Ventura diz que não há multas para quem não limpa terrenos mas GNR aplicou mais de 26 mil

André Ventura vincou que tinha “a certeza”, mas os dados da GNR dizem que, até Abril, desde 2020, já se tinham arrecadado 2,5 milhões de euros nas multas aplicadas.

Foto
O presidente do Chega falou aos jornalistas durante a visita a uma quinta em Coimbra afectada pelos incêndios PAULO NOVAIS / LUSA
Ouça este artigo
00:00
03:06

O presidente do Chega, André Ventura, afirmou esta quarta-feira que não há multas a proprietários que não limpam os seus terrenos, mas a GNR aplicou mais de 26 mil contra-ordenações entre 2018 e 2023.

"Está previsto [aplicar multas a quem não limpa terrenos], mas não está efectivado", afirmou André Ventura, que falava aos jornalistas após uma visita a uma exploração de mirtilos na freguesia de Póvoa de Midões, em Tábua, um dos concelhos do distrito de Coimbra afectados pela vaga de incêndios que assolou recentemente as regiões Centro e Norte do País.

Questionado pela agência Lusa sobre o facto de dizer que não havia multas a proprietários que não limpavam os seus terrenos, André Ventura vincou que tinha "a certeza". "Sei do que é que estou a falar. Sei bem que a ineficácia foi absoluta e a culpa é do Governo de António Costa", vincou.

No entanto, em Abril, a GNR afirmava à Lusa que tinham sido registadas 26.140 contra-ordenações relacionadas com a falta de limpeza de terrenos, entre 2018 e 2023, tendo arrecadado, desde 2020, cerca de 2,5 milhões de euros nas multas aplicadas.

Já relativamente ao presente ano, a GNR tinha registado, até Maio, 10.251 sinalizações por falta de limpeza de terrenos agrícolas e florestais, que ainda não tinham levado à aplicação de contra-ordenações (só são efectivadas a partir de Junho).

"Sei do que estou a falar, se não, não diria, porque sei do que estou a falar", vincou André Ventura, quando questionado pela Lusa.

Durante a visita e em declarações aos jornalistas, o líder do Chega aproveitou a visita para voltar a defender penas mais pesadas para quem pratica o crime de incêndio florestal, dando o exemplo da Califórnia, onde pode ser aplicada "a prisão perpétua".

Depois de a agência Lusa ter confrontado André Ventura com o facto de aquele estado americano continuar a ser afectado por incêndios apesar de uma moldura penal mais grave, o líder do Chega vincou que, mesmo havendo incêndios, "não são os mesmos" a provocá-los. "Se calhar, haveria muitos mais se eles estivessem cá fora", frisou.

André Ventura considerou que há problemas a médio prazo que têm de ser resolvidos, nomeadamente o ordenamento do território e o tipo de paisagem florestal que existe no país, mas defendeu que, no curto prazo, será importante aumentar a moldura penal de quem comete crimes de incêndio florestal.

O líder do Chega defendeu ainda uma comissão de inquérito para abordar as questões dos incêndios.

Para além de ter estado na exploração de mirtilos, André Ventura visitou ainda a sede dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Oliveirinha, no concelho de Tábua, corporação que perdeu três operacionais na semana passada, no combate às chamas.

Nove pessoas morreram e mais de 170 ficaram feridas em consequência dos incêndios que atingiram na passada semana sobretudo as regiões Norte e Centro de Portugal. A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil contabilizou oficialmente cinco mortos nos fogos.

Os incêndios florestais consumiram, entre os dias 15 e 20 de Setembro, cerca de 135 mil hectares, totalizando este ano a área ardida em Portugal quase 147 mil hectares, a terceira maior da década, segundo o sistema europeu Copérnico.