Médicos de família defendem que deve evitar-se “duplo seguimento” do doente no SNS e no privado

A declaração surge como reacção ao aviso feito pela ERS, que afirmou que unidades do SNS não podem recusar cuidados aos seus utentes pelo facto de serem acompanhados no sector privado ou social.

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"Quando [o duplo seguimento] é necessário, não deve ser recusado e certamente que não é recusado", disse o presidente da Associação Portuguesa de MGF Nuno Ferreira Santos
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O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar defendeu esta sexta-feira que deve evitar-se "o duplo seguimento" do doente no público e no privado, mas realçou que o acesso ao SNS "não deve ser recusado".

Nuno Jacinto reagia desta forma ao aviso feito, na quinta-feira, pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) a todas as unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de que não podem recusar cuidados aos seus utentes pelo facto de serem acompanhados no sector privado ou social.

Em declarações aos jornalistas à margem na comemoração do 125.º aniversário da Direcção-Geral de Saúde, em Carcavelos, o médico afirmou que a assistência no SNS tem que continuar a acontecer.

"Devemos também tentar evitar o duplo seguimento, isso é verdade, não temos interesse em estar a seguir pessoas ao mesmo tempo no público e no privado. Agora, quando ele é necessário, não deve ser recusado e certamente que não é recusado", declarou.

Ressalvando que o alerta do regulador da saúde "é importante", Nuno Jacinto disse, contudo, que não lhe parece que a situação apontada constitua "a generalidade das situações que ocorrem nos centros de saúde e nos hospitais do país".

Questionado sobre uma notícia avançada esta sexta-feira pelo PÚBLICO, segundo a qual o Governo vai reduzir o peso da prescrição de medicamentos e exames na avaliação do desempenho das equipas das USF modelo B, Nuno Jacinto frisou que "as equipas não recusam com base em critérios económicos".

O médico explicou que as USF são avaliadas pelos exames e medicamentos que prescrevem, mas assegurou que não é esse o factor que leva os médicos "a prescrever mais ou menos". "Nós temos que prescrever com qualidade e pomos sempre o interesse do doente à frente de tudo e, portanto, quando o exame é preciso, quando o medicamento é preciso, ele é prescrito", garantiu.

Sublinhou ainda que é preciso trabalhar para ter indicadores que correspondam "à prescrição real e que não sejam apenas números teóricos que de alguma forma possam contrariar esta realidade".

"Mas médicos, enfermeiros, colocam sempre o interesse do doente em primeiro lugar e nunca vão deixar que critérios económicos limitem o cuidado que prestam aos seus utentes", sustentou.