Manifesto convoca “buzinão” contra o excesso de turismo em Lisboa

No dia 9 de Outubro, os descontentes com o excesso de turismo em Lisboa vão fazer-se ouvir. O “buzinão” passará por seis locais da capital entre as 9h e a 13h.

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Manifesto convoca "buzinão" contra o "turismo descontrolado" em Lisboa Daniel Rocha
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Meia centena de pessoas subscrevem um manifesto contra o "turismo descontrolado" em Lisboa e apelam à mobilização para um protesto sonoro no dia 9 de Outubro, a próxima quarta-feira, em seis locais da capital, incluindo os edifícios da Câmara Municipal.

"Por Lisboa, faz-te ouvir!" é o lema do manifesto do movimento Porta a Porta, subscrito por 45 pessoas, que alerta para o impacto do "aumento desregrado do turismo", ao mesmo tempo que reclama "uma cidade aberta, limpa, organizada, que receba e acolha", com respeito por quem nela vive.

"Qualquer cidade deve ser um espaço para viver e visitar. Quando o primeiro dos termos é esquecido em detrimento quase em exclusivo do segundo, os desequilíbrios são muitos e insustentáveis", apontam.

Entre os signatários do manifesto, ainda aberto a novos subscritores, estão personalidades como a ex-deputada Heloísa Apolónia, o sociólogo e antigo líder da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses Manuel Carvalho da Silva, o economista Ricardo Paes Mamede, a historiadora Raquel Varela, as cantoras Cristina Branco e Mitó Mendes e as escritoras Luísa Costa Gomes e Tatiana Salem Levy.

O arquitecto Tiago Mota Saraiva, um dos subscritores, explica à Lusa que a iniciativa resulta de "uma incomodidade relativamente à forma como o turismo está a condicionar a vida na cidade", mas "não é um manifesto contra turistas". O que é preciso é um "turismo sustentável", contrapõe.

"Todos gostamos de ser turistas, o turismo faz parte das cidades", salvaguarda. O que está a acontecer é que "a total desregulação" está a fazer do turismo "uma entidade predadora da cidade, que a consome", explica Tiago Mota Saraiva. Nesse contexto, os serviços — cafés, restaurantes, lojas — "transformam-se única e exclusivamente para uma vertente turística" e a cidade fica "totalmente condicionada" a esses movimentos, que alimentam "uma economia extremamente precária" e a fazem "monotemática".

Perante o cenário, os subscritores do manifesto defendem que o Estado "deve condicionar, deve regular esse tipo de actividades". Ora, a Câmara de Lisboa "não está a condicionar. Aliás, Carlos Moedas está continuamente a colocar-se do lado de quem está nessa gula", aponta o arquitecto e professor universitário.

No manifesto, os subscritores consideram que o executivo de Carlos Moedas não reconhece a "existência de um problema que urge resolver, através de medidas de contenção da carga turística na cidade".

O manifesto olha também para o "discurso que atribui à imigração, de forma propositada, as causas de problemas", notando que, por exemplo, a crise na habitação decorre da "expansão desbragada e encorajada de um turismo descontrolado e da especulação imobiliária que surge como uma das suas primeiras consequências".

Tiago Mota Saraiva assinala que "a imigração tem que ter uma resposta de trabalho rápida e de emergência e é natural que vá para a economia que está mais à mão, que está ali, que é a economia do turismo, as lojas, os tuk-tuks, os TVDE".

Numa economia "profundamente desregulada", a imigração "entra sem condições de trabalho, com baixíssimas remunerações", o que cria "uma precarização total" não só das relações de trabalho, como das relações humanas. "Ao ponto de, de um momento para o outro, a pessoa que [...] tem contrato de trabalho, que ganha pouco, mas que tem os seus direitos como trabalhador assegurados, ver como seu principal inimigo o imigrante que não tem papéis", exemplifica.

Numa altura em que "Lisboa está a perder pessoas", porque a densidade populacional visível decorre da "carga turística brutal", que é temporária, os subscritores consideram que a cidade "está claramente a sentir o desconforto" e querem aproveitar o momento. "Há inúmeros relatos de turistas a dizerem que vêm a Lisboa há anos e que dizem que não voltam, porque neste momento já não vêem a cidade a acontecer, vêem uma turistificação desenfreada", assinala o arquitecto.

O grupo convocou para 9 de Outubro, entre as 9h e as 13h, uma acção de protesto, "de forma sonora", em seis locais da cidade: Praça do Município, edifício da Câmara de Lisboa no Campo Grande, Chiado, São Pedro de Alcântara, Portas do Sol e Avenida da Liberdade.