Portugal sob várias dimensões arquitectónicas e geográficas

No dia 11 de Outubro, o seminário O que faz falta: Portugal S, M, L, XL, na Casa da Arquitectura em Matosinhos, vai reflectir sobre os desafios do território nacional, de olhos postos no futuro.

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As últimas décadas têm sido sinónimo de evolução e transformação em termos arquitectónicos em Portugal, especialmente no pós-25 de Abril, e, no ano em que se assinalam as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, a Casa da Arquitectura organiza, no próximo mês, várias iniciativas cujo objectivo é (re)pensar a arquitectura em Portugal no passado recente, mas, acima de tudo, olhar para o futuro.

Assim, a 26 de Outubro será inaugurada a exposição O que faz falta. 50 anos de arquitectura portuguesa em democracia, que tem a curadoria de Jorge Figueira e curadoria-adjunta de Ana Neiva e que estará patente até 7 de Setembro de 2025 na Nave Expositiva da Casa. A mostra conta o Alto Patrocínio do Presidente da República e o apoio do Ministério da Cultura. Dias antes, a 11 de Outubro, terá lugar o seminário O Que Faz Falta: Portugal S, M, L, XL, a realizar nas instalações da Casa da Arquitectura.

Do legado democrático ao amanhã

O 25 de Abril permitiu que a sociedade evoluísse à boleia da liberdade e a arquitectura foi claramente influenciada por novos pensamentos, visto que “existia um atraso infra-estrutural que tinha de ser ultrapassado, em especial na habitação, mas também em termos de escolas e edifícios relacionados com a saúde. Foi uma fase em que foi possível fazer novos projectos de raiz”, lembra Nuno Sampaio, director-executivo da Casa da Arquitectura. Mais tarde, com a entrada na União Europeia, “chegaram os apoios políticos e financeiros que permitiram fazer uma transformação ainda maior e melhor”. Alguns desses temas estarão em foco no seminário que tem a particularidade de se realizar antes da abertura da exposição, pois, “se a exposição olha para o passado, o seminário faz a ponte com o amanhã”, acrescenta Nuno Sampaio.

No que toca ao programa do seminário (ver caixa), a ideia é explorar as várias dimensões arquitectónicas e geográficas de Portugal. “Num primeiro momento, vamos falar sobre os actuais modelos de habitação e, logo a seguir, abordaremos a dicotomia entre interior e litoral, entre a desertificação e a concentração urbana e de que forma a cidade média actual pode ser uma boa alternativa aos grandes centros”, enumera Nuno Sampaio. O terceiro bloco vai reflectir sobre as grandes cidades contemporâneas num contexto global, “pela sua capacidade de atrair mais turistas e imigrantes, tornando-as mais competentes e complementares entre si”. Por último, “debateremos as grandes infra-estruturas que podem transformar o país nas próximas décadas, nomeadamente o novo aeroporto de Lisboa e o comboio de alta velocidade. E como os arquitectos não querem ficar alheados destas problemáticas, queremos que estes debates sirvam para pensar sobre o país de hoje, projectando-o no amanhã”, sublinha o director-executivo da Casa da Arquitectura.

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Nuno Sampaio: Ivo Tavares Studio - Casa da Arquitectura

Envolver governo, instituições e sociedade civil

Para Jorge Figueira, arquitecto e curador da exposição, “o seminário propõe uma leitura e debates de temas fundamentais, no âmbito do programa paralelo da exposição”, sendo também “a oportunidade de olhar para o país em várias escalas e problemas”. No conjunto, “servirá para se pensar e debater questões que vão surgindo sazonalmente, mas que aqui se encontram. A ideia é que a arquitectura e o arquitecto, sozinhos, não são capazes de resolver a complexidade dos problemas, e, por isso, foram convidados para este seminário agentes de várias outras áreas”. Além disso, continua, “a arquitectura, por vezes, pode ser algo que diferencia e marca a resolução dos problemas. Mas, na maioria dos casos, é preciso um forte envolvimento com as áreas e saberes políticos, técnicos, sociais, culturais, para que um projecto resulte. Acredito que, muitas vezes, é antes de o projecto ser encomendado ou concursado que o seu sucesso se irá verificar ou não. É, por isso, necessário debater os problemas nestas várias escalas”.

Focando-se nas temáticas presentes nos vários blocos do seminário, Jorge Figueira faz também um enquadramento, ressalvando a importância de alargar a discussão para áreas que transcendem a arquitectura, mas onde a arquitectura desempenha uma função importante”. Também por isso, “foram convidadas personalidades de diferentes disciplinas e experiências para analisar problemas contemporâneos com uma história longa, mas que têm ganho uma cada vez maior proeminência e aqui são colocados num mesmo tempo. Por exemplo, em Small discute-se a crise da habitação; em Medium, a questão das cidades médias e da interioridade; em Large, as consequências do turismo de massas e da imigração nas cidades grandes; em Extralarge, o redesenho e a reorganização do território com o novo aeroporto e a alta velocidade”.

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Jorge Figueira: Ivo Tavares Studio - Casa da Arquitectura

Por outro lado, Jorge Figueira afirma ser “fundamental envolver a sociedade civil na discussão desses temas e até nas decisões, já que a sua participação é de grande importância e sem dúvida bem-vinda”. No entanto, “a experiência mostra-nos a complexidade desse processo, e haverá, às vezes, mais uma retórica da participação do que uma efectiva participação”. No entanto, “a decisão do plano arquitectónico ou urbanístico não pode ficar refém de visões que são necessariamente muito distintas e até opostas. A força que a sociedade tem hoje no espaço público, muito democratizado pelas redes sociais, é um avanço, mas poderá levar a impasses ou becos sem saída. Mas, as mais-valias superam de longe os problemas que existirão”, conclui.

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