Itália e Suíça redesenham fronteira nos Alpes devido ao degelo dos glaciares

Degelo das fronteiras naturais devido à crise climática obriga os dois países a redefinir os limites ítalo-helvéticos sob o pico do Matterhorn, um dos mais altos da Europa. Suíça já assinou o tratado.

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Esquiadores em frente à montanha Matterhorn, em Riffelberg, na estância de esqui suíça de Zermatt, em 2011 DENIS BALIBOUSE / REUTERS
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A Itália e a Suíça tiveram de redesenhar uma zona fronteiriça nos Alpes como consequência da crise climática. Historicamente, o limite entre estes dois países – situado parcialmente na base do Matterhorn, uma das montanhas mais portentosas da Europa – era indicado por fronteiras naturais: cumes de glaciares e zonas de neve (até então) eterna. Agora, com o degelo, esses limites naturais deslocaram-se, obrigando à redefinição oficial da linha que aparta os dois territórios.

“Secções significativas da fronteira são definidas por bacias hidrográficas ou linhas de cumeada de glaciares, neve compacta ou neve perpétua. Estas formações estão a mudar devido ao derretimento dos glaciares”, afirmou sexta-feira o Governo suíço numa nota citada pela Bloomberg.

Uma comissão ítalo-helvética já havia negociado e definido as alterações fronteiriças em Maio de 2023. Embora a Suíça tenha aprovado oficialmente o tratado na sexta-feira, a Itália ainda deve subscrever o documento, de acordo com o jornal britânico The Guardian.

As fronteiras entre a Suíça e a Itália serão alteradas na região de Plateau Rosa, no refúgio de Carrel e em Gobba di Rollin, refere a cadeia britânica BBC. Todas estas áreas têm elevado valor económico, uma vez que estão próximas do Matterhorn e de estâncias de esqui populares, incluindo Zermatt.

Disputa pelo pico alpino

As mudanças na delimitação das fronteiras surgem após anos de disputa entre os dois países acerca do pico do Matterhorn, uma montanha em forma de pirâmide com cerca de 4500 metros de altura. Esta paisagem alpina, partilhada entre a região suíça de Zermatt e o vale italiano de Aosta, tem elevado interesse turístico (logo, económico).

A Europa é o continente que regista o aquecimento mais rápido do planeta. A Suíça, em particular, está a aquecer a uma taxa duas vezes superior à média global, em parte porque as suas montanhas retêm o calor, segundo um relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Em Janeiro deste ano, por exemplo, o país testemunhou estâncias de esqui desertas e sem neve, devido a temperaturas invulgarmente amenas para a época.

Estima-se que o volume dos glaciares alpinos diminuiu cerca de 60% desde meados do século XIX, segundo o Centro Nacional Suíço de Serviços Climáticos. Os dias de neve por ano estão a diminuir também desde, pelo menos, a década de 1970.

O degelo está a ser tão intenso que permitiu, em Julho do ano passado, que fossem descobertos os restos mortais de um alpinista alemão que desapareceu há quase quatro décadas ao tentar explorar um glaciar perto do Matterhorn.