Discutir a Amazônia e se preparar para o Círio de Nazaré

Há 14 anos iniciei a Varanda de Nazaré. Decidi abrir um espaço em Belém do Pará para mostrar às pessoas que não são de lá a nossa fé, uma fé feliz, que agrega e é inclusiva.

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Nasci em um lugar onde a relação com Nossa Senhora é tão forte que ela é uma pessoa de dentro da nossa casa. Ele é Naza, Nazinha, Nazoca, Nazarezinha ou Nossa Senhora de Nazaré. No segundo domingo de outubro, todos nós nos reunimos para agradecer e pedir para ela tudo o que nós queremos como meta de vida ou de felicidade. Nazinha é amiga, mãe, irmã, companheira e confidente.

Há 14 anos, iniciei a Varanda de Nazaré, nas vésperas do Círio. Decidi abrir um espaço em Belém do Pará para mostrar às pessoas que não são de lá a nossa fé, uma fé feliz, que agrega e é inclusiva. Convido pessoas, das mais diversas, para entender o jeito de ser do paraense, mostrando a culinária, o humor, a música, a devoção, o artesanato, as peculiaridades de um povo muito interessante e brincalhão.

Em 2025, a COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a chamada Cimeira do Tempo, vai acontecer em Belém. Será um momento muito importante para se lançar um olhar sobre o Norte, a Amazônia e o meu povo. Este ano vamos realizar o 2.º Fórum Varanda da Amazônia. Um evento que reúne desde 2023 a Varanda de Nazaré e o Fórum da Amazônia.

Nos reuniremos nos dias 8 e 9 de outubro no Teatro Maria Sylvia Nunes, em Belém do Pará. Serão dois dias de debates com especialistas, acadêmicos, historiadores, autoridades e representantes dos povos originários. Vamos discutir os desafios e oportunidades da região amazônica. Um lugar onde teremos cara, pensamento e voz.

O povo precisa ser ouvido para que a nossa Amazônia, o nosso país e o mundo se equilibrem. Olho para eventos feitos fora do Belém, fora do Brasil, e nos vejo representados como caricaturas. Como seres exóticos para uma plateia de elite, em que o pensamento sempre é branco e o pensador amazônico não existe.

Na quinta-feira, dia 10, os meus convidados farão uma vivência do outro lado da Baía do Guajará. Vamos ancorar e mergulhar no rio. Terá um peixe assando com açaí sendo tirado na hora, com caipirinha com frutas da terra e um violão. Na volta do barco para Belém, vamos apreciar o pôr do sol tendo o rio Guamá como cenário.

Na sexta-feira, 11, teremos o Sarau da Fafá. Hora de cantar para os convidados com uma bela banda muito bem ensaiada. A nossa música é erudita, é o carimbó, o samba, o chorinho e o brega. Isso tudo com a ótima gastronomia do Pará com chefs e grandes cozinheiros.

A manhã de sábado é o momento da procissão fluvial. Vamos de barco, como todo ribeirinho. Vamos até Icoaraci com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Na volta, paramos na escadinha. Nazinha desce da fragata da Marinha e é nomeada e empossada chefe de Estado. Segue em carro aberto, em romaria com mais de 50 mil motos. Passa pela Basílica e é o sinal para a original descer do Glória, o altar-mor, e ser erguida para os seus fiéis.

À noite, recebemos nossos convidados e amigos, como se faz nas famílias paraenses. Momento de orar, assistir, pedir e agradecer com fé a Nossa Senhora de Nazaré. Assistiremos a procissão a luz de velas chamada trasladação, que segue do colégio Gentil Bittencourt até a Catedral de Belém, na cidade velha.

Domingo, às sete da manhã, estamos lá, para vê-la passar, rainha poderosa, rainha da Amazônia, das águas e do povo da minha terra. No cortejo de quase três milhões de pessoas, a maior procissão do mundo. Todos são bem-vindos debaixo do manto de Nossa Senhora.

Nós continuaremos até quando me for possível e depois, claro, passo para minha filha ou para uma das minhas netas para seguir esse legado. Olhando sempre para o povo do meu estado, para o povo da Amazônia. É para eles que temos que olhar, abraçar e colocar luz sem sermos vistos. Não adianta nenhum outro movimento, que nada será como nós imaginamos, e as soluções talvez não sejam nem próximas do que nós precisamos. Feliz Círio, viva Nossa Senhora de Nazaré!

Vossa Fafazinha, com muito amor!

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