Furacão Helene mata mais de 90 pessoas nos Estados Unidos

Mais de 90 pessoas morreram nos EUA à passagem do furacão Helene. Paredes de água arrastadas pelos ventos fortes destruíram casas na Florida. Comunicações por telemóvel estão interrompidas.

Foto
Cerca de 2,7 milhões de pessoas ficaram sem energia no domingo, disse um funcionário do Departamento de Energia dos EUA Octavio Jones / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
05:27

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O número de mortos provocados pela passagem do furacão Helene nos Estados Unidos subiu para mais de 90. A passagem da tempestade pelo Sudeste do país, que iniciou um grande esforço de limpeza e recuperação no domingo, cortou a energia a milhões de pessoas, destruiu estradas e pontes; e causou inundações dramáticas do estado da Florida ao da Virgínia.

As vítimas mortais foram registadas na Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, Florida, Tennessee e Virgínia, de acordo com uma contagem cedida por funcionários estaduais e locais. Estas regiões registaram ventos e chuva fortes; e as autoridades locais temiam que fossem descobertos mais corpos. Com as torres de telemóveis desligadas em toda a região, centenas de pessoas ainda não conseguiram contactar com os parentes e, por isso, foram dadas como desaparecidas.

As estimativas dos danos materiais variam entre 15 mil milhões e mais de 100 mil milhões de dólares (13,4 a 89,6 mil milhões de euros), segundo as declarações das seguradoras e dos meteorologistas durante o fim-de-semana, uma vez que os sistemas de água, as comunicações e as rotas de transporte mais cruciais foram afectados. Os danos patrimoniais e a perda de produção económica tornar-se-ão claros à medida que os funcionários forem avaliando a destruição.

Na Carolina do Norte, quase todas as mortes ocorreram no condado de Buncombe, onde morreram 30 pessoas, disse o xerife Quentin Miller numa conferência telefónica com os jornalistas. A gestora do condado, Avril Pinder, disse que estava a pedir ao Estado alimentos e água potável com urgência. As ruas da pitoresca cidade de Asheville ficaram submersas pelas águas das cheias.

"Esta é uma catástrofe devastadora de proporções históricas", disse o governador Roy Cooper à CNN: "As pessoas com quem falo no Oeste da Carolina do Norte dizem que nunca viram nada como isto. "

Equipas de busca e salvamento de 19 estados e do Governo dos EUA convergiram para a Carolina do Norte, disse Cooper, acrescentando que algumas estradas podem levar meses a reparar. Em Flat Rock, registaram-se cortes de energia generalizados e as pessoas esperaram horas nas filas para abastecer. "As mercearias estão fechadas, o serviço de telemóvel não funciona", queixou-se Chip Frank, de 62 anos, ao entrar na sua terceira hora de espera na fila. Não se pode ir a lado nenhum e é uma sensação assustadora..."

Cerca de 2,7 milhões de pessoas ficaram sem energia no domingo, disse um funcionário do Departamento de Energia dos Estados Unidos, uma redução de 40% em relação a sexta-feira, depois de tempestades sem precedentes, ventos ferozes e condições perigosas que se estenderam por centenas de quilómetros para o interior. A Carolina do Sul registou 25 mortos, a Geórgia outros 17 e a Florida mais 11, de acordo com os governadores destes estados. A CNN noticiou um total de 93 mortos em todo o Sul, citando as autoridades estatais e locais.

O Presidente Joe Biden planeia visitar as áreas afectadas esta semana, assim que o puder fazer sem perturbar os serviços de emergência, disse a Casa Branca. "É trágico", disse Biden aos repórteres no domingo, prometendo assistência à recuperação depois de declarar situação de desastre na Florida e Carolina do Norte; e situação de emergência na Florida, Carolina do Norte, Tennessee, Carolina do Sul, Geórgia, Virgínia e Alabama. "Vocês viram as fotografias. É impressionante", concluiu.

A vice-presidente e candidata democrata à presidência, Kamala Harris, planeou interromper uma viagem de campanha no Nevada, na segunda-feira, para participar em reuniões de informação em Washington sobre a resposta ao furacão. Tal como Joe Biden, visitará a região quando isso não atrapalhar a resposta das autoridades de emergência e socorro, disse um funcionário da Casa Branca.

O candidato presidencial republicano, Donald Trump, visitará Valdosta, na Geórgia, na segunda-feira, para receber informações sobre os danos causados pela tempestade e "facilitar a distribuição de materiais de socorro", disse a sua campanha.

O Helene atingiu a costa do golfo da Florida na quinta-feira à noite, provocando dias de chuva torrencial e destruindo casas que tinham resistido durante décadas. Em Horseshoe Beach, na costa do golfo da Florida, a cerca de 120 quilómetros a oeste de Gainesville, Charlene Huggins inspeccionava os escombros da sua casa destruída pelo vento, retirando um casaco dos destroços, no sábado. "Cinco gerações viveram nesta casa, desde a minha avó, o meu pai, eu, a minha filha, o meu filho e a minha neta", disse Huggins, segurando um suporte para bolos em vidro que ficou lascado: "Portanto, há muitas recordações aqui. É de partir o coração..."

Não muito longe, James Ellenburg estava na propriedade onde a sua própria família vive há quatro gerações. "Dei o meu primeiro passo aqui mesmo, neste quintal." O telhado de uma casa estava no chão e as paredes tinham sido destruídas. Na costa de Steinhatchee, uma onda de tempestade — uma parede de água do mar empurrada para terra pelos ventos — de 2,4 a três metros deslocou caravanas residenciais, disse o serviço meteorológico. Noutras zonas, a tempestade atingiu 4,5 metros de altura.

Na pequena comunidade vizinha de Spring Warrior Fish Camp, as pessoas estavam a avaliar os danos no sábado e ainda à espera de ajuda de emergência ou de socorristas. "Ninguém pensa em nós aqui no interior", disse David Hall, enquanto ele e a mulher vasculhavam por entre fitas-do-mar e peixes mortos no escritório do hotel de que eram proprietários. Muitas das casas da comunidade são construídas sobre palafitas (estacas de madeira que servem de pilares às construções) devido a uma lei local e escaparam a grandes danos.