A tríade de mísseis supersónicos que o Irão usou contra Israel

Viajam até 15 vezes mais depressa que o som e conseguem fintar um dos sistemas de defesa antiaérea mais eficazes do mundo. O Irão serviu-se de pelo menos três mísseis balísticos para atacar Israel.

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Um socorrista israelita inspecciona o local onde um míssil disparado do Irão contra Israel atingiu um edifício escolar, no centro de Israel, a 1 de Outubro Amir Cohen / REUTERS
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É rápido, mesmo muito rápido. Um som emitido em Lisboa, a viajar a 1234,8 km/h e sem encontrar obstáculos pelo caminho, demoraria cerca de uma hora a chegar a Andorra, no outro lado da Península Ibérica. Mas o Fattah-2, um dos mísseis que compõem o arsenal do Irão, faria a mesma distância em apenas quatro minutos — 15 vezes a velocidade do som — com uma ogiva de 500 quilos no nariz e teria capacidade para transportar 200 quilos de explosivos, ao longo de até 1500 quilómetros. Foi isso o que a Cúpula de Ferro israelita, o sistema de defesa aérea do país, teve de enfrentar na terça-feira.

O nome deste míssil hipersónico, capaz de sair da atmosfera e regressar, fala por si. "Fattah" é um dos 99 nomes utilizados pelo Islão em referência a Alá e significa "Aquele que Abre", "Aquele que Liberta", "O Revelador" e "Aquele que Garante Sucesso", de acordo com o My Islam, um site de literacia religiosa. Está operacional desde Junho do ano passado e tem uma vantagem em relação à primeira versão da arma: é altamente manobrável em missões de longo curso. Fattah-2 está equipado com um motor de combustível sólido para controlar a direcção e hidrazina para acelerar ou realizar manobras em pleno voo — incluindo fintar o sistema de defesa israelita.

Mas, na constelação de mísseis que surgiram no céu israelita, na madrugada de segunda para terça-feira, havia muito mais do que os novos mísseis iranianos: alguns dos destroços encontrados no solo parecem pertencer ao Shahab-3, um míssil balístico de médio alcance com uma ogiva de até 1200 kg que pode ser de natureza nuclear, química, de explosivos ou submunições, como bombas de fragmentação. Foi criada com base num míssil Nodong-1 que Teerão comprou à Coreia do Norte em meados dos anos 90 e tornou-se o primeiro exemplar bem-sucedido de um míssil balístico de médio alcance desenvolvido pelo Irão, com capacidade para alcançar alvos fora da sua fronteira.

"Shahab" também tem um significado simbólico: é um nome árabe que significa "Estrela Cadente", "Brilhante" e "Luminoso". "É a base de todos os mísseis balísticos de médio alcance que utilizam um propulsor líquido do Irão", indicou Patrick Senft, coordenador de investigação da Armament Research Services, um serviço australiano de consultoria sobre armas e munições, à CNN International. Shahab-3 consegue ser tão preciso que a margem de erro em relação ao alvo, mesmo depois de viajar até 1300 quilómetros a uma velocidade de 2,4 quilómetros por segundo (sete vezes a velocidade do som), é de apenas 300 metros.

A tríade termina com um míssil nomeado em homenagem a Qasem Soleimani, comandante iraniano​ que liderava desde 1998 a Força al-Quds, um ramo dos Guardas da Revolução, responsável pelas acções além-fronteiras (incluindo as clandestinas​), até sido morto pelos Estados Unidos, em Janeiro de 2020. Qasem era considerado o homem mais poderoso do Irão a seguir ao ayatollah Ali Khamenei e descrito como "a personalidade operacional mais poderosa no Médio Oriente", pelo ex-agente John Maguire, da CIA. Sete meses depois da sua morte, apadrinhou também o Haj Qasem, míssil balístico que foi detectado nos últimos dias no ataque sobre Israel.

Haj Qasem viaja a 12 vezes a velocidade do som (o equivalente a mais de 4 km/s), tem um alcance de 1400 quilómetros, uma ogiva de 500 quilos e capacidade para "fintar os sistemas de defesa antimísseis". Quando o míssil foi apresentado, em Agosto de 2020, Hassan Rouhani, Presidente do Irão na altura, afirmou que o país tinha "atingido as fronteiras do conhecimento no domínio dos mísseis terra-superfície", estava "na vanguarda do conhecimento tecnológico" sobre estes mísseis e havia "superado todas as sanções dos inimigos em termos de mísseis de cruzeiro".

Quatro anos mais tarde, esse mesmo míssil foi utilizado no segundo ataque deste ano do Irão contra Israel, quase seis meses depois da investida de Abril. As análises às imagens e aos destroços encontrados no solo fazem crer que Fattah-2, Shahab-3 e Haj Qasem estavam entre os 180 mísseis balísticos que as forças de Teerão lançaram contra Israel na terça-feira. O Irão já afirmou que deu por concluída a operação "de legítima defesa", mas não vira costas ao inimigo: se Israel contra-atacar em resposta às investidas das últimas horas (algo que o Governo de Benjamin Netanyahu já prometeu que iria fazer), o Irão diz estar pronto a servir-se novamente do seu armamento balístico supersónico.

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