União Nacional pressiona política de imigração francesa depois de morte de jovem

Suspeito pelo assassinato de uma estudante em Paris foi detido na Suíça. Ministro do Interior, Bruno Retailleau, admitiu “mudar as regras” sobre imigração.

Foto
Bardella e Le Pen, líderes da União Nacional, atacaram governo francês devido à política de aproveitação Gonzalo Fuentes / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:03

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Governo francês está sob pressão do partido de extrema-direita União Nacional para fortalecer os controlos sobre a imigração no país depois de um jovem marroquino ter sido detido na Suíça como suspeito pela morte de uma estudante francesa de 19 anos.

“Chegou a altura de este Governo agir: os nossos compatriotas estão zangados e não vão poupar palavras”, escreveu o líder da União Nacional, Jordan Bardella, na rede social X, depois de acusar o jovem marroquino de 22 anos de ter “roubado” a vida da jovem.

“A nossa justiça é negligente, o nosso Estado é disfuncional e os nossos dirigentes deixam os franceses viver com bombas humanas”, acrescentou o dirigente.

As principais críticas da extrema-direita relacionam-se com o facto de o detido ter sido condenado em 2021 por uma violação em 2019, tendo sido sentenciado com uma obrigação de sair do território francês (OQTF, na sigla francesa), que nunca fora executada.

O repto de Bardella teve eco no Governo francês, principalmente no ministro do Interior, Bruno Retailleau, parte da linha mais à direita do Governo e do seu partido, Os Republicanos.

“Cabe-nos a nós, enquanto responsáveis públicos, recusarmo-nos a aceitar o destino e desenvolver o nosso arsenal jurídico para proteger o povo francês – porque esse é o primeiro dos seus direitos e, por conseguinte, o primeiro dos nossos deveres”, prometeu Retailleau, que admitiu ainda mudar as normas em relação a este assunto.

“Se temos de mudar as regras, mudemo-las”, sublinhou o ministro do Interior.

À esquerda, o homicídio foi também condenado. Sandrine Rousseau, deputada dos Ecologistas, afirmou na rede social X que “este feminicídio merece ser julgado e severamente punido” e alertou para os aproveitamentos da extrema-direita.

“A extrema-direita vai tentar aproveitar-se deste facto para espalhar o seu ódio racista e xenófobo”, acrescentou.

A relação entre o novo Governo – apoiado por partidos do centro à direita e chefiado por Michel Barnier com a União Nacional tem causado divisões dentro do próprio Governo.

O ministro da Economia e das Finanças, Antoine Armand, afirmou na terça-feira que iria receber “todas as forças políticas representadas no Parlamento” para consultas com o objectivo de resolver a situação “grave” do défice orçamental do país, que considerou “um dos piores” da história do país.

Porém, Armand diz que não iria trabalhar com partidos fora do “arco republicano”, expressão utilizada na política francesa que exclui partidos considerados mais extremos, como a União Nacional e, segundo os macronistas, o partido de esquerda França Insubmissa.

“A União Nacional, contra a qual fomos eleitos e que formámos uma frente republicana, não lhe pertence [ao arco republicano] ", afirmou Armand.

Puxão de orelhas

“Quando ouço o sr. Armand esta manhã a explicar que a sua porta estará sempre fechada aos deputados do RN, quando temos o Orçamento à porta, acho que o primeiro-ministro tem de ir explicar a todos os seus ministros qual é a filosofia do seu Governo, porque parece que alguns deles ainda não perceberam bem”, criticou a líder parlamentar e principal figura da União Nacional, Marine Le Pen, citada pela France24.

E assim o fez. O fecho de portas de Armand à União Nacional valeu uma repreensão de Michel Barnier, que se tem demonstrado mais aberto a trabalhar com o partido de Le Pen, tendo Barnier esclarecido a sua abertura numa chamada com a líder parlamentar.

Segundo a FranceInfo, Armand foi repreendido “de forma clara e firme” pelo primeiro-ministro francês, algo que levou a um retroceder da sua posição.

Numa declaração emitida pelo Ministério do Interior, o gabinete esclareceu que, “de acordo com a política definida pelo primeiro-ministro e tal como foi referido no seu discurso de abertura, Antoine Armand, ministro da Economia, das Finanças e da Indústria, receberá todas as forças políticas representadas no Parlamento”.

No entanto, Armand não foi o primeiro ministro do Governo de Barnier que se expressou contra os acordos contra a União Nacional.

Em resposta à polémica criada dentro do Governo, a ministra da Ecologia, Agnès Pannier-Runacher, criticou a ligação à União Nacional e aproveitou para se distanciar do partido de Bardella e Le Pen.

“A União Nacional apresenta ideias perigosas para o pacto republicano”, disse a ministra à televisão TF1, acrescentando que não partilha dessas “ideias”.

Sugerir correcção
Ler 23 comentários