Um grande e raro consenso

Amadeu Guerra permitiu a Luís Montenegro obter uma vitória clara horas antes da reunião com Pedro Nuno Santos sobre o Orçamento do Estado para 2025.

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A liderança da Procuradoria-Geral da República (PGR), que ocupa o décimo lugar na lista das precedências do Protocolo do Estado português, vai regressar às mãos de um homem. Amadeu Guerra, experiente procurador e magistrado que esteve debaixo dos holofotes quando liderou o Departamento Central de Investigação e Acção Penal, foi a escolha apresentada pelo primeiro-ministro ao Presidente da República.

A julgar pelas reacções conhecidas até agora, a opção de Luís Montenegro foi mais longe do que o esperado e fez o pleno. De Lucília Gago, que deixa o cargo a 12 de Outubro, aos partidos com assento parlamentar, passando pelos sindicatos dos magistrados do Ministério Público, o novo “senhor da PGR” recebeu raros elogios e votos de confiança, e pode dizer-se que as expectativas em relação à forma como vai desempenhar o cargo são consensualmente elevadas.

A ideia de que Amadeu Guerra é uma extensão de Joana Marques Vidal e representa um corte com o actual e polémico mandato de Lucília Gago terá contribuído para o clima de concordância.

Falta ouvir os alvos das várias investigações e dos megaprocessos instaurados durante o tempo em que esteve à frente do departamento de elite criado para tratar da criminalidade mais complexa. Entre esses, o sentimento não será tão positivo, mas a verdade é que contam pouco para a avaliação.

Amadeu Guerra desafiou poderosos como José Sócrates, Ricardo Salgado ou Orlando Figueira, e pôs em marcha operações que ficaram célebres como a Operação Marquês, a Operação Fizz, o assalto em Tancos, a Operação Monte Branco, entre outros.

Foi também com ele que se desenvolveu o conceito de "megaprocessos", e a avaliação que um dia se fizer sobre o sucesso ou insucesso dessas grandes investigações, que em muitos casos têm redundado em prescrições e atrasos processuais, também se reflectirá positiva ou negativamente no seu legado.

Por enquanto, Amadeu Guerra permitiu a Luís Montenegro obter uma vitória clara horas antes da reunião com Pedro Nuno Santos sobre Orçamento do Estado (OE) para 2025. Um grande e raro consenso de duração indeterminada que parece irrepetível em matéria de OE.

Pouco depois do encontro em São Bento e quando o líder do PS já havia explicado publicamente as medidas apresentadas e as linhas vermelhas, o primeiro-ministro considerou a proposta socialista “radical e inflexível”, mas prometeu para breve "uma contraproposta, como tentativa de aproximar posições". A novela da PGR está na recta final, mas a do Orçamento ainda agora começou.

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