EUA: mais de 180 mortos e milhares de pessoas ainda sem água dias após furacão Helene

Biden e Harris analisam danos causados pela tempestade que matou mais de 180 pessoas. Cerca de 1,2 milhões de casas e empresas sem electricidade. Equipas de salvamento cercadas por inundações e caos.

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Pessoas caminham com água recolhida em sacos de plástico, em Asheville, Carolina do Norte, EUA, a 2 de Outubro de 2024 Eduardo Munoz / REUTERS
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Mobiliário destruído e outros objectos no exterior de uma casa após a passagem do furacão Helene, em Canton, Carolina do Norte, EUA Marco Bello / REUTERS
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Um trabalhador ajuda um residente a recolher água de um camião após a passagem do furacão Helene, em Asheville, Carolina do Norte, EUA Eduardo Munoz / REUTERS
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Trabalhadores ajudam os residentes a recolher água de um camião após a passagem do furacão Helene, em Asheville, Carolina do Norte Eduardo Munoz / REUTERS
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Martika Stansell observa os danos na sua casa após a passagem do furacão Helene, em Canton, Carolina do Norte, EUA Marco Bello / REUTERS
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Criança olha pela janela do seu quarto destruído após a passagem do furacão Helene, em Canton, Carolina do Norte Marco Bello / REUTERS
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Dezenas de milhares de habitantes da Carolina do Norte continuaram sem água corrente na quarta-feira, seis dias depois de o furacão Helene ter atingido a Florida e ter deixado um rasto de destruição em grande parte do sudeste dos EUA, matando mais de 180 pessoas. A poderosa tempestade inundou a parte ocidental do Estado com cheias catastróficas, destruindo condutas, danificando centrais de água e cortando a electricidade a milhões de pessoas.

Um quinto da população da metade ocidental da Carolina do Norte ainda não tinha água ou tinha pouca pressão no sistema nesta quarta-feira, de acordo com uma base de dados estatal em linha. Cerca de um milhão de casas e empresas em cinco estados continuavam sem electricidade, segundo o site Poweroutage.us.

Em Asheville, cidade fortemente atingida, o sistema municipal de abastecimento de água, que serve mais de 150.000 pessoas, ficou muito danificado. Muitos residentes foram avisados para a possibilidade de terem as suas torneiras secas durante dias ou mesmo semanas enquanto os canos são reparados. Aqueles que têm água foram aconselhados a fervê-la antes de a consumir.

Na quarta-feira, um fluxo constante de pessoas dirigia-se para o Pack Square Park, onde a cidade tinha montado um centro de distribuição de alimentos e água. Uma dúzia de voluntários distribuiu água potável a partir de um sistema de torneiras improvisado com tubos de PVC ligados a um camião-cisterna. Perto dali, os voluntários distribuíram refeições prontas a comer e sacos de plástico com água aos que não tinham recipientes ou jarros.

David Shoham, professor da East Tennessee State University, contou que estava à espera de abastecimento, referindo que está sem água e sem electricidade desde sexta-feira. Tinha enchido a sua banheira antes da tempestade, mas, desde então, tem vindo a reduzir esta sua reserva depois de lavar a loiça.

“É a realidade”, disse ele. “Não há nada que possamos fazer individualmente. Só temos de confiar que as nossas instituições vão dar um passo em frente e restabelecer os serviços. Sim, é frustrante. Mas a quem é que me vou queixar? Ao homem lá de cima?”

Jordan Lance, proprietário do Buxton Chicken Palace, e três dos seus cozinheiros encheram vários baldes e contentores, transportando-os numa carrinha. O grupo está a preparar refeições quentes três vezes por dia num refeitório próximo.

“Vamos fazer grandes quantidades de jambalaia, cozinhar arroz a vapor e levar comida quente para as pessoas”, disse Lance. Fica transtornado quando lhe perguntamos como é que o seu negócio iria suportar ficar sem água corrente, possivelmente durante semanas.

As pessoas na Carolina do Norte obtêm a sua água de uma variedade de lugares, dependendo do local onde vivem. Nas grandes cidades, a água provém de grandes centrais hídricas, enquanto nas zonas remotas alguns residentes são servidos por pequenos sistemas de bairro ou dependem de poços privados.

Foram criados locais de distribuição de água em vários sítios. Tanto o condado como a cidade pagaram o transporte de água por camião, e o Estado e a Agência Federal de Gestão de Emergências forneceram água potável para distribuição na zona.

Desespero por água

O Helene deu à costa na Florida no final da passada quinta-feira como um poderoso furacão de categoria 4, antes de se voltar com a sua fúria para grande parte do Sudeste, com inundações repentinas que destruíram casas e afastaram as vítimas das suas famílias.

A tempestade arrastou os canos principais e os canos de reserva de North Fork, uma das três estações de tratamento de água que servem a bacia hidrográfica de Asheville, segundo as autoridades. Outra estação, DeBruhl, ficou inacessível depois de a tempestade ter bloqueado a estrada com detritos.

Tanto a Guarda Nacional do Estado como o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos estão a ajudar a repor o funcionamento normal das estações, disseram as autoridades municipais. A terceira principal central do sistema, Mills River, estava com a capacidade reduzida.

Pelo menos 61 pessoas morreram no condado de Buncombe, que inclui Asheville, segundo as autoridades. Isso elevou o número de mortos para pelo menos 189 pessoas em seis estados, de acordo com a CNN.

Rachel Simpson, 33 anos, sentiu-se afortunada por ter resistido à tempestade com apenas pequenos danos na sua casa em Asheville. Mas disse que tem sido difícil não ter água para tomar banho, lavar roupa ou puxar o autoclismo. “A cidade diz que vai demorar pelo menos quatro semanas até que a água volte. Neste momento, estamos a fazer o melhor que podemos. Toda a água que temos agora estamos a receber de amigos.”

Harrison Fahrer, 37 anos, co-fundador da cervejaria Cellarest Beer Project, a oeste de Asheville, sabe que os seus problemas são insignificantes em comparação com os das pessoas cujas casas e empresas não resistiram à força de Helene. Mas não tem a certeza de como se vai safar sem água. “Se abrirmos a torneira, a única coisa que faz é assobiar. Se não pudermos fazer cerveja, não podemos pagar as nossas contas, os nossos empréstimos, a nossa renda, os serviços públicos.”

Avaliar os danos

Enquanto as equipas de busca e salvamento continuavam a vasculhar os destroços em busca dos desaparecidos e a distribuir água, alimentos e ajuda aos residentes, o Presidente Joe Biden visitou o Estado para inspeccionar as estradas destruídas, as pontes destruídas e os cabos eléctricos derrubados.

A vice-presidente, Kamala Harris, em plena campanha presidencial contra o ex-Presidente republicano Donald Trump, viajou para a Geórgia na quarta-feira, dois dias depois de Trump ter visitado o estado.

A crise da água tem impedido o funcionamento de empresas, hospitais e escolas em Asheville e arredores, enquanto os habitantes locais tentam regressar à normalidade.

“A maior preocupação para o regresso dos alunos à escola é a água”, confirmou a superintendente das escolas municipais de Asheville, Maggie Fehrman, numa conferência de imprensa esta quarta-feira. “Sem água, simplesmente não podemos trazer os alunos ou o pessoal de volta ao nosso edifício.”