, sobretudo, pouco contribuiu de forma clara.

Há mercados paralelos que podem abrir facilmente as portas a Pogba, mas é provável que o jogador ainda queira jogar na Liga dos Campeões mais algum tempo – até porque há Mundial de Clubes em 2025 e de selecções em 2026. Seja pela reintegração na Juventus ou por ser livre de assinar a custo zero, há formas de relançar a carreira.

Há, depois, o tal lado menos concreto, que tem que ver com a possibilidade de Pogba vir a ser aquilo que poderia ter sido. Sejamos claros: estamos a falar de um campeão do mundo, vencedor da Liga Europa e da Liga das Nações e quatro vezes campeão italiano.

Mas também estamos a falar de alguém que ficou a anos-luz do que se pensou que poderia ter sido. Quando apareceu, o Pogba de 2013, que venceu o prémio “golden boy” desse ano e foi o jogador mais caro da história em 2016, tinha condições para ter sido dos melhores médios da história do futebol.

Lancemos um exercício: quantos médios neste século conseguiram juntar força física, jogo aéreo, capacidade de desarme, técnica de primeiro nível em espaços curtos, agilidade num corpo de gigante, condução de bola, talento na finalização, meia-distância, último passe, chegada à área e até mesmo polivalência em todas as posições do meio-campo? Talvez Zinedine Zidane tenha juntado todos ou boa parte destes domínios – e não é fácil pensar noutro.

Problema: Pogba nem sempre quis colocar todos estes predicados ao serviço do futebol – e ao seu próprio serviço, por extensão.

Deschamps de braços abertos?

Acusado de ser um jogador algo pachorrento e desligado, fez várias temporadas de nível assim-assim: e mesmo nessas conseguiu juntar quase sempre estatísticas vedadas ao jogador comum.

O que ficou de Pogba é, ainda assim, o rasto de três temporadas medianas no Manchester United e duas na Juventus. Desde 2019 que não é um médio de primeira água, por muito que tenha, desde aí, conquistado alguns títulos colectivos importantes.

Foi também prejudicado por problemas extra-futebol e por várias lesões, o que permite colocá-lo no espectro dos desafortunados ou dos que têm pouco cuidado com a gestão da carreira e do corpo. É difícil saber em qual está o francês, mas talvez possa estar no meio dos dois.

A Juventus pode não se ter “atravessado” pelo jogador, preferindo afastar-se das opções erráticas de Pogba, mas há alguém que se manteve mais perto: Didier Deschamps, que disse desde início que não acredita que o jogador se tenha dopado de propósito.

Dado que Pogba sempre foi um dos preferidos do seleccionador gaulês, Deschamps certamente não hesitará em chamá-lo à selecção assim que o jogador tenha clube – mesmo que seja na Arábia Saudita ou nos Estados Unidos, porque o técnico não costuma ter problemas com isso. E Pogba até chegou a parecer um médio que jogava melhor pela selecção do que pelos clubes, algo que adensa a importância que pode vir a ter a médio prazo na equipa gaulesa.

Pogba diz que “finalmente, o pesadelo acabou” e é normal que o diga. Mas com este jogador francês nunca se sabe ao certo quando acaba o pesadelo.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários