A luta estudantil é a luta dos cêntimos?

Começa com uns cêntimos na refeição, e depois é o possível descongelamento da propina, e depois são as residências que aumentam os seus preços.

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Megafone P3 Matilde Fieschi
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Ao longo dos tempos, temos visto sucessivas tentativas hostis de aumentos do custo de vida e, consequentemente, do custo de um diploma do ensino superior. Mais recentemente, posso dar o exemplo da Universidade Nova de Lisboa que, em consonância com a Universidade de Lisboa, conseguiu, espezinhando a vontade dos estudantes, subir o preço da refeição para os três euros.

Ora, esta luta dá que falar, e face ao aumento de onze cêntimos que inquietou tanto estudante, surge a questão: será a reivindicação estudantil a luta dos cêntimos?

Rapidamente desconstruímos esta noção: não é a substância que aqui está em questão, é a atitude e o princípio subjacente. Enquanto estudante e enquanto sujeito com espírito crítico, não posso ser complacente e submisso com quem, cêntimo a cêntimo, quer distanciar ainda mais todos os estudantes do Ensino Superior. O muro já está alto, e não consigo aceitar nem mais um tijolo.

Porque a verdade é que começa com uns cêntimos na refeição, e depois é o possível descongelamento da propina, e depois são as residências que aumentam os seus preços. “É só uns cêntimos”, dizem eles, não se apercebendo que a pequena bola de neve que lançaram tem o potencial para se tornar numa avalanche, e deixar alunos, bons alunos, à porta do Ensino Superior.

Ao permitir os pequenos retrocessos sociais no acesso e na frequência no Ensino Superior estamos a abrir uma porta que, enquanto estudantes, não conseguimos controlar. Assim sendo, a única atuação que interessa aos estudantes é (tentar) impedir todo e qualquer retrocesso, por mais insignificativo que pareça ser. Porque, neste tipo de casos, não podemos olhar para o que é, temos de olhar para o que pode vir a ser.

Bem sabemos também que este tipo de retrocessos encontra a sua origem toda no mesmo lugar: o subfinanciamento crónico do Ensino Superior, "resolvido" por alguns com um regime fundacional que afasta os estudantes e aproxima o investimento privado, solução que não resolve estes problemas, e tira o poder de decisão dos estudantes no processo.

Está na hora de dar um passo atrás e de mudar as atuações. Acabem-se os votos a favor e as abstenções das Associações, acabe-se a ambiguidade nas posições e a mão mole nas negociações, acabem-se os retrocessos no acesso ao Ensino Superior.

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