Segundo Rui Costa, João Neves não queria sair do Benfica, mas... quis sair do Benfica

O presidente “encarnado” voltou a ser críptico nas explicações para a saída de João Neves. Sobre o novo treinador, aponta que este plantel, feito por Schmidt, poderia ter sido feito por Bruno Lage.

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Rui Costa, presidente do Benfica MIGUEL A. LOPES / LUSA
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Foi em ambiente controlado, aos microfones da BTV, que Rui Costa, presidente do Benfica, disse nesta terça-feira que João Neves queria continuar no Benfica, mas que ele quis sair do clube. Confuso? Por um lado, Rui Costa disse que “o jogador não queria sair do Benfica”. Por outro, disse que “eram valores inevitáveis para o jogador e para o clube”.

Se o que Rui Costa disse for verdade absoluta, então João Neves quis, em rigor, sair do Benfica quando leu os valores na proposta do PSG – e isso não é crime algum, mas parece haver algum "controlo de danos" nas explicações que vão sendo dadas.

O líder do clube “encarnado” prestou-se à habitual análise ao mercado de transferências, uma promessa eleitoral que vem cumprindo, mesmo com datas variáveis. No último mercado de Verão, fê-lo dia 5 de Setembro, a seguir a um 4-0 ao Vitória de Guimarães. Neste mercado, apostou no dia 24, no pós-3-0 ao Boavista. O que não muda é que as perguntas são feitas por um jornalista da casa, já que o “evento” é vedado ao resto da imprensa, sem que tenha havido, na globalidade, qualquer tipo de contraditório durante a entrevista.

Eram 19h04 – hora simbólica que replica o 1904 de fundação do clube – quando começou a entrevista e, durante um pouco mais de meia hora, Rui Costa tentou satisfazer a curiosidade alheia sobre as opções tomadas no mercado.

Ainda sobre Neves, Rui Costa tratou este negócio como uma inevitabilidade, por considerar que 60 milhões de euros, no contexto actual, não são desdenháveis. “Fomos rejeitando propostas que tinham chegado mais cedo e de menor valor e fomos fazendo subir as propostas. O João não queria sair do Benfica, mas há números que se tornam inevitáveis para o jogador e para o clube. Não estamos aqui para bater recordes, mas sim para valorizar os nossos jogadores. Se num outro ano os 60 milhões eram baixos, na actualidade está no top cinco das transferências mais altas deste mercado”, explicou.

Neres quis sair

É curioso que Rui Costa, logo na primeira intervenção, se tenha prestado a uma retórica que, geralmente, treinadores, jogadores e presidentes gostam de evitar: a fatalidade dos resultados.

Habitualmente, gostam de falar do processo, da evolução, do trabalho, do contexto, da conjectura, da arbitragem, da sorte, entre outros factores. Mas, desta vez, o trabalho do Benfica vai poder ser analisado, no final da temporada, pela bitola dos resultados – palavra de presidente.

“O trabalho foi bem realizado, agora os resultados vão ditar se foi bem ou mal feito”, apontou, sobre a construção de um plantel que crê ser mais forte do que no ano anterior.

No caso de David Neres, negócio visto por muitos como um desperdício de talento por parte do clube, Rui Costa justificou com quatro prismas: idade do jogador, vontade já antiga de sair do clube, estatuto de titular ocasional e falta de polivalência.

“Não deixa de ser um jogador de 27 anos e que oscilou muito na titularidade. Já no ano passado surgiram propostas por ele e ele queria mudar de ares. Veio o Kerem Aktürkoglu, que joga nos dois flancos, ao contrário do Neres, que gostava mais de jogar pela direita. Aceitámos a saída do Neres por um valor substancial e por um jogador que não era titular indiscutível no Benfica". O que não foi perguntado é se a vontade do jogador, que é legítima, não pode ter sido desencadeada por má gestão técnica do seu talento.

No caso de Marcos Leonardo a transferência não carecia de especiais explicações. Tal como disse Rui Costa, “ter uma proposta de 40 milhões por um jogador que é suplente é quase inevitável”.

Chegada de Renato Sanches

No tema das contratações, Rui Costa usou os jogos mais recentes para justificar a compra de Aktürkoglu, “surfando” a onda dos golos e assistências. “Perdemos um criativo que privilegiava jogar pela direita e precisávamos de um jogador com maior preponderância ao jogar em várias posições. Nos três jogos que fez deixou marca nos três”, apontou.

A explicação não surpreende, mas mais inesperada foi a forma como o presidente não teve pudor em prever o papel de Aursnes. Crê que com a compra de Aktürkoğlu é possível “libertar o Aursnes para outras posições”, o que sugere que há vontade de Bruno Lage para não repetir a presença do norueguês na ala – soube-se mais agora do que da boca do próprio técnico.

Sobre Renato Sanches, Rui Costa foi mais curto. “Com a saída do João Neves havia a necessidade de colmatar a posição. Perdemos um jogador da casa e queríamos contratar outro jogador da casa. Os últimos anos não tiveram o mesmo fulgor, mas o Renato tem muita fome de voltar a ser o Renato. Acredito que esta é a casa ideal para recuperar e para nos dar muito, sei do sentimento com que ele joga com esta camisola. Hoje está aleijado, mas tenho confiança que ainda vamos ter muito Renato este ano".

E faz sentido contratar um jogador com tantos problemas de lesões, sobretudo depois de más experiências em jogadores desse tipo? Não sabemos, porque sobre isso não houve pergunta.

Kaboré entrou num jogo difícil

Sobre Kaboré, que entrou muito mal com o Estrela Vermelha, na estreia pelo clube, Rui Costa diz que tem de haver paciência, porque é um jogador muito jovem, e aponta: “Sei que não entrou da melhor forma no primeiro jogo, fruto de muito nervosismo, também não estava um jogo fácil...”.

O Benfica estava a jogar frente a uma equipa claramente mais fraca e já estava em vantagem no marcador – e não por um, mas por 2-0. Dificilmente haveria melhor contexto para lançar um jogador, mas também ficaremos sem saber que resposta haveria a esse detalhe.

Sobre o facto de ter um treinador que não construiu o plantel, esperava-se que Rui Costa deixasse esse factor para uso futuro, em caso de insucesso, mas o presidente “encarnado” não quis guardar esse trunfo, dizendo que poderia ser um plantel de Lage.

“Quando se faz um plantel, faz-se à imagem do treinador, neste caso para Roger Schmidt. Sabia que este plantel se moldava muito à imagem do Bruno Lage, sei como ele gosta de ter os plantéis montados e o plantel podia ter sido construído pelo Bruno Lage, pelo que são as características dos jogadores. Acho que ele está satisfeito”, apontou.

Analisando as ideias de Schmidt e Lage não é fácil crer que construiriam o mesmo tipo de plantel, mas Rui Costa não fez questão de guardar essa carta na manga para mais tarde.

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