Na Europa, o pão de queijo não é mineiro, mas português

O maior produtor de pão de queijo da Europa é um brasileiro que optou por viver em Portugal. São 300 toneladas por mês e as exportações chegam a 26 países.

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Robinson Franco no armazém, a 20 graus abaixo de zero. Ele é o maior produtor de pão de queijo na Europa Jair Rattner
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Há oito anos em Portugal, o curitibano Robinson Carlos Franco, 60, alcançou um feito. A empresa dele, a DCMF, se tornou a maior fabricante de pão de queijo do continente. São 300 toneladas por mês, que seguem para 26 países.

O empresário diz que sua empresa não se limita a um produto. Vende também polpas de frutas, açaí e sorbets. A diferença é que, nesses casos, ele trabalha como importador. Já o pão de queijo é produzido na própria fábrica.

A decisão de fabricar a iguaria em Portugal decorreu da mudança na forma como é aplicada uma norma europeia. “Havia uma regra que proibia a importação de produtos de origem animal, mas, em Portugal, não era aplicada. Em 2021, isso mudou e tivemos de nos adaptar”, explica.

Com a mudança, ele perdeu dois conteineres de pães de queijo que já estavam embarcados no Brasil. Foi então que decidiu ter uma fábrica e escolheu a cidade de Torres Vedras para sediá-la. “O queijo do nosso pão vem da Itália. A mandioca e o polvilho, do Brasil. Os demais ingredientes — leite, ovo, sal e gordura —, compramos nos mercados locais”, relata.

Franco prevê faturamento de 10 milhões de euros (R$ 60 milhões) para este ano. “Devemos crescer entre 10% a 15% neste ano e nos próximos períodos, porque estamos abrindo novos mercados”, acrescenta. Atualmente, ele vende para 22 países europeus, além de Estados Unidos, Coreia do Sul, Angola e Emirados Árabes Unidos.

Mudança

A vinda para Portugal teve como origem a sensação de insegurança no Brasil. “Pessoalmente, não fomos assaltados, mas a empresa no Paraná foi roubada mais de 10 vezes. Ficamos com medo, especialmente, porque tenho duas filhas”, frisa.

Ele vendeu a fábrica que tinha no Brasil e cruzou o Atlântico em 2016. “O investimento inicial para abrir o negócio em Portugal foi de 500 mil euros (R$ 3 milhões). Não foi fácil, devido ao excesso de burocracia. Somente em 2019 começaram a aceitar nossos produtos. Mas, em 2020, veio a pandemia do novo coronavírus e ficou muito difícil. Em 2021, construímos a fábrica, com um investimento de 1,2 milhão de euros (R$ 7,2 milhões)”, lembra.

Franco relata que todo o investimento foi feito com recursos trazidos do Brasil, mas, neste momento, a empresa já funciona com capitais que ela própria gera. "Houve momentos difíceis, sobretudo, quando construímos a fábrica, em 2021. Naquele período, um euro chegou a valer R$ 7”, assinala.

Mercado

Franco descreve a atuação de sua empresa no mercado: “Em Portugal, as vendas são apenas para supermercados e distribuidores, o que eles chamam aqui de grossistas (atacadistas). Nós não vendemos para o que aqui chamam de horeca”, explica. Horeca é a sigla que significa hotéis, restaurantes e cafetaria.

O empreendedor afirma que existem cinco concorrentes de dimensão industrial em Portugal na produção de pães de queijo. “Contudo, nenhum com o nosso tamanho”, ressalva.

Há, ainda, a produção artesanal, que, na avaliação dele, não tem a mesma qualidade do pão de queijo que sai de sua fábrica, mas tem a vantagem da proximidade. "Muitas vezes, o cliente conhece a pessoa que vende, o que torna a venda mais fácil”, observa.

Como forma de conseguir manter a vantagem frente à concorrência, ele vai acrescentar novos sabores e recheios ao pão de queijo. "Ter um produto diferente pode nos ajudar a vender para clientes que já têm outro fornecedor e que queiram ver como os consumidores vão reagir à novidade", afirma.

Portugal x Brasil

Quando vivia no Brasil, Franco também trabalhava na comercialização de bens alimentares. Além de pão de queijo, açaí e polpas de frutas, o catálogo incluía pães, legumes e peixes congelados. Ao atravessar o Atlântico, decidiu reduzir a gama de produtos.

Uma das grandes diferenças que sentiu foi na forma de organizar a empresa. “Em Portugal, a visão da empresa é diferente. No Brasil, tínhamos armazém próprio, caminhões. Agora, a logística é terceirizada. Tudo é mais leve”, relata.

Na Europa, a marca própria tem qualidade. Às vezes, até mais qualidade do que as marcas tradicionais. No Brasil, na produção para as marcas próprias, as empresas chegavam a pedir para usar ingredientes mais baratos.

“Se formos tentar fazer da maneira como fazíamos no Brasil, dará errado. Foi por isso que tive tantos problemas nos primeiros dois anos em Portugal”, reconhece.

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