Fosso salarial entre homens e mulheres aumentou pela primeira vez em nove anos

Presidente da CITE revela que o maior aumento desta desigualdade é nos quadros superiores, por oposição aos quadros inferiores ou médios, entre os quais a “desigualdade não é tão elevada”.

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Aumento do "gap" salarial é bastante mais significativo nos quadros superiores e nas profissões mais qualificadas FILIP SINGER / EPA
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A presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) denunciou esta quinta-feira o aumento do fosso salarial entre homens e mulheres pela primeira vez em nove anos, sobretudo nos quadros superiores.

"Pela primeira vez, num ciclo de nove anos, nós vimos aumentar o "gap" [fosso] salarial de 13,1% para 13,2% se considerarmos o salário base, e de 15,9% para 16% se considerarmos o ganho [salário líquido] e isto deve preocupar-nos", disse Carla Tavares, que esteve hoje na subcomissão parlamentar para a Igualdade e Não Discriminação.

A presidente da CITE, que esteve a ser ouvida por quatro dos doze deputados efectivos da subcomissão, admitiu que o aumento pode parecer reduzido, mas apontou que é preciso desconstruir os números, tendo em conta que "o maior aumento desta desigualdade é precisamente nos quadros superiores", por oposição aos quadros inferiores ou médios, entre os quais a "desigualdade não é tão elevada".

"Nos quadros superiores e nas profissões mais qualificadas há um aumento bastante significativo do "gap" salarial entre mulheres e homens e isto é algo que deve merecer a nossa reflexão e percebermos o que pode ser feito para melhorarmos esta realidade", defendeu Carla Tavares.

A responsável referiu, a propósito, que a CITE tem prevista uma campanha para 2025 sobre partilha de tarefas domésticas e trabalho familiar, sublinhando que "é aí que está a base de todas as desigualdades".

"Enquanto nós não conseguirmos quebrar esta barreira, não conseguimos alcançar a efectiva igualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho", defendeu.

Elas trabalham mais 1h45 do que eles em casa

Segundo Carla Tavares, o diferencial no tempo que homens e mulheres gastam com trabalho doméstico "ainda é tão persistente" e lembrou que o último estudo da CITE revelou que as mulheres despendiam mais uma hora e 45 minutos do que os homens na realização dessas tarefas.

"Enquanto nós não diminuirmos este "gap" [no trabalho não remunerado], nós não vamos, de facto, conseguir resolver todos os outros problemas que afectam as mulheres nas mais diversas vertentes, mesmo ao nível da progressão da carreira", defendeu.

Questionou por que razão "as mulheres muitas vezes não acedem a lugares de maior responsabilidade", respondendo imediatamente que é "porque recai sobre elas outras responsabilidades", como o "tratamento da casa, da família, de cuidar dos filhos".

" [Isso] não lhes permite muitas vezes assumir funções de maior responsabilidade", sublinhou.

Além da campanha pela partilha de tarefas domésticas, a presidente da CITE disse que está também prevista outra campanha pela prevenção e combate ao assédio no trabalho.

Carla Tavares adiantou que em 2023 foram reportadas à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) 426 "situações de irregularidades" detectadas pela CITE e adiantou que está a ser ultimada uma ferramenta que irá permitir uma ligação mais directa entre as duas entidades para a monitorização dos processos.