Olá.

Esta newsletter pode seguir um de dois caminhos. Aquele que mais apetece à autora é manifestar o seu contentamento perante a estreia de um especial de comédia de Ali Wong na Netflix esta semana. Não é propriamente o papel deste espaço, mas sendo esta uma janelinha feita de escolhas, e com tantas séries e programas em fila de espera para ver antes (Irreversível, da RTP1), durante (Homicídios ao Domicílio) ou depois (Kaos, da Netflix) da sua estreia, um espectador semi-profissional também tem as suas preferências. E quando algo como Single Lady se destaca no rol da semana em que há novas criações de Armando Iannuci, em que se falou com Sam Mendes ou se reúnem os rapazes de E a Tua Mãe Também (2001), talvez mereça este parágrafo.

Está feito, prossigamos. Passemos às declarações de dois nomes importantes do sector do audiovisual, de duas gerações e "equipas" diferentes dos media, que esta semana postularam a mesma coisa: o streaming não é um bom negócio para as empresas. Vamos só deixar aqui essas opiniões bem informadas.

Por um lado, o veterano John Malone, poderoso na sua posição de accionista significativo da Warner Bros Discovery (dona da Max) e do alto dos seus 83 anos, resumiu numa conversa com a empresa de análise Moffett-Nathanson o negócio do streaming como "terrível" (tipo "muito mau" ou "sem ganhos à vista", descodifique-se). Para ele, o streaming enquanto tecnologia "resolveu o problema da facilidade de acesso à la carte", mas as séries, filmes, documentários e seus produtores escolheram "ir directamente ao consumidor, virando as costas aos grossistas", uma poupança por cabeça de "dois ou três dólares" por não terem nos grupos e canais incumbentes os seus intermediários, e "acabaram por prejudicar, se não mesmo destruir, o que era uma indústria muito forte".

Ele também constata o óbvio, ou um dos grandes temores do sector (e quem sabe do mundo?). "As grandes empresas de tecnologia [Big Tech] vão acabar por comer tudo — a nossa indústria e todas as outras — simplesmente porque têm uma escala imensa, um poder económico imenso. Vai ser muito difícil mantê-las fora de qualquer coisa em que queiram entrar, porque podem comprar a sua entrada."

Palavra a Evan Shapiro, que trabalhou para a NBCUniversal e para a Participant Media como responsável negocial mas que também foi produtor no terreno. Foi a Madrid à Iberseries & Platino Industria para criar clickbait (conscientemente) dizendo que as tais grandes tecnológicas são as "Estrelas da Morte", numa sempre bem-vinda alusão às estações espaciais destruidoras de Star Wars, para depois focar um ponto que pode interessar a um país como Portugal onde a publicidade está a entrar calmamente no streaming.

As suas críticas dirigiram-se à Netflix, que ao introduzir a publicidade através de um novo tipo de assinatura (ao invés do que fez, por exemplo, a Prime Video, que diz ao consumidor que tem de pagar mais para não ver os anúncios que inevitavelmente vão aparecer)​ criou um modelo seguido pela concorrência que será a sua perdição — diz Shapiro. "Todos os cavaleiros do apocalipse do streaming seguiram-no sem analisar realmente o que aconteceria se seguissem o modelo de ir directamente ao consumidor", defendeu.

Em suma, estes dois homens acreditam que a Netflix encetou um negócio e um modelo que pôs as empresas de entretenimento a lidar directamente com o consumidor, individualmente, diariamente, mensalmente, em vez de usar ideias que prevalecem ainda hoje no panorama português que são os pacotes de vários canais/plataformas. A proliferação de plataformas é como deixar cair um puzzle enquanto se tenta juntar as peças, alude Evan Shapiro, para quem, no fundo o streaming é um negócio "merdoso". Lá está, nada como usar as palavras para criar efeito. Quem é que sabe isso muito bem? Ali Wong.

O que anda a ver

Sam Mendes, realizador e produtor executivo da nova série da Max The Franchise

"No outro dia vi o mais recente filme de O Lugar Silencioso, a sequela [que é uma prequela, Um Lugar Silencioso: Dia Um]. Achei que era um filme muito bom. Está muito bem feito, as personagens adequadas. É um thriller muito bom, não é preguiçoso, não é desleixado, não é irreflectido."

Netflix

Sexta-feira, 4 de Outubro

O Que Está Dentro — "Um grupo de amigos junta-se para uma festa pré-nupcial que se torna um pesadelo existencial quando uma pessoa de quem se tinham afastado aparece com um jogo misterioso que desperta segredos, desejos e rancores há muito ocultos." Que sinopse, que festão. Bem recebido nos festivais de Sundance e South by Southwest, é o primeiro filme de Greg Jardin.

Segunda-feira, 7 de Outubro

The Menendez Brothers — Depois da série da Netflix que um dos Menendez mandou criticar, via mulher via Twitter (está bem, X), o documentário da Netflix em que os irmãos que mataram os pais pela primeira vez se "reúnem" — por telefone, em chamadas das respectivas prisões — para falar do crime de 1989.

Terça-feira, 8 de Outubro

Single Lady — Finalmente, mais Ali Wong. O novo e quarto espectáculo de stand up da humorista para a Netflix estreia-se com ela já divorciada, mãe e com muitos palpites e observações para partilhar. O seu estilo inconfundível foi capturado em Los Angeles no The Wiltern e o espectáculo é realizado pela própria. Depois de Don Wong, Hard Knock Wife e Baby Cobra, e da série Beef, mais Ali Wong, obrigada.

Dinner Time Live With David Chang — Segunda temporada da série do chef David Chang, que acredita e quer provar que 99% de toda a culinária na televisão e nas redes sociais é falsa. Cozinha ao vivo em Los Angeles para os seus amigos célebres.

Quarta-feira, 9 de Outubro

Starting 5 — Nova série de dez episódios sobre os bastidores da época de 2023-2024 da NBA a partir dos olhos de cinco jogadores com diferentes graus de relevância: Jimmy Butler (Miami Heat), Anthony Edwards (Minnesota Timberwolves), LeBron James (Los Angeles Lakers), Domantas Sabonis (Sacramento Kings) e Jayson Tatum (Boston Celtics). "Um retrato sem filtros da vida da elite do basquetebol profissiona", diz a Netflix. A ver se assim é.

Quinta-feira, 10 de Outubro

Tomb Raider: The Legend of Lara Croft — Lara Croft, a heroína de videojogos que foi heroína do cinema, agora é heroína da animação. A história pega onde ficou a trilogia de jogos Tomb Raider: Definitive Survivor. Com a voz de Hayley Atwell, Croft está sozinha pelo mundo quando tem de regressar a casa porque lhe roubam um perigoso artefacto chinês. Oito episódios.

Breaking the Silence: The Maria Soledad Case — Filme que assinala os 30 anos da morte de María Soledad, assasinada e cuja morte foi a primeira a ser reconhecida como um caso de femicídio na Argentina.

Outer Banks — Temporada 4 da série, mas que recua no tempo e à descoberta do ouro pelos Pogues.

Filmin

Quinta-feira, 10 de Outubro

Só Nós Dois — Filme de Valerie Donzelli com Virginie Efira e Melvil Poupaud como protagonistas da história de Blanche, uma mulher presa numa relação tóxica.

Kiddo — Comédia dramática de Zara Dwinger que filma uma fuga de mãe e filha sem o dramatismo que tal poderia pressupor, prestando homenagem aos grandes mitos do cinema.

R U There — Filme de David Verbeek sobre duas pessoas que se encontram num videojogo, o Second Life, e na vida real, em Taipei, mas vivem em grande solidão.

A Infância Perdida — Horror e fantástico num filme sobre os traumas de infância de Audrey, de dez anos, a sua irmã e os seus dois irmãos preparam-se para passar as férias numa casa isolada na floresta. O pai desaparece e a floresta impede-os de partir. A chave está nos sonhos de Audrey.

Amazon Prime Video

Sexta-feira, 4 de Outubro

Citadel Diana — Continuação do universo Citadel, a agência de espionagem global, desta feita passada em 2030 e em Milão, oito anos depois de ter sido desmantelada pelos seus inimigos. A agente infiltrada da Citadel no sindicato Manticore Diana Cavalieri finalmente vê uma saída.

Globoplay

Sábado, 5 de Outubro

Som Sertanejo — Série documental sobre a última década da música sertaneja no Brasil. Cinco episódios, com temas e artistas diferentes a cada um.

Terça-feira, 8 de Outubro

Brasil Visto de Cima à Noite — Série documental baseada em voos entre o pôr-do-sol e a aurora.

Apple TV+

Sexta-feira, 4 de Outubro

A Family Curse — Segunda temporada da série da DreamWorks Animation com produção executiva de John Krasinski e que tem como timing o Halloween. A maldição desta família foi vencida mas Alex, devolvido ao seio familiar, não parece bem. Há mais mistérios na Mansão Briarstone.

Max

Sexta-feira, 4 de Outubro

Angel of Death – Quarta temporada da série que investiga os motivos dos assassinos.

Segunda-feira, 7 de Outubro

The Franchise — Nova série de John Brown (Succession) com produção executiva de Armando Ianucci (Veep) e de Sam Mendes, que realiza também o primeiro episódio. Basicamente é uma grande piada às custas da Marvel e do esgotamento sem sentido da feitura de filmes de super-heróis já longe do seu pico de qualidade e preocupação criativa.

Disney+

Quarta-feira, 9 de Outubro

A Máquina — Gael García Bernal e Diego Luna de novo juntos. Esteban "A Máquina" Osuna (Gael García Bernal) é um pugilista que sofre uma derrota brutal e o seu empresário e melhor amigo Andy Lujan (Diego Luna) quer pô-lo a ganhar outra vez. O boxe, porém, está rodeado de criminalidade e riscos para a família dos desportistas.

Perdido no streaming

Este especial sobre comédia stand-up (e não um especial de comédia stand-up) já data de 2022, mas Stand Out — An LGBTQ+ Celebration é sempre de ver. Suzy Eddie Izzard, Sandra Bernhard, Margaret Cho prestam testemunhos essenciais para se perceber não só a importância da representação na comédia stand-up, como em tantas áreas de exposição pública, mas também como a própria comédia em palco se alterou. Primeiro eram histórias, ou piadas soltas, ou one-liners e punchlines, mas os comediantes LGBTQ+ exemplificam na perfeição (e de certa forma até abrem caminho) como agora este tipo de comédia é baseado na identidade. É muito interessante ver como Tig Notaro ou Hannah Gadbsy, por exemplo, analisam a forma até autodepreciativa como falavam da sua homossexualidade nos seus espectáculos e mudaram de abordagem; ou ver uma versão (muito superficial) do trajecto de Izzard, da forma como impactou os seus colegas mais jovens.

Ler para ver

PÚBLICO: John Amos (1939-2024), um pai lendário na televisão e no cinema

PÚBLICO: From, a cidade de onde não se pode sair

Observador: Ninguém Quer Isto: a série em que tudo está certo, tirando aquilo que está errado

The Guardian: ‘I fell asleep driving around London’: TV workers on fear, danger and fatalities in an industry in crisis

The New York Times: Freaks and Geeks,’ TV’s Least Likely to Succeed, Won by Losing

El País: Cómo vender una serie en 15 minutos
 

Até ao Próximo Episódio.