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Danilo Caymmi e Stacey Kent cantam Tom Jobim sem piano, mas com muitas flautas
Brasileiro e americana trazem de volta a Portugal show onde interpretam vários sucessos do repertório do grande artista brasileiro. Será uma apresentação única na Casa da Música, no dia 23 de outubro.
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Os cantores Danilo Caymmi e Stacey Kent trazem de volta a Portugal o show Um Tom Sobre Jobim em única apresentação, na Casa da Música no Porto, no dia 23 de outubro. Há dois anos, eles fizeram dois espetáculos no país. De Portugal, o concerto segue para Londres. Em conversa com o PÚBLICO Brasil, Caymmi diz que será um Tom Jobim sem piano, mas com muitas flautas. Ele acompanhou o maestro brasileiro, integrando a Banda Nova desde 1983 até a morte dele. “Eu tocava flauta com a Banda Nova, que acompanhava Tom Jobim. E acabei sendo exigido a cantar pelo próprio Tom. Tenho o privilégio de ter o timbre da minha família. Do meu pai e da minha mãe, que também foi uma grande cantora”, recorda.
Recuando no tempo, a 1968, Caymmi, jovem estudante de arquitetura no Rio de Janeiro, já era compositor e instrumentista, quando compôs uma música que se mantém nas paradas e é sucesso até hoje, Andança. A canção, feita em parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, ficou em terceiro lugar no Festival da Canção daquele ano e lançou a cantora Beth Carvalho.
Com a explosão de Andança, Danilo abandonou o curso de arquitetura no último ano e se dedicou à carreira de compositor e instrumentista. “Comecei a trabalhar como flautista com o Edu Lobo. A seguir, fiquei muito amigo do pessoal do Clube da Esquina, do Milton Nascimento, com quem gravei todos os discos do grupo. O Milton gravou, de forma brilhante, uma composição minha chamada Meu Menino", lembra.
Não só. "Gravei como flautista no primeiro disco do Milton e vários álbuns importantes, por exemplo, com Simone, o Face a Face, e com Sarah Vaughan, quando esteve no Brasil. Tenho uma história como flautista muito grande. Também como compositor de trilhas de sonoras. Mas, de certa maneira, o Tom me descobriu como cantor. Isso me obrigou a estudar um novo instrumento. E, a partir daí, segui e me consolidei”, afirma.
Jobim passou a sugerir as músicas que gostaria de ouvir na voz de Danilo em seus shows. “Era uma responsabilidade muito grande para mim na banda, trabalhar com esse repertório. E, graças a Deus, ele gostava muito da minha interpretação da obra dele, das coisas que eu cantava. Para esse espetáculo, eu e Stacey conversamos muito sobre interpretação e como abordar certas músicas. Ela é uma intérprete maravilhosa”, afirma.
O encontro das vozes
Danilo e a cantora americana se conheceram pessoalmente, quando Stacey participou da gravação do disco Danilo Canta Tom Jobim e interpretaram juntos Estrada do Sol. Stacey Kent canta tanto em português, quanto em inglês e francês. Caymmi é só elogios para a companheira de espetáculo.
“Estou muito focado nesse trabalho com a Stacey. Sou fã dela. Conversamos muito sobre interpretação e a abordagem de determinadas músicas. É tudo muito estudado. Mas o que vale mesmo é a emoção, a concentração, a beleza da música com as letras dessas canções. Letras do Tom e do Vinícius”, diz.
Sobre o show na Casa da Música do Porto, Danilo Caymmi elogia a arquitetura e a acústica da sala. “É impressionante o teatro. Eu andei com o Tom por teatros importantes no mundo inteiro. Mas a acústica e a infraestrutura da Casa da Música são muito boas. E, principalmente, o público é muito legal. Eu me sinto muito à vontade em Portugal. Não há barreiras", assinala. E complementa: "Não sou muito de sair do Brasil, mas Portugal é muito fácil para mim. Fico muito feliz nesses teatros maravilhosos e com os músicos que trabalham com a gente. Dá até vontade de levá-los para o Brasil, mas os custos são elevados.”
Acompanham os cantores no show no Porto os músicos James Tomlinson (saxofone), Tatiana Mafalda (violoncelo), Flávio Mendes (guitarra), Rui Miguel Maia e Mariana Inácio (flautas). Após a rápida passagem pela Europa, o duo segue para o Brasil, onde cantam em algumas cidades e gravam um disco ao vivo.
“No final de novembro, devemos fazer alguns concertos no Brasil. No Rio de Janeiro e, talvez, Brasília e São Paulo. Fico muito feliz que o público brasileiro conheça a Stacey mais profundamente. Recomendo, inclusive, que ouçam as interpretações dela Águas de Março e Eaux de Mars. Parece simples, mas é uma canção extremamente difícil e ela faz lindamente”, conclui.