Planta invasora cortante e alergénica prolifera em Portugal
Antes confinada a jardins, a erva-das-pampas (Cortaderia selloana) está a tornar-se uma ameaça em Portugal. Planta invasora pode cortar a pele, causar alergias e degradar ecossistemas.
A erva-das-pampas (Cortaderia selloana), uma planta invasora cortante e alergénica, "está rapidamente a tornar-se uma ameaça descontrolada", proliferando-se em território nacional, alertou esta semana Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC).
Esta planta é originária das pampas, um bioma localizado na América do Sul, e "até há duas décadas surgia principalmente confinada a jardins", mas está a tornar-se numa ameaça, apresentando "um apetite voraz" pelo território, afirmou Hélia Marchante, citada em nota de imprensa da ESAC.
"Esta espécie ocupa facilmente as bermas e imediações das nossas estradas, caminhos-de-ferro e outras áreas perturbadas, encontrando aí uma oportunidade fácil para se expandir rapidamente", além de invadir locais como sapais, dunas ou mesmo o subcoberto de áreas florestais, sublinha a docente.
Isto deve-se à sua excelente capacidade reprodutiva, que se traduz em milhões de sementes minúsculas por planta, assim como às suas baixas exigências por recursos; à sua grande flexibilidade em termos de condições ecológicas onde consegue crescer; e, por vezes, à ausência de competição com outras espécies que (não) ocupam o território, devido à degradação das comunidades vegetais, explica.
Nesta altura do ano, prossegue, "é muito fácil identificar onde estão as ervas-das-pampas, já que estas se revelam esplendorosamente na paisagem, exibindo as suas inflorescências, plumas, ou penachos vistosos, de coloração variada que pode ir desde o prateado ao ligeiramente rosado".
Perigo para a pele humana
Apesar da sua beleza, são vários os aspectos negativos desta planta, como o potencial perigo para a pele (pode cortar a epiderme, daí o seu nome científico Cortaderia selloana), as consequências económicas (já que o seu controlo, particularmente nas faixas marginais às estradas, obriga a "despender recursos financeiros avultados") e o impedimento de desenvolvimento de outras espécies, degradando os ecossistemas, pelo facto de, ao crescer sem controlo, formar áreas homogéneas, nas quais é a única protagonista.
Além disso, "os impactes negativos no estado de saúde da população, através das alergias que causa, são particularmente agravados por florir depois do Verão, numa época em que menos espécies alergénicas costumam florir, sendo responsável por um novo pico de alergias, mais tardio".
"Torna-se então urgente agir, enquanto sociedade, para parar esta catástrofe ambiental e as suas consequências sociais negativas", apela Hélia Marchante.
A docente é também responsável pelo Life Coop Cortaderia no Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), um projecto que dá continuidade ao Life Stop Cortaderia (encerrou em 2022) e que está em desenvolvimento até Setembro de 2028, tendo como objectivo sensibilizar, educar, formar e promover a intervenção dos vários sectores da sociedade de forma a gerir melhor a invasão biológica por erva-das-pampas, contando com a participação de parceiros portugueses, espanhóis e franceses.
Além de intervenções de controlo, nas áreas de influência de alguns dos parceiros, e uma forte aposta na sensibilização ambiental, este projecto convida entidades públicas e privadas a aderir à Estratégia Transnacional de luta contra a Cortaderia no Arco do Atlântico, oferecendo formação e consultoria profissional para melhorar a gestão da espécie com a finalidade de travar a sua expansão e, onde for possível, erradicar a sua presença.