Lavrov avisa o Ocidente para perigo de “lutar até à vitória com uma potência nuclear”
Chefe da diplomacia russa acusa o Ocidente de querer derrotar a Rússia usando a Ucrânia. Nova doutrina nuclear russa alterada para responder à ameaça de ataque de Kiev com mísseis de longo alcance.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse no sábado nas Nações Unidas que não faz sentido ignorar as alternativas às propostas de paz da Ucrânia, alertando o Ocidente para o perigo de tentar “lutar até à vitória com uma potência nuclear”.
Dirigindo-se à Assembleia Geral da ONU, Lavrov apontou para os aliados da Ucrânia que apoiam a proposta de paz de Kiev. “Não vou falar aqui sobre a insensatez e o perigo da própria ideia de tentar lutar até à vitória com uma potência nuclear, que é o que a Rússia é”, disse. “Igualmente insensato é o facto de os apoiantes ocidentais de Kiev jurarem que não há alternativa às negociações baseadas na infame fórmula de paz”.
A Rússia invadiu a Ucrânia em Fevereiro de 2022, nove meses depois, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou um plano de paz de dez pontos para pôr um fim justo à guerra com base na Carta fundadora da ONU e no direito internacional. Moscovo rejeitou a proposta.
Invocando os planos dos aliados ocidentais na década de 1940 para “destruir” a União Soviética, Lavrov acusou o Ocidente de estar a tentar infligir uma “derrota estratégica” à Rússia na Ucrânia.
“Os actuais estrategas anglo-saxónicos não escondem as suas ideias. Por agora, é verdade, esperam derrotar a Rússia usando o regime neonazi ilegítimo de Kiev, mas já estão a preparar a Europa para também se lançar nesta aventura suicida”, disse o ministro.
A Rússia não está a aumentar o seu arsenal nuclear e, embora tenha suspendido a participação no novo tratado START com Washington, continuará a guiar-se pelo tratado até à sua expiração em 2026, explicou Lavrov. “Suspendemos a nossa participação no tratado, mas dissemos que cumpriremos os níveis e trocaremos algum tipo de informação com os americanos.”.
Doutrina nuclear actualizada
Entretanto, o Kremlin anunciou este domingo que as alterações à doutrina nuclear russa estão prestes a ser formalizadas, o que significa que os documentos relevantes que definem as circunstâncias em que as armas nucleares podem ser utilizadas por Moscovo serão actualizados.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse ao repórter da televisão estatal Pavel Zarubin no domingo que “as alterações foram preparadas e serão agora formalizadas”.
O Presidente Vladimir Putin avisou o Ocidente na quarta-feira que, de acordo com as alterações propostas à doutrina, a Rússia poderia utilizar armas nucleares se for atingida por mísseis convencionais e que qualquer ataque apoiado por uma potência nuclear será considerado como um ataque conjunto.
Estas alterações são vistas como uma tentativa de Putin de traçar uma “linha vermelha” para os Estados Unidos e os seus aliados, dando a entender que o Governo russo considerará a possibilidade de responder com armas nucleares no caso da Ucrânia atacar território russo com mísseis ocidentais de longo alcance.
Peskov citou a situação internacional, a escalada de tensões perto das fronteiras da Rússia e a crescente proximidade das infra-estruturas da NATO, bem como o que chamou de “maior envolvimento das potências nucleares ocidentais” na guerra da Ucrânia, como justificação para o Kremlin alterar a doutrina.