Escola da Azambuja começa a regressar à normalidade após ataque de criança de 12 anos
Ministro da Educação, Fernando Alexandre, visitou a escola onde disse que a tutela irá disponibilizar um orçamento para contratar cerca de 600 vigilantes e reforçar as escolas com mais psicólogos
A escola básica da Azambuja começa a regressar à normalidade com o apoio de psicólogos que têm ajudado os alunos a lidar com o trauma do recente ataque, que deixou a escola envolta num "estranho silêncio". Há exactamente dez dias, uma criança de 12 anos entrou na escola depois do almoço e, usando uma faca de cozinha que tinha trazido de casa, esfaqueou seis colegas com idades entre os 11 e os 14 anos. O acontecimento, inédito numa escola portuguesa, lançou o pânico e traumatizou a comunidade escolar: Um dia após o incidente, 130 alunos ficaram em casa e, no seguinte, faltaram 34, segundo contas do presidente da autarquia de Vila Franca de Xira.
Numa escola frequentada por cerca de 700 alunos, a psicóloga Ana Rosa recorda o "estranho silêncio" dos recreios nesses dois primeiros dias após o ataque. "Ao terceiro dia, começou a ouvir-se novamente barulho", recordou a psicóloga em declarações à Lusa, no dia em que também o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, visitou a escola, cumprindo uma promessa feita uns dias antes a algumas das vítimas.
Cinco das seis crianças atacadas pelo colega foram hospitalizadas e o ministro visitou-as, tendo-lhes prometido um novo encontro, quando regressassem à escola.
Esta sexta-feira, Fernando Alexandre cumpriu a promessa e esteve na biblioteca a conversar com os seis alunos, num encontro em que estiveram outros 24 adultos, entre a directora do agrupamento, o presidente da autarquia, a psicóloga escolar, professores e outros funcionários. "Apesar do trauma por que passaram, a alegria está a voltar à escola", afirmou o ministro aos jornalistas, no final de um encontro no recreio com todos os alunos.
Três psicólogas na escola
O ataque "vai perdurar na memória deles por muito tempo, provavelmente para o resto das suas vidas, mas o resto das suas vidas não vai ser este trauma", acrescentou o secretário de estado Adjunto e da Educação, Pedro Cunha.
Para atingir este objectivo, as três psicólogas da escola (uma a tempo parcial) têm trabalhado diariamente, recebendo todos os alunos que as procuram assim como todas as sinalizadas por professores e restantes funcionários.
"Têm identificado crianças que somatizam, que têm ficado mais caladas ou mais sozinhas e, nestes casos, são os psicólogos que procuram as crianças", revelou o secretário de Estado, também doutorado em psicologia.
Algumas crianças "já apareceram mais do que uma vez" nos gabinetes de apoio, contou Ana Rosa.
Questionado sobre a necessidade de reforçar a equipa de psicólogos, o ministro Fernando Alexandre admitiu que possa haver um reforço da equipa, caso seja necessário. Quanto ao trabalho que tem sido desenvolvido, Luís Ferreira, da associação de pais, saudou o empenho da escola, da autarquia e dos serviços de saúde, que também têm disponibilizado apoio. Também o pai estranhou o silêncio dos primeiros dias, mas recorda que "ao terceiro dia já se ouvia o ruído normal do recreio, o que é um bom sintoma de que as crianças estão a recuperar".
Foi no recreio da escola básica da Azambuja que o ministro garantiu ter uma equipa "atenta e disponível para rever e melhorar as regras de segurança", lembrando que a tutela irá disponibilizar um orçamento para contratar cerca de 600 vigilantes e, se necessário, reforçar as escolas com mais psicólogos.
No entanto, Fernando Alexandre voltou a sublinhar que "as escolas são espaços seguros" e que o ocorrido há dez dias "não tem a ver com falta de segurança na entrada, não foi um elemento estranho que entrou na escola, ou um elemento perigoso que estivesse sinalizado", isto é, "não houve um problema de segurança, mas um quadro específico de um aluno".