Cientistas explicam o crescimento invulgar do monte Evereste

O Evereste continua a crescer e uma equipa internacional um mecanismo geofísico de explicação para o fenómeno, num artigo científico agora publicado.

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O monte Evereste Desmond Boylan/REUTERS
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O monte Evereste é a montanha mais alta da Terra –​ ergue-se 8,85 quilómetros acima do nível do mar – e continua a crescer.

Enquanto o Evereste e o resto dos Himalaias continuam uma elevação inexorável que remonta ao seu nascimento, há cerca de 50 milhões de anos, quando o subcontinente indiano colidiu com a Eurásia, o Evereste está a crescer mais do que o esperado, e os cientistas pensam agora saber a razão, que tem que ver com a fusão monumental de dois sistemas fluviais próximos.

O Evereste ganhou cerca de 15 a 50 metros de altura devido a esta mudança no sistema fluvial regional, com o rio Kosi a fundir-se com o rio Arun há cerca de 89 mil anos, estimam os investigadores. Isto traduz-se numa taxa de elevação de cerca de 0,2 a 0,5 milímetros por ano.

O processo geológico em acção, segundo eles, é designado por “recuperação isostática. Envolve a ascensão de massas de terra na crosta terrestre quando o peso da superfície diminui. A crosta, a camada mais externa da Terra, flutua essencialmente sobre uma camada do manto feita de rocha quente e semilíquida.

Neste caso, a fusão dos rios como se fosse uma aquisição hostil, com o Kosi a subjugar o Arun à medida que os rios mudavam de curso ao longo do tempo resultou numa erosão acelerada, que arrastou enormes quantidades de rocha e solo, reduzindo assim o peso da região perto do Evereste.

“O ressalto isostático pode ser comparado a um objecto flutuante que ajusta a sua posição quando lhe é retirado peso”, disse o geocientista Jin-Gen Dai, da Universidade de Geociências da China, em Pequim, um dos líderes do estudo publicado nesta segunda-feira na revista Nature Geoscience.

“Quando uma carga pesada, como o gelo ou a rocha erodida, é removida da crosta terrestre, a terra por baixo sobe lentamente em resposta, tal como um navio sobe na água quando a carga é descarregada”, acrescentou Jin-Gen Dai.

O desfiladeiro principal do sistema fluvial fundido está localizado a cerca de 45 quilómetros a leste do Evereste.

Os investigadores, que utilizaram modelos numéricos para simular a evolução do sistema fluvial, estimaram que a recuperação isostática é responsável por cerca de 10% da taxa de elevação anual do Evereste. Este processo geológico não é exclusivo dos Himalaias.

“Um exemplo clássico é a Escandinávia, onde a terra ainda está a subir em resposta ao derretimento das espessas camadas de gelo que cobriram a região durante a última Idade do Gelo. Este processo continua hoje, afectando as linhas costeiras e as paisagens, milhares de anos depois de o gelo ter recuado”, disse Jin-Gen Dai.

Evereste, “um lugar único na consciência humana”

Adam Smith, co-autor do artigo científico e um estudante de doutoramento em ciências da Terra da University College de Londres, disse que as medições do GPS revelam a subida contínua do Evereste e do resto dos Himalaias.

Esta elevação ultrapassa a erosão contínua da superfície causada por factores como o vento, a chuva e o fluxo dos rios. À medida que esta erosão continua, a taxa de elevação do Evereste devido ao ressalto isostático pode aumentar, referiu Adam Smith.

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O monte Evereste e o rio Arun Jiaqi Sun/Jingen Dai

Os picos vizinhos, incluindo o Lhotse, o quarto mais alto do mundo, e o Makalu, o quinto mais alto, também recebem um impulso do mesmo processo. O Lhotse está a registar uma taxa de elevação semelhante à do Evereste. Makalu, situado mais perto do rio Arun, tem uma taxa de elevação ligeiramente superior.

“Esta investigação sublinha a natureza dinâmica do nosso planeta. Mesmo uma característica aparentemente imutável como o monte Evereste está sujeita a processos geológicos contínuos, lembrando-nos que a Terra está em constante mudança, muitas vezes de formas imperceptíveis no nosso quotidiano”, realçou Jin-Gen Dai.

A parte exterior rígida da Terra está dividida em placas tectónicas colossais que se deslocam gradualmente ao longo do tempo, num processo designado por tectónica de placas, tendo os Himalaias surgido na sequência da colisão de duas placas.

O Evereste, também chamado Sagarmatha em nepalês e Chomolungma em tibetano, está situado na fronteira entre o Nepal e o Tibete. O seu nome foi dado em homenagem a George Everest, um investigador britânico do século XIX na Índia.

“O monte Evereste ocupa um lugar único na consciência humana”, destacou ainda Jin-Gen Dai. “Fisicamente, representa o ponto mais alto da Terra, o que lhe confere um enorme significado em virtude simplesmente da sua estatura”, acrescentou o investigador. “Culturalmente, o Evereste é sagrado para as comunidades locais sherpas e tibetanas. Globalmente, simboliza o desafio supremo, personificando a resistência humana e a nossa vontade de ultrapassar os limites percepcionados.”

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