Abriu um “restaurante” para abelhas na Mealhada

A iniciativa insere-se no projecto BeeFood, liderado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra. As acções de intervenção no Luso tiveram início no passado mês de Abril.

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O projecto BeeFood tem como grande objectivo criar campos de alimentação não só para abelhas, mas para todas as espécies polinizadoras Gabinete de Comunicação e Imagem da CM Mealhada
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O principal objectivo da operação passou por transformar cerca de 1,28 hectares com a plantação de espécies autóctones e melíferas, erradicando as invasoras Gabinete de Comunicação e Imagem da CM Mealhada
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Terreno antes da intervenção Gabinete de Comunicação e Imagem da CM Mealhada
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Terreno após a intervenção Gabinete de Comunicação e Imagem da CM Mealhada
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A importância das abelhas é já sobejamente conhecida. Mais importante que a produção de mel e cera, o seu papel no planeta como um dos principais polinizadores é fundamental. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 75% das espécies agrícolas para a alimentação dependem das abelhas e dos seus voos de flor em flor. Mas tem-se verificado um grande declínio dos insectos polinizadores a nível global. Para as defender, surgiu um projecto no Centro do país que cumpre dois objectivos: para criar campos de alimentação para as abelhas, são desmatadas zonas até agora cobertas com espécies invasoras, como é o caso da acácia.

O projecto BeeFood, liderado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, envolve já vários municípios, de Penacova à Mealhada. Nesta zona estão a surgir espaços destinados a alimentar este insecto, que habita o planeta há mais de 100 milhões de anos e que tanta importância tem para o equilíbrio dos nossos ecossistemas. Esta transformação é alcançada através da rearborização com espécies autóctones e semeando plantas herbáceas perenes.

Na Mealhada, a luta pela sua preservação está já no terreno desde Abril. “Abraçámos de imediato o projecto BeeFood porque era - e é – algo que nos preocupa muito", explica-nos Ricardo Santos, vereador da Agricultura, Floresta e Espaços Verdes do município. Segundo adianta, o que os moveu foi a defesa das abelhas assim como do território, tornando-o mais resiliente a incêndios. Por outro lado, garantem matéria-prima para uma actividade com grande implantação na região, já que ali existem muitos apicultores desta grande região, estando mesmo na Mealhada a sede da Associação dos Apicultores do Litoral Centro.

A iniciativa do “campo de alimentação para as abelhas” passa por converter áreas actualmente dominadas por espécies lenhosas exóticas, como é o caso da acácia de eucalipto, "em campos de alimento para polinizadores, com particular atenção às abelhas melíferas”, refere o autarca. Erradicando algumas destas plantas, abrem-se clareiras com espécies que sirvam de alimento às abelhas para que estas possam cumprir a sua missão.

“Por outro lado – e não menos importante - este projecto leva a um aumento da biodiversidade, com a plantação de espécies autóctones e criando uma barreira natural contra incêndios, reduzindo esse risco, especialmente junto de habitações, como é o caso do Luso”, aponta Ricardo Santos.

Na Mealhada, o campo foi feito numa área de 1,28 hectares na encosta da Serra do Buçaco, perto do Parque de Campismo Municipal do Luso. Após a limpeza e erradicação de invasoras, como é o caso das acácias, o projecto plantou espécies lenhosas melíferas, como o medronheiro ou os carvalhos, além de ter sido feita uma sementeira de flores perenes, sendo preservadas as espécies autóctones que se encontram no local, principalmente sobreiros e pilriteiro.

A reacção da população

Os campos de alimentação de abelhas devem ser encarados como fulcrais para a sustentabilidade ecológica e económica das comunidades, “ao mesmo tempo em que promovem a educação ambiental e, até mesmo, o bem-estar social”, sublinha o vereador.

A população pode reagir com algum receio em relação à eventual concentração destes animais e a da Mealhada não foi excepção. “Às tantas esperavam ver ali qualquer instalação específica, mas depois perceberam a importância da limpeza das invasoras e agora, com o tempo, verificaram que as novas espécies plantadas darão um cenário diferente e captarão mais espécies polinizadoras para os nossos territórios”, explica Ricardo Santos.

Têm sido vários alertas para a necessidade de salvar as abelhas dada a sua importância para a saúde dos nossos ecossistemas. Ricardo Santos refere a importância deste tipo de projectos: “Em primeiro lugar, temos a conservação das abelhas, numa altura em que são várias as ameaças que as põem em risco. Desta forma, contribuímos para garantir a polinização de culturas agrícolas (e não só), a biodiversidade e os ecossistemas, garantindo, simultaneamente a produção de mel e de outros produtos desta fileira. Finalmente, a iniciativa também contribui para a educação e sensibilização da população para a importância de tudo isto”.

Por toda a região do Centro abrangida pelo BeeFood, o projecto tem convertido áreas florestais sem gestão, com elevado risco de incêndios, criando assim descontinuidades na paisagem, o que permite reduzir a velocidade de propagação das chamas. Está agora a ser desenvolvido em Penacova, envolvendo também os municípios de Mira, Lousã, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra e Soure. A iniciativa representa um investimento total de 62.242,34 euros, sendo que 50 mil euros foram financiados pelo Fundo Ambiental. Abrange um total de 13,63 hectares. O projecto conta com a colaboração do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra.

Texto editado por Ana Fernandes