“Estamos muito empenhados em agilizar o caminho da descarbonização”

João Martins de Carvalho sublinha como a E-REDES, enquanto facilitadora da transição energética, está empenhada em alinhar-se com as metas nacionais e europeias de neutralidade carbónica.

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Com 70% das fontes de produção renovável ligadas à rede, a E-REDES desempenha um papel essencial na transformação da sociedade rumo à descarbonização. A instalação de 6.5 milhões de contadores inteligentes e a modernização da iluminação pública são passos importantes para aumentar a eficiência energética e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. Estivemos à conversa com João Martins de Carvalho, board member da E-REDES, no novo edifício sede da distribuidora de energia eléctrica nacional, um espaço em Lisboa que reflecte o compromisso da empresa com a sustentabilidade.

Quais são os principais objectivos da E-REDES no âmbito da descarbonização e como pretende a empresa alinhar-se com as metas nacionais e europeias de neutralidade carbónica?

A primeira nota é que a E-REDES está totalmente comprometida com os objectivos nacionais e europeus de neutralidade carbónica. O principal é assumirmos um papel de facilitadores desse processo, ou seja, temos objectivos para descarbonização nas tarefas que desempenhamos, mas o nosso contributo extravasa o perímetro interno da empresa pois somos facilitadores dessa transformação na sociedade. Posso dar alguns exemplos. Somos uma entidade-chave na ligação a fontes de produção renovável. Quase 70% das fontes de produção renovável estão ligadas directamente à nossa rede. Somos também a entidade responsável pela ligação de pontos de carregamento de veículos eléctricos. Outros exemplos passam pela viabilização de soluções de autoconsumo, de comunidades de energia, entre outros. Estamos muito empenhados em agilizar o caminho no sentido da descarbonização.

E que tecnologias e inovações estão a ser implementadas para reduzir as emissões de carbono nas operações da empresa?

De facto, esse é um dos aspectos em que é importante distinguir o que é a intervenção nas nossas operações do que é um contributo mais alargado. Naturalmente temos medidas internas, por exemplo, ao nível de electrificação da frota, aumento de economia circular, mas o nosso principal contributo relaciona-se com a potenciação da redução de emissões para a sociedade. E aí posso destacar duas tecnologias. Uma, mais visível, são os contadores inteligentes. Neste momento, estamos a concluir a instalação por todo o país, são quase 6.5 milhões de contadores inteligentes, que têm um papel muito relevante na redução de emissões. E porquê? Em primeiro lugar, porque no passado era necessária uma deslocação a casa do cliente para fazer a leitura ou uma alteração contratual, agora estas operações são feitas remotamente. Assim, as emissões associadas às deslocações desaparecem por completo. O contador inteligente é também uma tecnologia essencial para promover a eficiência energética. Enquanto antes o cliente só passado três meses avaliava quanto é que tinha sido o seu consumo e só nesse momento poderia tomar medidas mitigadoras de eficiência energética, com o contador inteligente pode conhecer o seu consumo de forma diária ou no limite quase instantânea. Por isso, tem muito mais capacidade para reagir e adequar o seu comportamento. Outra tecnologia, também muito relevante, são os LEDs na iluminação pública, em que temos assistido a muitas alterações, seja do ponto de vista da fonte luminosa, seja das capacidades de controlo remoto dessa tecnologia. E também aí temos feito um caminho grande. Temos a ambição de em 2027 ter a totalidade do país com LED, que tem um contributo enorme para a eficiência energética, neste caso para os municípios, que são quem suporta de forma directa essa factura. Mas não só, o nosso trabalho não se limitou a substituir a tecnologia por uma mais eficiente, implementámos também a possibilidade da parametrização horária da ligação ou da intensidade luminosa, tudo de forma remota.

Em termos de integração de energias renováveis, como a solar e a eólica na rede eléctrica, que avanços assinala?

Como já referi, 70% de toda a energia renovável já está ligada à nossa rede. O número vai crescer, as previsões apontam para que até 2030 a potência de energia renovável possa duplicar. Do ponto de vista técnico, destacaria dois projectos. Estamos a implementar uma solução mais avançada do sistema de controlo da rede, que vai permitir fazer uma gestão em tempo real e mais optimizada dos recursos renováveis ligados à nossa rede. E estamos a investir fortemente na sensorização dos circuitos de baixa tensão para garantir que temos uma capacidade de visualização e de actuação equivalente à que temos na média e alta tensão.

E quais são os maiores desafios que enfrentam na transição para uma rede mais sustentável e descarbonizada?

Tal como o nosso contributo está vocacionado em grande medida para a sociedade em geral, o desafio também é encarado na mesma perspectiva. Como temos presença em todo o território, percebemos as diferentes dinâmicas que há a nível regional, onde os investimentos estão a acontecer e quais as dificuldades. Um dos contributos, talvez um dos mais importantes, passa pela transparência da informação para acelerar o ritmo dessa transformação e para desbloquear eventuais obstáculos. Ou seja, para esta transformação acontecer é preciso que tenhamos agentes conhecedores e comprometidos com este processo. Estamos a falar, obviamente, de investidores, mas também estamos a falar das câmaras municipais, da academia e, naturalmente, dos cidadãos. É preciso garantir que a sociedade está comprometida e que tem as ferramentas necessárias para dar o seu contributo. E, endereçando essa necessidade, lançámos uma iniciativa a que chamámos Open Data, onde colocámos toda a informação relativa à nossa rede, seja de activos, de consumo, de renováveis ou de contadores inteligentes. Ou seja, uma informação com enorme potencial que permite, por exemplo, a um município fazer uma radiografia completa do estado em que se encontra a transição energética na sua área de influência, como tem evoluído ao longo do tempo e como pode ser comparada com municípios vizinhos. Temos também o exemplo da mobilidade eléctrica. Actualmente, graças a esse serviço do Open Data, que é gratuito e aberto a qualquer pessoa, é possível consultar, para cada posto de transformação do país, qual é o seu grau de utilização e a quantidade de potência sobrante. Ou seja, o cliente pode já fazer uma parte da pesquisa prévia e aferir a circunstância da rede na zona pretendida antes de nos contactar. Portanto, os pedidos quando chegam são muito mais dirigidos e viáveis.

Com todas as iniciativas que refere é bem visível o impacto da E-Redes nas comunidades locais e nos consumidores finais…

Sim, todo este processo vai criar cidades e territórios mais sustentáveis, mais competitivos, mais resilientes, com cidadãos mais envolvidos, mais comprometidos com a transformação energética e, acreditamos nós, também com custos mais baixos, a prazo, com um serviço de energia mais eficiente. Por exemplo, uma manifestação disso é o caso da iluminação pública. Hoje, a E-REDES é responsável por 85% da iluminação pública em Portugal e o facto de já termos substituído mais de 60% do parque do país por LED tem permitido uma poupança aos municípios de cerca de 60 milhões de euros por ano. Acreditamos que essa poupança possa atingir os 100 milhões quando a substituição por LED estiver concluída. Isto é possível graças a muito investimento, estamos a falar, só em LED, de 25 milhões de euros de investimento, mas como digo, isto é a ponta do iceberg de tudo o que a E-REDES tem feito. Nos últimos 10 anos, investimos três mil milhões de euros na rede, dos quais 1.500 milhões só na rede de baixa tensão.

Esse investimento tem sido uniforme em todo o país?

É uma pergunta interessante, porque de facto um dos objectivos que nós temos é o da redução das assimetrias de qualidade de serviço a nível nacional. Neste momento, podemos orgulhar-nos de ter a totalidade dos municípios do país em conformidade com os padrões regulamentares em termos de qualidade de serviço técnico. Isso porque houve o cuidado de direccionar o investimento para as zonas que precisavam mais, ainda que por vezes possam representar menos em termos de consumo, mas a nossa missão é de garantir essa uniformidade de serviço a nível nacional e essa coesão territorial.

É expectável um retorno financeiro de todos estes investimentos?

O retorno é para o país. Actualmente temos já 60% da energia do país proveniente de fontes de energia renovável. Esse facto permitiu-nos ficar mais protegidos em relação a flutuações do preço do gás natural, que foi crítica agora durante esta crise da Ucrânia, e termos preços médios substancialmente mais baixos do que o resto da Europa, durante este período de crise.
Por isso, não só é economicamente sustentável como garante uma economia mais resiliente e mais resistente perante choques externos, o que é fundamental para continuarmos a atrair investimento estrangeiro e, em particular, investimento com elevada intensidade energética e que procure fontes de energia verde, a custo baixo e com grande fiabilidade.


Este conteúdo está inserido no projecto "Descarbonização: que caminho para Portugal?", que inclui ainda case studies de empresas nacionais e uma conferência dedicada ao tema da descarbonização em Portugal.

Saiba mais aqui.

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