Quatro mortos em campo de refugiados no primeiro ataque israelita contra norte do Líbano

Alvo do ataque foi Saeed Atallah, líder do Hamas, que morreu, juntamente com três familiares. Campo de refugiados fica a cinco quilómetros da segunda cidade mais importante do país, Tripoli.

Foto
Explosões esta madrugada nos subúrbios de Beirute, depois de exército israelita ter emitido ordens de evacuação para vários subúrbios da capital do Líbano JOÃO RELVAS / LUSA
Ouça este artigo
00:00
06:08

Pelo menos quatro pessoas, incluindo duas crianças, morreram no campo de refugiados de Beddaoui esta madrugada, no primeiro ataque do exército israelita contra o norte do Líbano desde o início do conflito. De acordo com o canal de televisão libanês Al Manar, o bombardeamento das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) deixou uma habitação completamente queimada e provocou vários feridos.

O jornal libanês L’Orient-Le Jour avançou que o alvo do ataque era um membro do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O jornal israelita Times of Israel identificou Saeed Atallah, líder do braço armado do grupo, as brigadas al-Qassam, como uma das vítimas mortais, juntamente com três familiares, informação confirmada entretanto pelo grupo.

O ataque a este campo, situado a cinco quilómetros da segunda cidade mais importante do país, Tripoli, é o primeiro das IDF no norte do Líbano desde que os confrontos com a milícia xiita Hezbollah começaram. Israel expandiu drasticamente as suas “operações terrestres limitadas” (como descreveu) no Líbano nas últimas semanas, após quase um ano de troca de ataques com o grupo armado libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão. Até aqui, os ataques estavam limitados às zonas fronteiriça Israel-Líbano, ocorrendo paralelamente à guerra em Gaza, que matou, segundo os números mais recentes, 41.825 palestinianos e feriu mais de 96 mil.

Cerca de dois mil libaneses morreram desde o começo do conflito, a maior parte nas últimas semanas, e mais de 1,2 milhões foram ainda deslocados pela onda de bombardeamentos.

Também esta manhã, uma série de explosões foram ouvidas nos subúrbios a sul de Beirute, depois de o exército israelita ter emitido ordens de evacuação para vários subúrbios da capital do Líbano. De acordo com a agência de notícias France-Presse, havia nuvens de fumo a subir da área próxima do aeroporto de Beirute.

As IDF tinham emitido de madrugada um novo aviso ordenando a retirada dos residentes de alguns edifícios no sul de Beirute e daqueles localizados num raio de 500 metros, avisando que iriam atacar alvos do Hezbollah. A televisão Al Manar também relatou esta madrugada ataques armados de Israel nas cidades de Bardala, a noroeste de Ramallah, e Burga, perto de Nablus.

Ainda esta manhã, o Hezbollah afirmou estar envolvido em confrontos com as tropas israelitas na fronteira entre o sul do Líbano e o norte Israel. “Os soldados israelitas inimigos tentaram novamente avançar em direcção aos arredores da aldeia do município de Adaysseh” e “os confrontos continuam”, afirmou o grupo em comunicado.

Israel tem realizado bombardeamentos nocturnos nos subúrbios do sul de Beirute, outrora densamente povoados e um reduto do Hezbollah. As IDF dizem ter "eliminado grande parte da alta liderança militar do Hezbollah", incluindo o líder do movimento xiita libanês, Sayyed Hassan Nasrallah, que morreu num ataque aéreo a 27 de Setembro.

Finul mantém posições na fronteira

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL), destacada ao longo da fronteira entre Israel e o país, anunciou, entretanto, que “mantém as suas posições”, apesar do pedido do Exército israelita para “deslocar algumas” dessas posições.

Em comunicado, a FINUL afirma que o Exército israelita lhe pediu, a 30 de Setembro, “para retirar as forças de manutenção da paz de algumas das suas posições”, informando-o “da sua intenção de realizar incursões terrestres limitadas" no Líbano. “No entanto, as forças de manutenção da paz estão a manter a sua presença em todos os locais”, acrescentou. “Temos planos prontos para serem activados em caso de absoluta necessidade”, acrescentou a FINUL. “A segurança das forças de manutenção da paz é primordial e recordamos a todas as partes a sua obrigação de a respeitarem”, diz o comunicado.

“Apelamos ao Líbano e a Israel para que apliquem a Resolução 1701 do Conselho de Segurança, que é a única solução viável para trazer estabilidade à região”, insiste a FINUL.

Esta resolução, que pôs fim à guerra entre Israel e o Hezbollah em 2006, estipula que apenas as forças de manutenção da paz e o Exército libanês devem ser colocados no sul do Líbano, entre a fronteira com Israel e o rio Litani. Prevê a retirada das forças armadas não estatais, incluindo o Hezbollah, que mantiveram uma presença no sul do país após o fim da guerra. Cerca de 10 mil elementos das forças de manutenção da paz da ONU estão destacados no sul do Líbano.

EUA e Reino Unido em alerta para aniversário de ataque do Hamas

A polícia de Londres e a polícia de investigação dos Estados Unidos alertaram para possíveis protestos e actos violentos este fim-de-semana, com o aproximar do primeiro aniversário do ataque do Hamas contra Israel.

A polícia de investigação dos Estados Unidos, o FBI, alertou na sexta-feira para a possibilidade de actos “contra a segurança pública” no país e pediu à população que preste atenção "à sua volta a toda a hora e comunique actividades suspeitas às autoridades". “É provável que as organizações terroristas estrangeiras e outros extremistas violentos continuem a explorar narrativas relacionadas com o conflito para incitar atacantes solitários”, disse o FBI.

O aniversário do ataque “poderá motivar agentes agressores de todas as ideologias, incluindo aqueles que defendem o anti-semitismo violento e a islamofobia”, acrescentou a polícia, num comunicado emitido pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos.

Sobretudo tendo em conta o aumento observado nos EUA de crimes de ódio “ligados ao conflito” no Médio Oriente, disseram as duas instituições. O comunicado referiu que espaços comunitários, reuniões públicas ou instituições religiosas, como sinagogas, mesquitas ou centros islâmicos têm sido “alvos atractivos para ataques ou falsas ameaças”.

Também na sexta-feira, a Polícia Metropolitana de Londres anunciou o destacamento de uma “grande operação policial (…) nos próximos dias, em resposta aos protestos e eventos planeados para assinalar o aniversário dos ataques terroristas”.

“Reconhecemos que este fim-de-semana, tão perto do aniversário de 7 de Outubro, as emoções serão intensificadas e os receios pela segurança aumentarão compreensivelmente”, acrescentou num comunicado, a comandante Louise Puddefoot, que dirige a operação policial.

A polícia de Londres, conhecida como Met, recordou que tanto o Hamas como o aliado, a milícia xiita libanesa Hezbollah, actualmente também em conflito com Israel, são consideradas organizações terroristas no Reino Unido. “Qualquer pessoa que exiba símbolos, palavras ou que de qualquer forma indique apoio a uma organização banida corre o risco de ser presa”, alertou Puddefoot.