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Para empresários, Portugal elegeu brasileiros como imigrantes preferenciais
No entender de empresários, trabalhadores brasileiros têm sido fundamentais para movimentar a economia portuguesa. Por isso, acreditam eles, Governo manteve as portas abertas para cidadãos do Brasil.
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A decisão do Governo de Portugal de facilitar a entrada de brasileiros no país — já que poderão adentrar em território luso como turistas e pedir autorização de residência online em solo português — foi bem recebida entre empresários. Na visão deles, está claro que as autoridades lusitanas escolheram os brasileiros como imigrantes preferenciais para suprir o mercado de trabalho, que se ressente da falta de mão de obra, especializada ou não.
“A melhor opção para Portugal neste momento são os brasileiros e, por extensão, os cidadãos dos demais países da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP)”, diz Fábio Mazza, empresário do setor de leilões, que está há seis anos em Portugal. “Culturalmente, os brasileiros são os que mais se aproximam dos portugueses e são de fácil adaptação”, acrescenta. Para ele, Portugal precisa crescer e se modernizar, e os brasileiros podem contribuir nesse processo.
Segundo Mazza, há vagas abertas nos ramos de restaurantes, hotelaria, construção civil, indústria, serviços de saúde e até na área de tecnologia, que, em Portugal, cresce a passos largos. “Mas não há trabalhadores suficientes para preencher todos os postos. E isso independentemente da região de Portugal. Há oportunidades em todo o país, em algumas regiões mais, em outras, menos”, afirma. Isso acontece, no entender dele, porque os jovens portugueses com boa formação preferem seguir para outros países em busca de salários melhores.
Não só. “Os cidadãos europeus não têm muito interesse por Portugal, também por causa dos baixos salários. As pessoas do Leste Europeu, quando decidem emigrar atrás de boas oportunidades, param no meio do caminho, antes de chegar em Portugal. Os cidadãos da Ásia aceitam condições inferiores de salários até obterem a cidadania portuguesa, depois se mudam para outros países onde os salários são maiores”, analisa. Nesse contexto, os brasileiros acabam surgindo e ocupando as vagas existentes. “É claro esse movimento”, frisa.
Para Mazza, o processo migratório é complexo, por isso, o Governo de Portugal precisa deixar as regras bem claras. “Não é uma equação fácil, e a solução não será encontrada amanhã, a exemplo do que vemos nas áreas da saúde e da habitação. É preciso que sejam implantadas políticas consistentes, que envolvam Governo, Parlamento e sociedade, mas sem perder o passo da história. A manutenção do crescimento econômico do país demandará cada vez mais mão de obra, especialmente, a qualificada”, alerta.
Reforço da economia
Dono de uma empresa de soluções tecnológicas para o sistema financeiro, Arthur Machado ressalta que Portugal enfrenta um grande desafio para manter em funcionamento setores que demandam trabalhadores mais bem preparados para encarar o mundo novo. “No nosso caso, a dificuldade para preencher vagas é enorme. Precisamos de trabalhadores com duplo conhecimento, que entendam de tecnologia e do funcionamento dos sistemas financeiros brasileiro e português. E encontrar esses profissionais em Portugal não está fácil”, diz. Isso, acredita ele, só reforça a importância de se manter aberta as portas do país para brasileiros.
Machado ressalta que mesmo nos setores em que a mão de obra não é tão especializada, os empresários têm sofrido bastante para contratar. Portugal, onde quase 30% da população tem mais de 65 anos, necessita de trabalhadores imigrantes. “O setor de serviços enfrenta muitas dificuldades para preencher as vagas. Na construção civil, isso é visível tanto nas grandes quanto nas pequenas empresas”, complementa. Sem mão de obra, o resultado é uma economia crescendo abaixo do potencial ou mesmo estagnada.
Diretor da incorporadora Overseas, Nuno Coelho afirma que, nos canteiros de obras, os brasileiros estão em todas as áreas. “Inclusive, temos visto muitos profissionais empreendendo, criando as próprias empresas para prestar serviços às grandes companhias”, detalha. Tal movimento, acrescenta o executivo, reforça o dinamismo do mercado, que tende a ser maior se houver mão de obra disponível para executar os serviços. “Os brasileiros, no geral, são muito bem-vistos no mercado de trabalho”, frisa.
Na última quinta-feira (26/09), o ministro António Leitão Amaro, da Presidência do Conselho de Ministros, informou que os cidadãos do Brasil e de Timor Leste poderão entrar em Portugal como turistas e pedir a autorização de residência já em território luso. Para isso, foi criado um site pela Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA). É preciso, porém, que um projeto de lei que trata desse tema seja aprovado pela Assembleia da República, o que deve ocorrer nas próximas duas semanas, nas estimativas do Governo.
Reforço urgente
Dono da rede de restaurantes Palaphita em Portugal, o empresário Mário de Andrade diz ser urgente que o Governo favoreça a entrada de trabalhadores estrangeiros, “pois está muito difícil contratar”. Ele garante: “No ramo de restaurantes, a situação é das mais críticas, uma vez que o número de estabelecimentos aumentou muito”. O quadro se agrava, sobretudo, no verão, quando o turismo atinge o pico e o total de pessoal precisa ser reforçado.
Segundo ele, são os trabalhadores brasileiros que têm suprido a demanda das empresas por mão de obra. “Se a entrada de brasileiros fosse proibida em Portugal, complicaria tudo e a economia do país levaria um baque”, destaca. “Os brasileiros têm sido fundamentais para movimentar a máquina privada portuguesa”, emenda. Sendo assim, acentua ele, é compreensível que o atual Governo tenha mantido as portas abertas a cidadãos do Brasil enquanto impõem restrições para a entrada de pessoas de outros países, mesmo aqueles de língua portuguesa, que continuam precisando de vistos para adentrar em terras lusitanas.
Andrade recorre à situação de hotéis no Algarve para reforçar o quanto a mão de obra estrangeira é importante para Portugal, onde cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) vem do turismo. “No auge do verão, muitos hotéis não puderam operar em plena capacidade, porque não havia funcionários para arrumar os quartos. Isso é um sinal da gravidade e da urgência de se garantir a presença de trabalhadores estrangeiros no país”, afirma. “Ou seja, se restringir demais a entrada de imigrantes, Portugal terá que limitar o setor de turismo”, avisa.