Primeiro-ministro britânico paga de volta mais de 6000 libras em donativos

Criticado por ter aceitado bilhetes para concertos, jogos de futebol e corridas de cavalos e outros donativos, Starmer avança com reembolso para fazer as pessoas “confiarem nos políticos”.

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Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, lembra que não violou quaisquer regras, mas promete novo regulamento sobre ofertas e donativos OLIVIER MATTHYS / POOL / EPA
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Keir Starmer, primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido, procedeu na quarta-feira ao reembolso de mais de 6000 libras (acima de 7130 euros) em donativos que recebeu entre 17 de Agosto e 15 de Setembro. A informação consta na última actualização da sua declaração de interesses nos registos da Câmara dos Comuns do Parlamento de Westminster.

O chefe do Governo britânico tem sido muito criticado pela oposição e pela imprensa conservadora por ter aceitado vários donativos e ofertas de bilhetes para eventos culturais ou desportivos, entre outros presentes, nomeadamente através do empresário, doador do Partido Trabalhista e membro da Câmara dos Lordes, Waheed Alli.

Starmer foi ainda acusado de “desonestidade” e de “nepotismo” pela agora deputada independente Rosie Duffield, que se demitiu do Labour no final da semana passada, dizendo-se “envergonhada” com o líder.

Entre os donativos que Starmer reembolsou estão quatro bilhetes para um concerto da cantora norte-americana Taylor Swift (2800 libras), dois bilhetes para um jogo de futebol (598), quatro bilhetes para as corridas de cavalos Doncaster Races (1939) e as peças de roupa da designer Edeline Lee que a mulher do primeiro-ministro usou na London Fashion Week (839).

No que toca aos jogos que assistiu nos camarotes do estádio do clube de futebol londrino Arsenal F.C., Starmer esclareceu, na sua declaração de interesses, que sendo “detentor de um lugar de época pago” no Emirates Stadium, “o clube disse que, por questões de segurança, iria arranjar lugares” nos camarotes para si e para o seu filho “sempre que for viável”.

Segundo a imprensa britânica, Starmer já recebeu mais de 100 mil libras em ofertas e presentes desde o final de 2019, incluindo roupa, pares de óculos ou a utilização de uma mansão, avaliados em 32 mil libras, oferecidos por Alli.

O primeiro-ministro tem sublinhado várias vezes que não violou qualquer regra e, numa entrevista recente à Sky News, lembrou a jornalista que o confrontava sobre o tema que a própria estação televisiva lhe oferecia vários convites para os seus próprios eventos.

Questionado, ainda assim, na quarta-feira, sobre o caso, Starmer disse que o pagamento por aqueles donativos era a decisão “acertada” e prometeu apresentar brevemente um novo regulamento aplicável aos membros do Governo sobre as ofertas que recebem.

O regulamento da Câmara dos Comuns já obriga a que todos os donativos recebidos por qualquer deputado sejam registados e assumidos pelos próprios.

Nas últimas declarações de interesses emitidas pelos quatro deputados e candidatos à liderança do Partido Conservador, por exemplo, Tom Tugendhat informou que recebeu mais 152 mil libras em donativos; Robert Jenrick recebeu 134 mil; James Cleverly recebeu 89 mil e Kemi Badenoch recebeu 40 mil.

Em declarações à Times Radio e à Sky News nesta quinta-feira, a secretária de Estado da Indústria, Sarah Jones, apoiou a decisão do primeiro-ministro, nomeadamente a de pagar de volta apenas os donativos recebidos desde que assumiu o cargo, em Julho, e não de quando era líder da oposição, porque “há uma diferença” e uma responsabilidade acrescida.

“Somos um Governo novo. Estamos sempre preocupados e o principal ponto do discurso que Keir [Starmer] fez no congresso [do Partido Trabalhista, no mês passado] foi a falta de confiança que as pessoas têm na política”, lembrou Jones. “Temos de fazer mais para que as pessoas confiem nos políticos, porque a política pode ser uma força do bem.”

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