Marcelo sobre OE2025 : “A melhor maneira que tenho de servir o interesse nacional é não dizer nada”

Fonte de Belém disse à Lusa que, “estando ainda em curso diligências” sobre o Orçamento do Estado para 2025, o Presidente “considerou mais avisado adiar a deslocação prevista à Estónia e à Polónia”.

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Marcelo Rebelo de Sousa com Luís Montenegro PAULO NOVAIS / LUSA
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O Presidente da República garante que, depois das diversas intervenções para "influenciar" e "pressionar" no sentido da viabilização do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), doravante nada mais dirá sobre a matéria, porque tudo o que "dissesse agora funcionaria negativamente e não positivamente”.

No dia em que Belém revelou que Marcelo Rebelo de Sousa cancelou as viagens à Estónia e à Polónia previstas para a próxima semana, para estar no país na data em que a proposta orçamental é entregue pelo Governo, o chefe de Estado assume: “Acho que a melhor maneira que eu tenho de servir o interesse nacional, neste momento, é não dizer nada sobre isso [OE2025], porque estamos muito perto do termo do prazo da entrega da proposta, que é no dia 10” de Outubro.

Menos de uma semana depois de ter intensificado a pressão – até então sobretudo centrada no PS –, passando a incluir o Governo, que é "minoritário" e está "preso por fio fraco", o Presidente da República abdica agora do poder de influenciar por considerar que se aproxima o momento de todas as definições, em especial na sequência da troca de propostas e contrapropostas entre o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro.

“Porque estamos num momento que é importante, porque é o momento em que as posições se definem, de um lado e de outro, daqui a quatro dias, cinco dias, e, portanto, tudo o que o Presidente dissesse agora funcionaria negativamente e não positivamente”, disse Marcelo, em Tomar, em declarações transmitidas pela RTP3.

Recusando comentar o teor da contraproposta feita na quinta-feira por Montenegro a Pedro Nuno, o Presidente diz que a pressão que lhe cabia chegou ao fim com a realização do Conselho de Estado, na passada terça-feira, encontro no qual, de forma generalizada, os conselheiros de Marcelo pressionaram o líder socialista a viabilizar as contas públicas do próximo ano.

“A pressão que reconheci ter feito parou no Conselho de Estado. O Presidente não deve fazer mais nada”, disse Marcelo, assegurando que a partir desse momento “não falará com nenhum dos protagonistas” sobre o OE2025.

Questionado sobre se o adiamento das duas viagens ao estrangeiro significa que está mais "preocupado" quanto às possibilidades de viabilização do OE2025, o chefe de Estado rejeita: “Não, não, não, não quer dizer rigorosamente nada. Quer dizer que aquilo que poderia ter chegado a uma definição mais cedo não chegou. [E que] o que pode chegar a uma definição mais tarde pode não chegar.”

É também essa possibilidade de não chegar a que Marcelo recorre para justificar a permanência no país durante a próxima semana. "Entendo que é mais avisado ficar cá para acompanhar de perto [o processo orçamental] (...). Os portugueses não compreenderiam que, sendo tão importantes estes dias, eu estivesse a milhares de quilómetros.”

E para que não subsistam dúvidas de que o Presidente da República está apostado em contrariar aquela que vem sendo a sua práxis presidencial, desde logo em matérias orçamentais, Marcelo frisa que "acompanhar não quer dizer intervir”.

Marcelo Rebelo de Sousa tinha previsto deslocar-se à Estónia entre segunda e quinta-feira, para uma visita de Estado, a convite do seu homólogo, Alar Karis, e depois a Cracóvia, na Polónia, entre quinta e sexta-feira, para o 19.º encontro informal do Grupo de Arraiolos.

"Terminando no próximo dia 10 de Outubro o prazo para entrega na Assembleia da República da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2025, mas estando ainda em curso diligências do Governo, designadamente com o PS, com vista a concluir tal proposta, o Presidente da República considerou mais avisado adiar a deslocação prevista à Estónia e à Polónia na próxima semana e manter-se no país", havia adiantado à Lusa fonte da Presidência da República. com Lusa

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