Alterações climáticas duplicam a probabilidade de cheias como as da Europa Central, diz relatório

Relatório da World Weather Attribution diz que os quatro dias de precipitação provocados pela tempestade Boris foram os mais intensos jamais registados na Europa Central. Cheias causaram 24 mortos.

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Pessoas num barco numa rua inundada perto do rio Kwisa na aldeia de Osiecznica, no oeste da Polónia, 24 de Setembro de 2024 LECH MUSZYNSKI / EPA
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As alterações climáticas tornaram duas vezes mais provável a ocorrência de chuvas como as que causaram cheias devastadoras na Europa Central este mês, segundo um relatório publicado na quarta-feira, enquanto os seus autores científicos exortam os decisores políticos a agir para travar o aquecimento global.

As piores inundações que atingiram a Europa Central em pelo menos duas décadas causaram 24 mortos, cidades cobertas de lama e detritos, edifícios danificados, pontes desmoronadas e uma factura de reparações de milhares de milhões de dólares para as autoridades.

O relatório da World Weather Attribution, um grupo internacional de cientistas que estuda os efeitos das alterações climáticas em fenómenos meteorológicos extremos, concluiu que os quatro dias de precipitação provocados pela tempestade Boris foram os mais intensos jamais registados na Europa Central.

Segundo o grupo, as alterações climáticas tornaram estas chuvas pelo menos duas vezes mais prováveis e 7% mais intensas. Desde 13 de setembro, as regiões da Europa Central e Oriental têm sido gravemente afectadas por inundações devastadoras causadas pela tempestade Boris.

“Mais uma vez, estas inundações põem em evidência os resultados devastadores do aquecimento provocado pelos combustíveis fósseis”, declarou em comunicado Joyce Kimutai, investigadora do Grantham Institute do Imperial College de Londres e co-autora do estudo.

“Até que o petróleo, o gás e o carvão sejam substituídos por energias renováveis, tempestades como a Boris desencadearão chuvas ainda mais intensas, provocando inundações que afectam a economia”.

O relatório afirma que, embora a combinação de padrões meteorológicos que causou a tempestade - incluindo o ar frio que se deslocou sobre os Alpes e o ar muito quente sobre o Mediterrâneo e o Mar Negro - seja invulgar, as alterações climáticas tornaram estas tempestades mais intensas e mais prováveis.

De acordo com o relatório, prevê-se que uma tempestade deste tipo ocorra, em média, uma vez em cada 100 a 300 anos no clima actual, com um aquecimento de 1,3 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

No entanto, o relatório afirma que tais tempestades resultarão em pelo menos 5% mais chuva e ocorrerão com cerca de 50% mais frequência do que actualmente se o aquecimento em relação aos níveis pré-industriais atingir os 2 graus Celsius, o que se espera que aconteça na década de 2050.