Morreu o actor Emiliano Queiroz, o Dirceu Borboleta de O Bem-Amado

Veterano omnipresente na Globo desde a primeira novela, teve ainda carreira relevante no teatro e no cinema.

Foto
O Dirceu Borboleta de O Bem Amado foi a criação mais duradoura e popular de Emiliano Queiroz DR
Ouça este artigo
00:00
04:33

Morreu na sexta-feira, aos 88 anos, o actor Emiliano Queiroz, no Rio de Janeiro. Veterano do teatro, do cinema e da televisão, participou em inúmeras novelas — inclusive na primeira a ser exibida pela TV Globo, Ilusões Perdidas, de 1965— e ficou célebre pelo papel de Dirceu Borboleta na novela O Bem-Amado, de 1973.

Segundo o produtor teatral Eduardo Barata, a causa da morte foi uma paragem cardíaca. Queiroz estava internado há dez dias na Clínica São Vicente da Gávea, na Zona Sul da cidade, após colocar três stents no coração.

Na quinta-feira, o actor teve alta e foi para casa. Na madrugada da sexta, passou mal e precisou de voltar ao hospital. "[Ele] começou a passar mal por volta das 6h da manhã. A ambulância chegou e levou-o para a emergência do hospital, onde teve uma parada cardíaca. Foi entubado e reanimado, mas às 10h, faleceu", detalha a nota de Barata.

Omnipresente na tela da Globo, o seu Dirceu Borboleta foi além da novela de 1973. Tímido, gago e desastrado, o personagem que coleccionava borboletas voltou na série O Bem-Amado, exibida entre 1980 e 1984, e no programa da comédia Escolinha do Professor Raimundo, nos anos 1990.

Em Alma Gémea — actualmente em reposição na Globo —, viveu Tio Nardo. Também actuou, entre várias outras produções, Senhora do Destino, de 2004, e Éramos Seis, de 2020. A longa-metragem Avenida Beira Mar (2023), na qual participou, está em cartaz no Festival do Rio.

Setenta anos de carreira

Nascido em Aracati, no Ceará, Emiliano Queiroz participou em mais de 60 filmes, mais de 60 peças e cerca de 70 novelas, séries, minisséries e especiais de televisão ao longo dos seus 70 anos de carreira. Em entrevista à Memória Globo, Emiliano Queiroz contou que descobriu a sua vocação aos quatro anos, após assistir com o pai à peça O Mártir do Gólgota, de Henrique Perez Escrich.

Aos 14 anos, integrou o Teatro Experimental de Arte de Fortaleza. Aos 16 anos passou a trabalhar na rádio e continuou participar em produções teatrais. Na capital cearense, trabalhou por dois anos na TV Ceará como actor, humorista, apresentador, produtor, cenógrafo e contra-regra.

Na esfera do teatro, Queiroz também coleccionava papéis. Actuou na primeira montagem de O Pagador de Promessas, texto de Alfredo Dias Gomes, levada à cena no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em 1960. Em 1978, viveu Geni na primeira montagem da Ópera do Malandro, de Chico Buarque e Ruy Guerra. Na actualidade, continuava activo e iria protagonizar o espectáculo A Vida Não É Justa, agendado para Janeiro de 2025.

Em 1964, foi convidado para participar na novela Eu Amo Esse Homem, de Ênia Petri, produção da TV Paulista. No mesmo ano, fez a sua estreia no cinema em O Lamparina (1964), filme de Glauco Mirko Laurelli. Foi contratado pela TV Globo quando a estação comprou a TV Paulista e Emiliano Queiroz se mudou para o Rio de Janeiro, tendo actuado em 1965 em Ilusões Perdidas, também de Ênia Petri.

Nos anos 1960 integrou o elenco de outras produções da emissora, como Eu Compro Esta Mulher e O Sheik de Agadir, ambas escritas por Glória Magadan em 1966. Nesta última, Emiliano Queiroz interpretou o vilão nazi Hans Stauben; à Memória Globo contou que foi insultado e agredido na rua depois o seu personagem ter cometido um assassinato.

Alguns dos seus filmes foram A Extorsão (1975), O Xangô de Baker Street (2001), Madame Satã (2002), Casa de Areia (2005) e Stelinha (1990), filme de Miguel Faria Jr. pelo qual ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Actor Coadjuvante no Festival de Gramado.

Actuou como Veludo em A Navalha da Carne, adaptação de 1969 que Braz Chediak fez da peça homónima, escrita por Plínio Marcos e censurada por retratar o submundo da época. No ano seguinte, protagonizou Dois Perdidos numa Noite Suja, como Tonho, outra adaptação do mesmo dramaturgo por Brad Chediak.

O actor deixa a sua esposa, Maria Letícia, advogada e actriz de 77 anos, com quem era casado há 51 anos. Também deixa os 14 filhos que o casal criou, oito netos e três bisnetos.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

Sugerir correcção
Comentar